Encarar a Epilepsia

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Epilepsia
Epilepsia

A epilepsia tem como ponto de partida uma perturbação do funcionamento do cérebro devido a uma descarga anormal de um determinado número de neurónios cerebrais.

A epilepsia afecta mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo, calculando-se que, em cada mil portugueses, 4 a 7 sofram desta doença. As estatísticas apontam ainda para que a incidência da doença nos países industrializados seja de 40 a 70 casos em cada 100.000 habitantes, número que sobe para os 100 a 190 em países em vias de desenvolvimento, sendo mais comum em jovens até aos 25 anos e depois dos 65 anos.

As primeiras referências sobre epilepsia surgiram por volta do ano 2000 A.C., na antiga Babilónia, em escritos encontrados em Sakikku e nelas eram feitas restrições ao casamento de pessoas epilépticas, embora a doença tivesse um carácter sagrado.

No Antigo Egipto, a doença estava representada em papiros e era atribuída à actuação de seres maléficos. Um dos primeiros tratamentos cirúrgicos para a epilepsia consistia em abrir um buraco no crânio, para os maus espíritos poderem sair.

Cerca de 400 A.C., Hipócrates, o pai da Medicina, afirmou que a causa da epilepsia não estava em espíritos malignos, mas no cérebro, tentando desfazer a ideia de uma doença sagrada como era também considerada pelos gregos. Aliás, a etimologia da palavra é grega (epilhyia) e significa ‘surpresa’, ‘ataque’ ou ‘cair sobre si mesmo’ e os gregos consideravam que se tratava de um deus que entrava no corpo de um humano, privando-o dos sentidos.

Por sua vez, os romanos designavam-na de ‘Mal Comicial’, devido ao facto de se suspenderem os comícios cada vez que um dos participantes sofria de um ataque, ficando-se a aguardar um sinal de bom augúrio para se recomeçar o mesmo. Os hebreus acreditavam que cuspir sobre um corpo em convulsões obrigava o demónio a sair dele e, tal como a cultura greco-romana, pensavam que as fases da lua provocariam as crises epilépticas e para os árabes as crianças concebidas ou nascidas durante a lua cheia correriam o risco de ser epilépticas.

Na Idade Média a epilepsia era considerada uma doença mental, contagiante e maléfica, que tinha de ser combatida com benzeduras e rezas, sendo S.Valentim o patrono dos epilépticos. Foi apenas em 1873 que o neurologista inglês Jackson estabeleceu que a epilepsia se devia a descargas anormais das células nervosas. O primeiro medicamento usado para a epilepsia, o brometo de potássio, foi descoberto em, 1857 por Sir Charles Lokock, parteiro da rainha Vitória.

Até recentemente os doentes de epilepsia eram fechados em casas especiais, impedidos de contrair matrimónio e sujeitos a esterilizações forçadas. Certo tipo de crendices dura ainda até aos nossos dias em zonas menos adiantadas em informação, mas também noutras grandes civilizações. Um exemplo? Apenas em 1982 foi abolida a lei que proibia o casamento de epilépticos.

O país? Estados Unidos da América… Qualquer pessoa pode sofrer um ataque epiléptico que se pode ficar a dever a um choque eléctrico, a deficiência em oxigénio, a um traumatismo craniano, à baixa do açúcar no sangue, privação de álcool, abuso da cocaína (1 em cada 20 pessoas têm uma única crise isolada durante a sua vida).

As crianças mais pequenas podem ter convulsões quando têm febre, as chamadas ‘convulsões febris’, mas que não representam epilepsia. Este termo apenas se emprega quando as crises têm tendência a repetir-se, espontaneamente, ao longo do tempo. Existem várias causas para a epilepsia porque são vários os factores que podem lesar os neurónios ou o modo como estes comunicam entre si.

Os mais frequentes são os traumatismos cranianos que deixaram cicatrizes cerebrais; os traumatismos de parto; certas drogas ou tóxicos; interrupção do fluxo sanguíneo cerebral causado por acidente vascular cerebral ou problemas cardiovasculares; doenças infecciosas ou tumores. Embora possa ser provocada por uma doença infecciosa a epilepsia não é contagiosa e, na maioria dos casos, não pode ser transmitida aos filhos que apenas a podem herdar se já tiverem tendência para a doença.

As crises epilépticas podem ser desencadeadas devido a mudanças súbitas da intensidade luminosa ou luzes a piscar (alguns doentes têm ataques quando vêem televisão, jogam no computador ou frequentam discotecas), a privação de sono, ingestão alcoólica ou de drogas, febre, ansiedade e cansaço, e alguns medicamentos. Tipos de crises epilépticas:

  • Crise generalizada (grande mal), dura menos de cinco minutos e o doente sofre uma queda súbita, rigidez dos membros, seguida de convulsões, paragem da respiração e apresenta as faces arroxeadas.
  • Crise de ausência (pequeno mal), é mais comum em crianças e caracteriza-se por ser acompanhada de um pestanejar e acto de mastigar, durante o qual o doente parece ficar ausente do mundo.
  • Crise atónica – ocorre uma queda súbita, sem perda de conhecimento e 10 a 15 minutos depois o doente já consegue caminhar.
  • Crise parcial simples apresenta convulsões limitadas a uma zona do corpo, sem perda de conhecimento, seguida por uma sensação de formigueiro ou picadas percorrendo o corpo. Ocorre uma visualização ou audição de coisas ou sons que não estão presentes, ou sensações de medo ou prazer inexplicáveis, que podem ser acompanhadas de cheiros ou gostos desagradáveis sentidos pelo doente, sem nada que os provoque.
  • Crise parcial complexa é caracterizada por uma paragem seguida de movimentos mastigatórios e automatismos com gestos desajeitados. Pode deambular e resistir ao ser agarrado por outras pessoas. Dura alguns minutos.
  • Crise de mal epiléptico é um estado em que as convulsões se sucedem umas às outras sem haver recuperação de consciência e que pode mesmo ser mortal ou provocar lesões cerebrais. Além das diferentes causas e características das crises, as epilepsias distinguem-se também pela frequência com que as crises se repetem e na facilidade com que são controladas. Há formas de fácil controlo que, muitas vezes, deixam mesmo de necessitar de tratamento e outras que, apesar do tratamento mais adequado, mantêm crises mais ou menos frequentes.

A epilepsia não impede ninguém de levar uma vida normal, com os devidos cuidados. A prová-lo está o número de epilépticos famoso como Alexandre, o Grande, Júlio César, Sócrates, Maomé, Berlioz, Nobel, Pascal, Paganini, Moliere, Dickens, Flaubert, Dostoievsky, Maupassant, Lord Byron entre muitos outros.

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