Crónica: a bola vermelha no desporto

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Vilarinho venceu, indiscutivelmente, as eleições do Benfica. Vale e Azevedo, derrotado e com uma pontinha de frustação dentro dele, não teve outro remédio senão admitir que foi feita a vontade dos benfiquistas e ele perdeu a bola vermelha.

Os 62% de Manuel Vilarinho contra os 38% de Vale e Azevedo fazem acreditar que este, talvez, possa ser um Benfica renovado. O grande trunfo do novo Presidente da Luz dá pelo nome de Jardel. Mas, será esta a verdadeira realidade? Ou estaremos perante um novo Homem cujo lema de vida é Vale Tudo?

A bola vermelha

Nestas última eleições do Benfica Vale e Azevedo fez uma campanha bem ao seu jeito, com muita pompa e circunstância, rodeado de apenas alguns notáveis, já que a maior parte deles passou-se para o outro lado, e com aquele ar de quem se é possuidor da verdade, aliás como é seu hábito.

Mas, os benfiquistas já não foram na sua velha história da ‘estabilidade’: um clube só ganha se houver estabilidade, afirmava Vale e Azevedo, alguns dias antes de perder as eleições. Sem dúvida um bom argumento, mas os dados da derrota já estavam há muito lançados.

O Dr. Vale e Azevedo geriu o Clube de uma forma catastrófica. Não se coloca em causa o seu benfiquismo, demasiadamente autoritário, a meu ver, cujos pilares se centravam única e exlusivamente na sua palavra, à qual todos tinham que obedecer. Vale e Azevedo surgiu há alguns anos atrás como a salvação de um clube, que já trazia com ele problemas muito graves de ordem financeira.

Não os soube redimir, ainda por cima piorou-os, a equipa não mais arrecadou os títulos de outrora e, nunca apoiando os jogadores, nunca teve um gesto de compreensão para com eles: Vão rolar cabeças foi o máximo que lhes conseguiu dizer, numa altura em que toda a equipa técnica necessitava de um pouco de incentivo.

Das declarações do Dr. Vale e Azevedo, proferidas aos orgãos de comunicação social, as frases eram quase sempre as mesmas. Ditas de outra forma e com uma rampa de lançamento diferente, os benfiquistas não se cansaram de o ouvir falar de duas coisas: o Centro de Estágios do Seixal (afinal, onde está esse monumento que tanto orgulho tecia no presidente cessante?) e a velha telenovela do activo e passivo (certamente algum reflexo inexplicável de um trauma infantil com a contabilidade).

À parte disto, Vale e Azevedo hipotecou o Estádio da Luz (a estátua do Eusébio deve ter-se benzido com tamanha atitude), ‘correu’ (é esta a expressão correcta) pela porta pequena com o menino de ouro da luz, João Pinto, e fez da SAD do Benfica mais uma das suas brilhantes aquisições ao jeito ‘Salazarista’ (parentes ou mera afinidade?).

Manuel Vilarinho também pode não ser o ‘Salvador da Pátria Encarnada’. Apareceu com uma campanha forte (aquela fotografia sua no Marquês de Pombal e a caravela que atravessava o Rio Tejo apelando ao seu voto foram o exemplo mais evidente que este é um ‘presidente do povo’…), com figuras e notáveis emblemáticos do Benfica e, ao seu lado, teve a pessoa que muito deve ter contribuído para a vitória: o Pantera Negra.

Aos benfiquistas afirmou ter já financiador para trazer o Jardel mas, após ter ganho as eleições, o seu discurso mudou logo de rumo.

Jardel parece estar guardado na gaveta para ser trazido depois, mas o Banco Espírito Santo, entidade que traria Jardel, veio desmentir o financiamento do brasileiro. Começou o ‘diz que disse’, sinal que não se pode confiar nem nos advogados, nem nos gestores!

Como em tempo de eleições o que conta é angariar votos, as verdades só se descobrem algum tempo depois, quando o pano da realidade cai friamente. Foi isso que aconteceu com Vale e Azevedo e veremos se não acontecerá o mesmo com Manuel Vilarinho.

Entretanto o Benfica vai caminhando cada vez mais lentamente para o título, sem uma unidade entre todos, sem um sentido de empreendimento colectivo e, acima de tudo, sem a garra de outros tempos.

Ai que saudades do Eusébio! Vale e Azevedo e Manuel Vilarinho também devem ter, porque assim nem era preciso ‘Jardéis’ ou desculpas de ‘estabilidade’ para justificar as derrotas. Afinal, a Pantera Negra estava lá…

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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