Monsanto na SIC de Ruy Guerra

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Monsanto
Monsanto

Monsanto um filme de Ruy Guerra

Monsanto

Monsanto é o retrato fiel da guerra de Àfrica tatuada na memória, corpo e imagem de todos aqueles que por lá passaram, ou que fizeram o seu passado dessas recordações.

A SIC apresenta hoje, a ficção nacional escrita por Vicente Alves do Ò, e realizada por Ruy Guerra. A história da produção portuguesa, dá mais um passo, através de um filme centrado numa forte vivência pessoal do seu guionista e, repleto de experiências marcantes que remontam até à guerra em Àfrica. Uma longa-metragem, com sabor a dor, mágoa e conflitos por resolver.

“Monsanto”, é a viagem a um passado negro, de perda e conflitos. O retrato fiel da guerra de Àfrica tatuada na memória, corpo e imagem de todos aqueles que por lá passaram, ou que fizeram o seu passado dessas recordações.

O Instituto de Cinema Audiovisual e Multimédia, conjuntamente com a SIC, produziram este projecto, baseado num desfile de imagens com o forte sabor a um real português marcante e, inscrito num conjunto de factos dolorosos e chocantes.

Este segundo telefilme da SIC, tem início com o cenário de fundo da travessia da paisagem alentejana e, é na nostalgia da alma de uma vila perdida no Alentejo que a trama inicia o seu começo. A segunda parte do filme, decorre a partir do abandono de um ex-combatente da guerra, Rui Sequeira (Vítor Norte) das planícies alentejanas, juntamente com a sua filha Sara (Paula Neves), em busca da grande cidade e dos ex combatentes da guerra colonial.

Borba, como é conhecido na terra é um homem, que nunca ficou refeito dos traumas que a guerra lhe provocou. A sua única e verdadeira salvação, é uma filha do seu primeiro casamento, que lhe permite um pouco de estabilidade emocional e paz.

João Lagarto, no papel de Carlos Trindade, também tem a sua presença marcante no filme, ainda que só entre, na primeira parte. Também ele, ex-combatente do Ultramar, é um homem marcado intensamente pelas experiências amargas da guerra. Amigo de Rui, tem como sua melhor companhia os copos e, a revolta que guarda do Presidente da Câmara, interpretado por Otelo Saraiva de Carvalho.

Após o almoço de confraternização dos ex-combatentes de guerra, a travessia da mata de Monsanto, irá transformar-se num autêntico palco de mágoa, tortura, recordação e angústia. É este quase real e grandioso cenário, que conduzirá o filme ao seu culminar.

Uma história marcada pelas lembranças agonizantes de outros tempos, pelo conflito inevitável entre um passado que persegue sem cessar, e um presente envolto por cicatrizes que o tempo não conseguiu sarar. A história de muitos homens estática no tempo, vazia de conteúdos momentâneos, preenchida por sonhos conflituosos.

A câmara, neste filme, foi utilizada como uma verdadeira arma de acção, percorrendo os caminhos mais trilhosos do filme e, as expressões que o rosto tende em esconder, mas que a câmara consegue penetrar e revelar na perfeição. O método coerente e eficaz, de ir mais além do simples exterior, da pele bronzeada onde apenas se deixa ver a inscrição, “Guiné 1968”.

A força e a luta constante que acompanha o desenrolar do filme, é ainda mais intensa quando composta pela música de Luís Cilia, umas vezes discreta, outras vezes intensa, consoante o conteúdo da cena e do plano. Em terras de Vimieiro, a música irrompe por entre os caminhos distorcidos da busca de identidade, do apagar impossível de cenas que habitam na mente de ex-combatentes de guerra.

“Monsanto”, dia 15 de Fevereiro na sua sala privada de cinema da SIC. Uma história a não perder, a ser recordada ou a ser conhecida por cada espectador. A amarga queda para um abismo do passado, que só o amor pode libertar das amarras invisíveis de um tempo, que a todo o instante se faz sentir.

“Monsanto”, um filme duro, forte, de acção e dicotomias, entre o cenário da cidade banhada pelo Tejo e o dourado das planícies alentejanas. Não perca, pois as imagens falam por si…

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