Gunter Grass: retrato de um Nobel

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Gunter Grass
Gunter Grass

Gunter Grass é, talvez, um dos autores contemporâneos mais multifacetados. A sua obra estende-se por áreas tão diversas como a Poesia, o Romance, o Teatro, a Escultura, a Pintura. Este ano, o Nobel da Literatura trouxe-o para as bocas do mundo.

Gunter Grass é, talvez, um dos autores contemporâneos mais multifacetados. A sua obra estende-se por áreas tão diversas como a Poesia, o Romance, o Teatro, a Escultura, a Pintura. Tornou-se conhecido com a publicação de “The Tin Drum” (no original, “Blechtrommel”), em 1959, uma obra que funcionou, na época, como uma espécie de “grito” da juventude que cresceu na era do Nazismo hitleriano. O autor que recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1999, descreve-se como “um apóstolo do Iluminismo, numa época que se cansou da Razão”.

Gunter Grass nasceu em Danzig, na Alemanha (actual Gdansk, Polónia), em 1927. Muito jovem, durante a década de 30, alista-se na Juventude Hitleriana. Aos 16 anos, integra o exército e, em 1945, é ferido na guerra, pouco antes de ser preso. Até ao ano seguinte, fica na prisão de Marienbad, na Checoslováquia. Após ser libertado, exerce diversas actividades, desde a agricultura às minas. Chegou também a ser aprendiz de pedreiro.

Em 1948, entra para a Academia de Arte de Dusseldorf, onde estuda pintura e escultura. Estudos que prossegue, de 1953 a 1955, na Academia de Belas Artes, em Berlim Ocidental. É nesta altura, em 1954, que casa pela primeira vez, com Anna Margareta Schwartz, de quem se divorcia 24 anos depois. Um ano mais tarde, em 1979, casa com Ute Grunert, com quem ainda vive.

É durante os anos de universidade, em Berlim e em Dusselforf, que Gunter Grass começa a escrever poesia. Chega mesmo a fazer leituras perante um influente grupo de escritores, o Grupo 47.

Na segunda metade dos anos 50, muda-se para Paris, onde vive, até 1960, como escritor e escultor. É em Paris que começa a escrever “O Tambor” (“The Tin Drum”), o seu maior sucesso literário, publicado em 1959.

Quando saíu, “O Tambor” causou uma autêntica onda de furor na Alemanha, devido à forma como o autor retratava os anos do Nazismo. Todo o argumento roda em torno de Oscar Matzerath, cujo único meio de comunicação é um tambor de brinquedo, utilizado como forma de protesto contra as crueldades da Alemanha de Hitler.

Posteriormente, “O Tambor” foi entendida como uma parte da chamada “Trilogia Danzig”, em que Grass descrevia as experiências da classe média – baixa da sua aldeia natal, durante os anos da segunda guerra mundial. Uma trilogia que Grass continuou em 1961, com “Cat and Mouse”, e em 1963, com “Dog Years”. Mas, mais tarde, o autor veio a considerar que “O Tambor” não se encaixava nesta trilogia, uma vez que se tratava de um retrato dos crimes nazis e das dificuldades da sociedade do pós-guerra em aceitar os elementos que tinham pertencido ao regime hitleriano.

Depois de Danzig, Berlim torna Berlim no novo foco da sua escrita. São disso exemplos claros, os argumentos de teatro que escreveu para “The Plebeians rehearse the uprising”, de 1966; o romance “Local Anaesthetic”, de 1969; ou o drama “Davor”, todos eles com Berlim como cenário privilegiado.

A política teve também um lugar reservado no percurso de Gunter Grass. No final dos anos 60, escreve discursos para Willy Brandt, Chanceler da FRA entre 1969 e 1974. Estes discursos estão publicados na colectânea “The citizen and his voice”, de 1974.

Durante as décadas de 70 e 80, o feminismo, a gastronomia e a ecologia são temas que passam a preocupar o autor, levando-o a alargar o leque de assuntos focados na sua obra. São desta época exemplos como “From the diary of a snail”, de 1972; ou “The Flounder”, de 1977. Aqui, Grass descreve o desenvolvimento da civilização como uma luta permanente entre os sonhos destrutivos de grandeza dos homens e o combate das mulheres pela realização. Explora campos como o papel histórico da gastronomia, os papéis sexuais, o feminismo.

As mulheres são tema de várias obras de Gunter Grass, algumas delas já datadas dos anos 90, como “The call of the toad”, de 1992.

Em 1995, Grass escreve sobre a reunificação alemã: o protagonista de “Ein Weites Feld”, Theo Wuttke, é um estudioso da obra do escritor do século 19 Theodor Fontane. É na obra dele que encontra paralelos de comparação com os acontecimentos históricos que fizeram a reunificação.

Já em 1999, Gunter Grass publica “Mein Jahrhundert” (“O Meu Século”), em que varre, sob a forma de comentário, todo o século 20. O livro tem 100 capítulos, um para cada ano, em que se destacam 100 acontecimentos que marcaram este século.

Em 30 de Setembro passado, a Academia Sueca anuncia a atribuição do Prémio Nobel da Literatura 1999 a Gunter Grass, coroando a carreira de um autor que considera “muito responsável por um certo renascer da literatura alemã, depois de décadas de destruição moral e linguística”.

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