Crónica: a tourada das leis em Barrancos

1463
Cronistas da MulherPortuguesa
Cronistas da MulherPortuguesa

A tourada das leis em Barrancos, e os gritos exaltados da população soltam o já típico Mata-lo, Mata-lo…

Um sol abrasador. Uma estrada cheia de curvas e contracurvas. Planícies verdejantes, secas, e uma imensidão de gente com um único objectivo. Entra-se numa vila pequena, ruas estreitas e apertadas.

A Espanha a sorrir para Portugal, a fazer-se também convidada para as Festas de Nossa Senhora da Conceição. Sevilhanas, Paso Doble, Tinto Verano e Touros. Touros de Morte porque se está em Barrancos, embora seja uma vila portuguesa e raiana.

A tourada das leis em Barrancos

A Tourada, Festa dos Touros, e a Tourada das Leis, Festa dos Ministros, tem um único cenário: a Praça da Liberdade. E os gritos exaltados da população soltam o já típico ‘Mata-lo, Mata-lo’…

Barrancos, para quem não conhece, fica situado no Baixo Alentejo, ali para os lados da fronteira espanhola. Terra de gente não muito abastada, há uma imensidão de tempo que, no último fim de semana de Agosto de cada ano, realiza as festas em honra de Nossa Senhora da Conceição.

De clima quente e de gentes aficcionadas pela Festa Brava, Barrancos tem no ponto alto das suas festas a morte do touro em plena arena, montada específicamente para esse efeito.

A questão central desta crónica é uma: num país onde não é permitida a morte do touro na arena, a comunidade barranquenha continua a fazê-lo aos olhos de todos, sob a (in)competência do Governo.

De facto, ninguém conhecia Barrancos. Eu conhecia, porque desde muito nova lido com as gentes daquela região, mas a maior parte das pessoas que não apreciam touradas, nem sabiam que existia esse local.

Mas, Barrancos só ficou conhecido porque um orgão de Comunicação Social lembrou-se, há uns aninhos, de divulgar que havia uma festa muito “engraçada” ali para os lados da fronteira, na qual matavam os touros sob o olhar entusiasta dos aficcionados. Desse preciso momento para cá tudo tem sido uma tourada!

A começar pelo parlamento, onde os deputados lidam a lei com olés silenciosos, e a acabar na arena da Praça da Liberdade, onde os touros são lidados e mortos posteriormente, após a Banda Filarmónica Fim de Século ter tocado no iníco da “novilhada popular” (termo que os barranquenhos escolheram este ano para designar as suas touradas) o popular Paquito Chocolatero e o emblemático Paso Doble.

A novela barranquenha, porque é de uma farsa que tudo isto se trata, já teve o seu final mais que previsível. O povo barranquenho vai continuar a matar os touros, venham as coimas que vieram, e o Governo vai ficar sentado numa cadeira a dizer que a lei cumpriu-se.

Mas, é pertinente pensar-se no seguinte: a lei cumpre-se porque as coimas se pagam, embora isso só possamos saber daqui a algum tempo, mas a tradição também se cumpre porque o Touro é morto. Agrada-se a todos, pelo menos tenta-se, e ninguém se chateia.

Os defensores de direitos dos animais que rumaram a Barrancos é que parecem não ter ficado muito contentes. Afinal, cinco touros e uma vaca foram mortos, e as coisas decorreram na maior normalidade. Meia hora de silêncio e uns momentos de declarações para nada!

“Enquanto houver um barranquenho no mundo, os touros matam-se em Barrancos”. Esta foi uma frase que li algures, pronunciada por alguém que não me recordo, e que me faz pensar a força deste povo e desta gente. É que um país inteiro luta por tantas coisas, aumentos dos salários ou melhores condiçoes de vida, e raramente se consegue alguma coisa.

Porém, uma pequena vila de amantes das touradas, que é invadida por milhares de portugueses e espanhóis nas suas festas, consegue ir contra a lei portuguesa. Barrancos é uma comunidade verdadeiramente forte, senão como conseguiria mover o ministro Fernando Gomes e o Governo.

As coimas a aplicar são elevadas, mas os barranquenhas uniram-se e a sua colecta já vai num valor exurbitante que, à partida, chegará para pagar. E mesmo que não chegue, esta terra chama-se Barrancos, a terra que consegue fazer valer a tradição da sua cultura, e onde os tinto verano, encerros, touradas de morte e as sevilhanas, abundam por 4 dias e noites. E isto é Barrancos! Um grande Olé para o Governo!

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

Classificação
A sua opinião
[Total: 0 Média: 0]