Paula Bobone, a má educação não abre portas

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Paula Bobone
Paula Bobone

Paula Bobone, assessora principal do Ministério da Cultura, é a autora de ‘Profissionalmente Correcto’. A Mulher Portuguesa foi falar com ela e saber o que nos reserva este seu novo trabalho.

Paula Bobone tem já um longo curriculum na área das Relações Públicas. Autora do estrondoso êxito que foi ‘Socialmente Correcto’, lançou no final de Novembro o livro ‘Profissionalmente Correcto’.

A Mulher Portuguesa encontrou-a num hotel de Lisboa, em jeito informal, numa conversa agradável e divertida, que serviu de base para compreendermos o enorme êxito desta escritora.

De voz serena e apalpando as palavras à medida que as solta, Paula Bobone começou por nos falar do seu primeiro sucesso, ‘Socialmente Correcto’, que vendeu mais de 40.000 exemplares num ano: ‘Foi um êxito e ninguém pode dizer o contrário! Os números falam por si, e isto não é uma sensação minha, mas sim um facto constatado por todos’.

O êxito, segundo Paula Bobone, deve-se a dois factores principais: ‘O primeiro factor pode parecer uma certa vaidade minha, mas não é!

Eu ganhei uma certa imagem que foi muito apelativa para os media, e desde sempre que cultivei essa imagem que a cultivo. Isso ajudou-me muito! Mas, o êxito do livro deve-se sobretudo às suas características que servem, neste momento, os interesses de muitas pessoas em Portugal.’

Paula Bobone declara que este é um livro de ajuda, muito útil para os portugueses, e que livros deste teor têm muita saída em diversos países como é o caso da França, Espanha ou América. Frequentadora de livrarias já há muito tempo e passando algum do seu tempo a viajar, a escrita foi sempre um gosto especial.

O ‘Socialmente Correcto’ foi fruto de uma proposta feita à autora, e Paula Bobone contou-nos como foi: ‘A ideia foi uma inspiração minha, mas foi desencadeada por uma proposta que me foi feita por uma revista para fazer uns fascículos.

Na altura, queriam algo muito simples, mas eu acabei por fazer uma coisa muito desenvolvida que não se enquadrava bem no que eles pretendiam. Então dirigi-me à Bertrand que achou a ideia estupenda, e que teve a maior das sensibilidades para com a minha pessoa.’.

Em ambos os livros, Paula Bobone fala muito de conceitos como a ética ou a etiqueta. Traduzindo a ética como o lado moral das coisas, o conceito de bem e de mal, e a etiqueta como as regras de comportamento social estabelecidas pelas sociedades, Paula Bobone assenta nestes conceitos para a base dos seus livros, ‘Socialmente Correcto’ e ‘Profissionalmente Correcto’.

Paula Bobone

Declara que ‘eu não inventei estas regras sociais, e nem estão escritas em lado nenhum, mas há autores que as registam. Também não sou nenhum padrão de comportamento, até porque tenho atitudes que podem ir contra aquilo que é socialmente correcto.’

Falando abertamente sobre o seu último trabalho, ‘Profissionalmente Correcto’, Paula Bobone contraria a nossa ideia de julgar que este livro é destinado a uma elite. Por isso, declara de imediato que ’é um livro destinado a todos! Há sempre duas perspectivas em tudo na vida- o espectador e o autor- mas todos nós somos espectadores.

É preciso conhecer e ter noção dessa outra realidade à qual não temos acesso, mas que um dia podemos vir a ter. Possivelmente há pessoas que nunca deram um cocktail, mas poderão vir a ser convidados para um, e têm que saber agir e comportar-se devidamente. Portanto, há sempre a visão da pessoa que é convidada e da que organiza, e ambas têm que conhecer as regras.’

Em relação à importância que as regras da etiqueta possam ter na profissão, Paula Bobone refere que ‘a integração do Homem no social é feita através da sua profissão, exactamente porque o Homem passa a maior parte do seu tempo no local de trabalho. Há que saber estar na profissão para ter um lugar no social, e isso implica talento, competência, ética e etiqueta profissional’.

Contrariamente ao que muitas pessoas possam pensar, estes dois livros não foram as primeiras experiências de Paula Bobone na escrita. Antes havia feito uma antologia de poesia para crianças que, e embora se tenha dedicado bastante, não alcançou o sucesso que se previa.

