Carlos Raimundo – Vencedor na Moda Lisboa

1957
Carlos Raimundo
Carlos Raimundo

Carlos Raimundo venceu a edição deste ano do concurso “Sangue Novo”, na Moda Lisboa. Este novo criador viu a sua colecção passar no mesmo local, onde estilistas já conceituados apresentaram as suas propostas para o Outono/Inverno . A Mulher Portuguesa foi conhecê-lo melhor.

Carlos Raimundo

Após ano e meio, de ter finalizado o curso de estilista no CIVEC, Carlos Raimundo foi seleccionado e venceu a 6ª edição do concurso “Sangue Novo”. Este concurso, integrado na Moda Lisboa, tem o objectivo de divulgar novos criadores de moda nacionais, onde o vencedor é premiado com um estágio de 6 meses, num famoso atelier.

Antes de partir para Londres, a fim de realizar o estágio com a dupla Clements Ribeiro, Carlos Raimundo falou com a Mulher Portuguesa, sobre o mundo da moda e revelou-nos ainda, alguns projetos.

Desde quando se começou a interessar por moda?

Ao contrário dos outros estilistas, comecei a interessar-me por moda, apenas no liceu, pelo 10º ano. Soube, através de uma amiga, da existência do CIVEC e resolvi matricular-me. O CIVEC é uma escola técnico-profissional que funciona com um protocolo com o Centro de Emprego e a Associação de Produtores Têxteis do Sul.

Como está estruturado o curso de estilista do CIVEC?

O curso tem 3 anos e é extremamente técnico. Claro que também temos disciplinas teóricas como História da Arte, História da Moda, Sociologia da Moda, mas essencialmente, digo que é técnico, porque saímos da escola a saber fazer uma peça de roupa, do início, ao fim, desde o molde até ao cozer da roupa, o que por vezes não se passa noutros cursos, nesta área.

No fundo, é um curso completo, ainda que haja um certo complexo em relação ao CIVEC, precisamente por ser um curso técnico-profissional… A maioria dos nossos estilistas saíram do CITEX, outra escola técnico-profissional, no Porto. Falo de nomes como Osvaldo Martins, Katty Xiomara, ou Maria Gambina, também ela vencedora de outras edições do “Sangue Novo”.

Como surgiu concorrer ao “Sangue Novo”?

Na verdade, já tinha concorrido duas vezes, mas só agora fui seleccionado. Após ter lido o regulamento do Concurso, que obedece sempre a um tema, entreguei na Associação Moda Lisboa, os croquis e o desenho técnico que contém toda a informação acerca das peças, desde os tecidos, com respectivas amostras, aos aviamentos (botões, fechos…), a forma de como a roupa será cozida, enfim toda a informação necessária.

Este concurso é realmente, o mais importante a nível nacional. É uma “rampa de lançamento” para os novos criadores, porque, para além de ser organizado pela Moda Lisboa, estão concentrados no mesmo local, todas as peças necessárias à nossa divulgação: os estilistas conceituados, a imprensa nacional e internacional e alguns industriais do ramo.

E vencer o “Sangue Novo”, como foi?

Começa quando se é seleccionado. Aí, não estava nada à espera. Pensa-se que, provavelmente, aquilo que fazemos até tem algum valor… Depois vem a expectativa, pois, porque se vamos para um concurso, há sempre a esperança de vencer. Até à véspera do desfile, não tinha visto quaisquer trabalhos dos outros concorrentes. Quando os vi, a expectativa que tinha, confesso, caiu um pouco por terra. Por fim, após tudo isto, vencer foi realmente, ver reconhecido o meu trabalho.

Qual foi o prémio?

Um estágio de 3 a 6 meses, em Londres, no atelier da dupla Clements Ribeiro, formada pelo brasileiro Inácio Ribeiro, casado com a inglesa Susan Clements. E mais uma vez, não estava nada à espera, foi-me oferecido um automóvel pelo patrocinador exclusivo desta edição do “Sangue Novo”. Quanto à bolsa, é oferecida pela Associação Moda Lisboa.

E agora? Que planos tem?

Para já, vou aproveitar ao máximo este estágio. Quando voltar, vou preparar a colecção, já com a minha etiqueta, para a apresentar no final do ano 2001, na Moda Lisboa.

Destaque quatro estilistas, dois nacionais e dois estrangeiros.

A Ana Salazar é um nome incontornável da moda portuguesa. Os seus trabalhos além de serem de muita qualidade, sente-se que há uma grande pesquisa, o que não acontece em muitos outros criadores.

Destaco ainda, dos novos valores, Miguel Flor que também tem um trabalho muito interessante. Internacionalmente, gosto de Yves Saint Laurent e, sempre presente, Helmut Lang, um austríaco estabelecido em Nova York.

Os portugueses vestem-se bem?

Penso que sim, e tive mais certeza disso, quando comecei a ir ao estrangeiro. Digamos que o mercado optou por marcas de grandes cadeias estrangeiras, o que também uniformiza um pouco o que se vê, quer em Portugal, quer no estrangeiro. No entanto, agrada-me a ideia de ver as pessoas terem o cuidado de se “vestirem para a noite”.

O que falta no mercado para que os criadores portugueses possam vender?

Basicamente, falta uma maior aposta dos industriais, de pegarem no jovens criadores e contratá-los para que possam iniciar uma carreira. Por exemplo, poderiam Trabalhar para uma empresa que depois lhes facultaria a possibilidade de produzir a sua colecção.

Lá fora, os estilistas já conceituados, vão à procura dos novos valores para serem seus estagiários. Em Portugal, apenas a Ana Salazar aceita um estagiário, pelo período de 4 meses.

Quais os conselhos que pode dar para as estações que se seguem?

É um facto que há fashion leaders, que ditam “o que usar”. Mas, a moda hoje, está tão democratizada que “tudo está na moda”. O único conselho que posso dar é que as pessoas escolham peças confortáveis e que lhes dêem gozo em usar. Não permitam que a roupa se sobreponha à pessoa.

A roupa é um complemento da pessoa. Aconselho portanto, materiais confortáveis e naturais, como a lã, a seda, os cabedais e as camurças.

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