AMAP – as mulheres agricultoras em Portugal

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Associação das mulheres Agricultoras Portuguesas
Associação das mulheres Agricultoras Portuguesas

Hoje é comemorado o Dia do Agricultor, data que lembra uma das mais antigas ocupações humanas, tradicionalmente, considerada como uma actividade masculina. Mas as mulheres também se fazem ouvir neste campo e em Portugal são representadas pela Associação das Mulheres Agricultoras Portuguesas.

As mulheres agricultoras em Portugal

Fundada a 8 de Abril de 1987, após um seminário realizado nesse ano nas Caldas da Rainha, a Associação das Mulheres Agricultoras Portuguesas (AMAP) nasceu da necessidade de reunir os esforços e as vontades das mulheres que, em Portugal, se dedicavam à agricultura.

A Associação não tem fins lucrativos e conta com apoio do Ministério da Agricultura e da CAP (Confederação de Agricultores Portugueses), de quem recebe apoio burocrático e onde tem a sua sede.

“A receptividade no nosso país foi muito boa. Colocamos como objectivos principais a promoção social e cultural das mulheres agricultoras e a sua formação profissional” referiu Gabriela Bragança. “Quando começámos, éramos seis mulheres, hoje somos mais de cinquenta. Tem a ver com uma mudança de mentalidade, há um maior espírito associativo porque as mulheres têm mais capacidade de se fazerem valer a si mesmas. Estamos reconhecidas na Confederação Europeia dos Agricultores, com sede em Bruxelas.”

Em relação às condições das mulheres agricultoras nos nossos dias, Gabriela Bragança considera que “existe igualdade de tratamento, mas o que ainda existe é a desigualdade criada devido à mentalidade das pessoas. Existem desigualdades na repartição de tarefas dentro de uma exploração agrícola, os homens ficam com as máquinas e as mulheres com os outros tipos de trabalho. Trata-se de uma discriminação social, embora hoje em dia, como em todos os sectores, apareça muito esporadicamente”.

A presidente da AMAP argumenta que “historicamente, eram as mulheres quem garantiam a subsistência da família em situações de guerra, e em Portugal ainda tiveram um papel mais activo, com os Descobrimentos, a emigração e a guerra colonial. Hoje em dia surgem mais mulheres a encabeçar a gestão das propriedades, por dois factores: elas podem gerir o trabalho do campo, enquanto eles continuam a ir para as fábricas, além de que os programas de ajuda aos agricultores apenas são aplicados a quem exerce a agricultura como actividade principal, o que levou ao aumento do número de mulheres agricultoras”.

Apesar de tudo, Gabriela Bragança confessa-se algo desiludida: “a adesão não foi a esperada. Houve um grande entusiasmo, mas passados estes anos as pessoas envelheceram. Além disso, as mulheres aderem mas depois não pagam as quotas. Há agora uma camada nova que está a vir para a Associação, porque as pessoas que aderiram à agricultura como jovens agricultores (até à idade de 40 anos), hoje estão a passar essa fasquia e inscrevem-se na Associação”.

Na formação, a AMAP desenvolveu o projecto europeu Eixo NOW- “Ligando Mulheres na Periferia – Novas oportunidade para Mulheres, em parceria com a Inglaterra, Grécia e Itália. “Em três anos, formaram-se 15 mulheres, em áreas como a floricultura, turismo de habitação, quintas pedagógicas, instalações para festas, etc., com formação e apetrechamento de computadores, internet e telefone, que permitiu criar uma rede de informação entre elas.

O projecto europeu Líder, outra acção da AMAP, permite que mulheres agricultoras recebam formação em áreas escolhidas como os ciclos de produção, legislação, preenchimento de documentos, etc.

A AMAP tem lançado brochuras com informações como a “Cessação de Actividade Agrícola”, “A Mulher e a Segurança na Agricultura” e o enquadramento legal do projecto “EFAR – Empresa Familiar Agrícola Reconhecida”. Foi ainda editado o livro “Rosa e Acácio”, com texto de Maria Alberta Menéres, com vista a uma acção de sensibilização das crianças que vivem no campo, cujo conteúdo é alvo de campanhas nas escolas.

Todos os meses é enviada às sócias a informação com as actividades da Associação, enviada também para as direcções regionais, jornais, juntas de freguesia, “e aqui coloca-se o nosso grande problema com o dinheiro que gastamos em correios” desabafou a presidente.

A agricultura é uma actividade cada vez mais em desuso, segundo Gabriela Bragança porque “não é uma profissão nobre, é um trabalho duro, sem férias, sem tempos livres e a gente nova não gosta. Tentamos que sejam legisladas algumas regalias para melhorar a vida dos agricultores, mas tem sido difícil implementar as mudanças”.

Os problemas para os que optaram por esta forma de vida passam “pela seca, algumas coisas mal negociadas na União Europeia e a falta de competitividade. Portugal aprendeu a produzir sementes seleccionadas e a adubar, mas não sabemos vender”.

Para Gabriela Bragança, o futuro das mulheres é igual em todos os países. “Acho que temos mais futuro que os homens porque eles não sabem fazer mais nada se não a agricultura tradicional e as mulheres já estão sensibilizadas para a diversificação. Além disso podemos tirar muito proveito das novas tecnologias. Elas têm um futuro mais promissor, vejo que as mais novas são muito diferentes na forma de encarar as coisas”.

A promessa de revolução feminina também na agricultura.

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