Espera que com ‘Profissionalmente Correcto’ venha a alcançar o sucesso do primeiro, pois julga que este género de livros são muito úteis e que servem de referência a muitas pessoas.

Não quisemos deixar de pedir à nossa entrevistada para falar sobre a postura e comportamento do povo português. Paula Bobone confessou que ’Somos tal e qual como os outros povos, mas há uma falta de sentido de visão cosmopolita impressionante. O povo português continua ainda com hábitos relacionados com a época medieval, como é o caso de cuspir para o chão.

O Homem que trabalha a terra cospe para o chão, como é óbvio, mas um Homem da cidade que faz uma exibição do seu cuspo não é, de modo algum, sinónimo de evolução’.

A nossa entrevistada vai ainda mais longe e acrescenta que ‘A má educação não abre portas a ninguém, mas a boa educação é um passaporte para a alta sociedade. Qualquer pessoa, mesmo com um cargo profissional baixo, pode ascender na vida, mas se for mal educado não ascende a lado nenhum’.

Paula Bobone fala muito sobre o universo feminino no seu livro, e chega mesmo a afirmar à Mulher Portuguesa que a violência doméstica é um sinónimo de falta de educação. As suas referências femininas em Portugal são nulas.

Paula Bobone destaca que ‘não tenho qualquer referência. Na escrita de ficção tenho amigas que adoro porque conseguiram pôr pessoas a ler: Rita Ferro e Margarida Rebelo Pinto. Nem estou a falar da qualidade dos livros, mas sim do mediatismo que elas criaram.’

A nossa entrevistada falou-nos também dos seus hobbies predilectos: ‘Festas! Adoro festas! Convidem-me e lá vou eu, seja em Portugal ou no estrangeiro.

O sentido de festa para mim é o aspecto lúdico da vida, porque a festa é a reprodução do que se passa no altar, a teatralidade da alegria de viver. Gosto muito de festas e, às vezes, também dou uns jantares na minha casa.

Adoro ler, mas isso já nem se considera um hobbie. Não jogo golfe, não vou a cabeleireiros, mas sou uma grande consumista, pois sempre que posso vou às compras’.

Esta ‘Tia’, como muitos lhes chamam, fez questão de esclarecer o que é isso de ser ‘Tia’ e de pertencer ao Jet Set: ‘Dito por mim ser tia é uma coisa, e dito pelos outros é outra, até porque quando se diz uma ‘Tia’ é altamente depreciativo.

Chama-se ‘Tia’ a uma pessoa que não conhecemos, mas que achamos interessante do ponto de vista social. No fundo, estamos a forçar uma intimidade que não existe, o que é perfeitamente ridículo! Mas, por outro lado, chamar tia é também um sinal de respeito.

A ‘Tia’ é uma pessoa que é de ‘bem’, chique, que socialmente está em alta, mas que é susceptível de ser ridicularizada. E, isto foi muito bem explorado pelo nosso grande cronista social que é o Herman José’.

Quanto ao Jet Set, Paula Bobone acrescenta que ’é a classe dominante mediatizada, isto porque há pessoas da classe dominante que não são mediatizadas. Podiam ser ‘beautiful people’, mas não querem aparecer’.

Para além do Jet Set, estão a emergir novas classes como é o caso dos bobos, burgueses boémios, um grupo muito semelhante ao Jet Set, e os Kits, os denominados por novos ricos. Tanto uns como os outros devem aprender as boas maneiras, pois segundo a nossa entrevistada ‘o berço é que conta realmente’.

A conversa estava boa, mas terminou. Paula Bobone deixou-nos com a sensação de uma tarde bem passada na sua companhia. Alegre e objectiva, contou-nos durante a conversa que tem já mais 2 livros para sair também nesta área, mas que não pode ainda revelar.

A todas as Mulheres Portuguesas Paula Bobone deixou uma mensagem: ‘Entendam o papel que têm, eduquem os filhos com amor e sinceridade, e sejam muito compreensivas, pois o sacrifício das mulheres é quase como uma nova sementeira.

Se queremos sobreviver temos que nos reproduzir, e eu sei que quando morrer a minha filha fica. Se eu deixo uma flor em vez de um espinho há a possibilidade de contribuir para um mundo melhor!’

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