Silêncio de ouro

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Porque ser surdo é ser diferente mas não deficiente.

Quando aprendemos nas escolas os cinco sentidos e as professoras nos perguntam quais achamos que nos fazem mais falta, a resposta vem rápida: a vista e a audição. Parece-nos que sem estes dois sentidos nos falta algo para comunicar com o mundo. E é verdade. Mas a falta de um destes sentidos não é motivo para que um surdo ou um cego sejam encerrados em conchas especiais.

Os surdos proclamam o orgulho de serem diferentes, de alcançarem o estatuto de minoria linguística e cultural, mas nunca de serem chamados deficientes.

Uma em cada mil criança que nasce, é um bebé surdo profundo e a incidência tende a crescer, devido ao aumento dos nascimentos prematuros, cujas sequelas neurológicas de bebés que sobrevivem com apenas 500 gr., a mais frequente é a surdez.

No nosso país, a comunidade surda ultrapassa os 115 mil portugueses, dos quais cerca de 50 mil são surdos profundos, com um limiar auditivo inferior a 110 decibéis e recuperam de um atraso de mais de vinte anos em matéria de educação e de direitos para os surdos. Apenas desde 1997 foi reconhecida constitucionalmente a linguagem gestual, e entraram no dia-a-dia as novas tecnologias da informação sem som, as videoconferências, os chats, os telefones de texto, etc.

Um dos problemas para a detecção a tempo dos problemas de surdez, tem a ver com a falta de possibilidade de antecipação do diagnóstico. A falta de audição não perturba o desenvolvimento do bebé e durante o primeiro ano de vida não é detectável, uma vez que se tratam de crianças que estão mais alerta do que as outras para diferentes estímulos e vibrações, dando a impressão que ouvem.

A surdez nos recém-nascidos pode ser provocada por factores de hereditariedade, infecções a que a mãe enquanto grávida tenha estado exposta, como a rubéola, a sífilis, a herpes, ou toxoplasmose, e ainda por anomalias craniofaciais, medicação ototóxica, meningite bacteriana e ventilação mecânica durante cinco dias ou mais, para além do baixo peso à nascença.

Os surdos negam a categorização de deficientes, mas requerem ser encarados como uma minoria, possuidora de uma linguagem e cultura próprias e contrapõem que são os ouvintes que fazem da surdez um problema. A maioria de casais casam entre surdos, mas apenas 4% das crianças surdas têm pais surdos. Mas os pais ouvintes encaram mais problemas com as crianças surdas, porque são poucas as escolas, que não estejam viradas para o ensino especial, que tenham preparação e professores para trabalharem com crianças surdas.

 

A linguagem gestual foi durante muito tempo tida como nociva para a aprendizagem da criança surda. Os gestos eram mesmo castigados com reguadas, mesmo nos colégios para surdos, onde as aulas se limitavam a recitar sons e sílabas. Apenas na ausência dos professores a linguagem gestual era utilizada e sobreviveu.

Segundo os utilizadores da linguagem gestual portuguesa, esta é mais parecida com a sueca, já que cada país tem o seu tipo diferente de linguagem, e até mesmo cada zona do país tem os seus sotaques.

Portugal conta actualmente com 40 intérpretes em todo o país, com formação que passa pelo bacharelato na Escola Superior de Educação de Setúbal, a aulas dadas por Associações como as de Surdos de Almada e no Seixal. Não se trata, no entanto de profissão com uma grande saída profissional, uma vez que o próprio Estado português não tem preparação nas instituições para receber surdos e intérpretes.

Só agora o Ministério da Educação está a preparar 26 unidades especiais para receber alunos surdos em escolas regulares, permitindo um ensino bilingue, com prioridade para o gesto e a escrita portuguesa.

 

Porque ser surdo é ser diferente mas não deficiente.

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