Crónica: 26 de Dezembro

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Cronistas da MulherPortuguesa
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São 11:30 e o barulho dos brinquedos electrónicos novos não me deixa dormir mais. Ao tentar eliminar os brinquedos, passaram a ser os gritos das crianças a não me deixar dormir, portanto mais vale encarar a realidade e obrigar a dor de cabeça a levantar-se da cama.

26 de Dezembro

A casa está verdadeiramente gélida e isso basta para despertar o mais sonolento dos mortais. O cheiro a perú e a doces parece já estar entranhado nas paredes da casa e já não posso nem pensar em comer perú outra vez, a menos que queria descobrir até que ponto o homem é capaz de sobreviver à custa dos restos de uma ceia de Natal. Será que resiste até à ultima migalha ou desiste de tentar matar a fome muito antes de acabarem as batatas do bacalhau e as filhoses já todas moles?

Ao entrar na sala e ao encarar a realidade em cima da mesa de refeições, a perspectiva muda radicalmente. Bem… o cheiro talvez desapareça quando levantarmos a mesa e lavarmos a louça. Mas isso só quando acabarem com a comida toda que lá está. Não pensem que vou cozinhar enquanto houver tanta coisa pronta para comer. Não está nada estragado, este frio conserva.

Perante o semblante pouco amigável de quem faz fila à porta da casa de banho, deixo o duche para depois e aproveito para separar os presentes que ainda estão espalhados da sala. Os bons, que são para guardar, os maus que são para oferecer a outras pessoas no próximo Natal, e os comestíveis que são para oferecer ainda este ano (por causa da validade) às pessoas para quem não chegámos a comprar um presente a tempo e horas.

Os papéis sofrem o mesmo tipo de selecção. Os rasgados, amassados e vincados vão para o lixo, os laços são para aproveitar independentemente do estado em que se encontram e os papéis que estão praticamente intactos são religiosamente guardados – de tal forma que ficam tão amassados e vincados como os que foram para o lixo, portanto no próximo Natal é preciso papel de embrulho novo de qualquer maneira.

Só passaram 24 horas, mas parece que foram séculos. A árvore, os enfeites, as velas e o próprio espírito natalício de repente parecem gastos, com aquele aspecto velho e sujo dos objectos guardados num sótão. Começa a surgir aquela vontade de fazer desaparecer essas coisas todas e restituir à casa a decoração habitual.

Mas a preguiça… deixamos isso para depois do Dia de Reis. Ou até para depois do Carnaval… logo se vê. Agora o que interessa é a passagem de ano, Natal outra vez, só daqui a um ano e acho que não vou voltar a fazer perú…

Cronista da Mulher Portuguesa: Patricia Esteves Nunes

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