Crónica: Bom apetite no dia Mundial da Alimentação

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Crónica da Mulher Portuguesa
Crónica da Mulher Portuguesa

…parece que os alimentos se uniram contra nós com um lema do género: “devora-nos, mas não permanecerás impune!” Bom Apetite para si!

Bom Apetite

Até há bem pouco tempo, o Homem estava no topo da cadeia alimentar. Mas de há uns tempos para cá parece que os alimentos se uniram contra nós com um lema do género: “devora-nos, mas não permanecerás impune!”. Por mais que nos sintamos os grandes predadores, a verdade é que os próprios alimentos nos estão a vencer numa luta cada vez mais desigual.

BSE, brucelose e peste suína são as armas mais utilizadas pelos mamíferos no combate ao Homem, um armamento biológico para o qual ainda não há defesa eficaz. Os vegetais viraram o feitiço contra o feiticeiro e atacam-nos sem piedade com doses industriais de DTT e outras armas químicas. Os peixes optaram por uma ofensiva nuclear e destroem-nos lenta e dolorosamente com doses industriais de plutónio.

Estamos encurralados. Os alimentos tratam apenas de se artilhar o melhor que podem, e nós ficamos reduzidos à triste realidade de termos de optar entre morrer à fome ou sofrer de forma lenta e prolongada os efeitos daquilo a que ingenuamente chamamos de “alimentação saudável”.

Dantes, uma alimentação equilibrada correspondia a um consumo diário de doses adequadas de cada um dos nutrientes. Hoje em dia, uma alimentação equilibrada corresponde ao consumo diário de doses potencialmente perigosas de cada um dos agentes poluentes ou bacteriológicos.

Mesmo assim, há ainda quem faça um esforço por aliar-se aos alimentos no seu processo de lenta destruição da espécie humana. Estes seres aparentemente masoquistas gostam de complementar os seus hábitos alimentares com corantes, aditivos, aromas artificiais e pratos confeccionados com o objectivo de bater os records de maior concentração de calorias e colesterol por garfada.

Pergunto-me então se valerá mesmo a pena tornar o Dia Mundial da Alimentação um momento de reflexão e promoção dos bons hábitos alimentares…

Se é certo que há milhões de pessoas que não têm alimentos que cheguem para sobreviver, também é certo que há outros tantos que têm alimentos suficientes para garantir que não sobrevivem por muito tempo. O melhor mesmo será não chamar a atenção para este ridículo paradoxo.

Cronista da Mulher Portuguesa: Patrícia Esteves Nunes

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