Crónica: Quero o meu Popó

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Quero o meu pópo
Quero o meu pópo

Quero o meu Popó! Quer divertir-se a sério? Siga os exemplos de todo o prazer que pode tirar do seu carro. Li recentemente que a Carris tem estado a levantar processos contra os condutores que estacionam os carros perturbando o normal funcionamento das carreiras.

Pois é, toda a gente se queixa do tráfego em Lisboa e noutras cidades e zonas do país. Mas já pensaram bem no que leva a que um mero mortal citadino prefira o seu bólide a uma viagem gentilmente cedida pelos transportes públicos?

Quero o meu Popó

Vejamos: há algo mais confortável que os assentos do seu próprio automóvel? Quem é que quer trocar os estofos de cabedal ou pele por um duro assento de autocarro. Mas se isto não chega para convencer, há ainda uma lista de coisas que pode fazer no e do seu automóvel, que além de provocarem algumas gargalhadas, ainda levam os condutores a sentir-se superiores aos desgraçados que esperam a vez para entrar no ambicionado autocarro.

Vamos dar-lhe alguns exemplos: chove torrencialmente e enquanto está confortavelmente sentado no seu automóvel, com ar condicionado, pode olhar gozadoramente para quem está quase encharcado na paragem. Mas como é preciso fazer os outros sentirem-se ainda mais miseráveis, que tal arrancar em terceira e passar mesmo por cima da poça de água? E depois é só divertir-se a ver a cara de quem ficou ainda mais encharcado e enlameado.

Não chega? Vamos irritar um peão. Passe várias vezes por uma passadeira e escolha uma vítima, de preferência com uma certa idade. Quando ela estiver mesmo a atravessar, arranque e faça uma razia. Será seguido por um coro de protestos e com alguma sorte pode mesmo ver alguma bengala a agitar-se no ar.

Mas nada melhor para assustar os pacatos peões e dar-lhes o assunto para falar durante o dia e à noite à família, do que uma passagem bem rente ao corpo, de preferência que faça mesmo cair algum objecto transportado e depois arrancar em alta velocidade.

E o que me diz das travagens bruscas para fazer saltar a adrenalina de quem caminha pelos passeios, ou pela estrada quando os passeios estão sobrecarregados de automóveis. E esta é mais uma oportunidade a não perder para ‘xingar’ os passeantes, porque o lugar deles é nos passeios, nem que para tal tenham de passar por cima dos carros estacionados. Afinal, não é o seu, pois não?

Outra forma de azucrinar o juízo e de se divertir, e este é para os senhores que usam os carros como complemente de um outro órgão, é passar o braço fora da janela e lançar piropos a quem passa ou está, apenas para se sentirem os machos que em casa não conseguem ser.

E nada de esquecer a buzina, esse complemento essencial do automóvel, e que devia ser mais recomendado pelos médicos para alivio das situações de stress. Ora diga lá que não sabe bem colocar a mão na buzina e descarregar ali toda a pressão, mesmo que o veículo da frente tenha apenas parado para dar passagem a um peão na passadeira.

Temos ainda os condutores que gostam de dar um pouco de alegria a quem passeia e mostrar que possuem as melhores colunas de som do mundo, colocando a música alta, dividindo o seu prazer musical com os outros e fazendo tremer as janelas e os tímpanos, circulando como uma discoteca ambulante.

Claro que não podemos esquecer que o carro é um veículo poderoso e que tal deve ser demonstrado aos outros. Por isso, é necessário circular sempre pela faixa mais à direita nas auto-estradas, ao despique com os restantes condutores, para que eles não pensem que somos apenas condutores de fim-de-semana.

E depois de tudo isto, diga lá que não se sente mesmo melhor por trazer o pópo para a cidade?

Cronista da Mulher Portuguesa: Maria do Carmo Torres

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