Crónica: Viagem sem Regresso

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Cronistas da MulherPortuguesa
Cronistas da MulherPortuguesa

Uma viagem ao Brasil com um desfecho horripilante. Uma história macabra, e seis portugueses brutalmente assassinados, foram o resultado daquilo que não se esperava que fosse o final de uma viagem sem regresso.

Eu estou chocada, Portugal está revoltado, e o mundo está chocado com a forma como seis portugueses morreram em Fortaleza.

Viagem sem Regresso

Num país onde as favelas, a pobreza e a criminalidade saltam a olhos vistos, a violência acaba sempre por ser uma constante, mas o mais drástico é que todo o crime foi engendrado por um português, grande amigo (expliquem-me o conceito de amizade deste indivíduo) de uma das vítimas.

Lares destruídos, famílias em estado de choque, e seis mortes cruéis, premeditadas, executadas num qualquer bar de uma praia de Fortaleza.

Não tenho como propósito contar a história destas seis vítimas, já contada milhares de vezes pelos órgãos de comunicação. Também não tenho igualmente como propósito descrever pormenores sórdidos, repugnantes, de uma madrugada que ficará sempre tatuada na história da criminalidade portuguesa e brasileira.

No local paradisíaco de uma das praias de Fortaleza, curiosamente da praia do Futuro, quando o futuro dos seis homens era a morte, quatro carnificinas, e um ser com uma mente maquiavélica, foram os implicados nesta história bárbara que teve um final surpreendentemente trágico.

Primeiro, não posso deixar de falar do Brasil. Terra de praias soberbas, gentes simples, música contagiante, o Brasil acaba por ser o modelo de umas férias bem gozadas para muitos. Mas, o Brasil a que os turistas têm acesso é um, e a realidade brasileira é outra.

Aquando da minha passagem pelo Brasil, recordo-me de me defrontar com as maiores imagens de pobreza, com rostos de fome, gente que não hesitaria matar em troca de uns míseros reais.

Porém, e acompanhando esta realidade bem visível, recordo-me também dos conselhos do Guia da viagem: cuidado com os assaltos, e se for vítima de um nunca resista.

Recordo-me ainda, dessa semana passada no Recife, da apreensão e do receio dos taxistas, a conduzirem a velocidades estonteantes, sem pararem nos sinais vermelhos, porque, segundo eles, em qualquer sinal poderia estar alguém escondido, apontar-lhes uma faca, e assaltá-los, ou quem sabe, levá-los a conhecer a morte mais cedo do que esperariam. Lógico que esta situação não pode ser generalizada.

Não se pode ir para o Brasil a pensar que se vai ser assaltado, porque senão não se sai do quarto do hotel.

É preciso, isso sim, algum cuidado, e olhos bem abertos, mas nada comparável a esta tragédia! Porém, estes receios e conselhos de que fui alvo, demonstram com exactidão a criminalidade verificada num país paradisíaco como é o Brasil.

Sem desculpa para a chacina cometida por três seguranças, amigos de Luís Miguel, o mentor da operação, e um cunhado, a verdade é que a forma como estes homens foram mortos acaba por impressionar em demasia, mas talvez não tanto, se tivermos em conta a realidade das ruas de qualquer Estado do Brasil.

Ainda assim, há um facto, esse sim ainda mais condenável e repugnante, que martela na mente de qualquer um que tenha ouvido esta história: os seis portugueses foram enterrados vivos.

Os quatro matadores, três seguranças e um cunhado de Luís Miguel, enterraram-nos vivos, sem qualquer piedade, depois de lhes baterem de todas as formas possíveis e imaginárias que se podem atingir um ser humano. Estamos perante seres humanos ou animais, predadores, prontos para matar a qualquer instante?

Luís Miguel, ‘amigo’ de uma das vítimas, foi o ‘manda-chuva’, como popularmente se diria por terras de Vera Cruz, de toda esta tragédia. E, é exactamente este homem, sem, no entanto, esquecer por um segundo a crueldade dos quatro ‘animais’ que protagonizaram o crime, que me revolta ainda mais.

Como é possível alguém ser amigo de outro alguém e atraí-lo até ao Brasil para o matar? Este homem, Luís Guerreiro, planeou a sua morte, roubou-lhe, ao ‘amigo’ e aos outros, quantias exorbitantes de dinheiro, ordenou a hora em que ele, e todos os outros, deviam ser mortos, enquanto, calmamente, bebia cerveja num bar qualquer.

E, mesmo depois da chegada dos matadores ao tal bar, Luís Miguel continuou a beber, como se uma comemoração se tratasse.

Tanto é que, no dia seguinte, apareceu em casa alegre, contente e feliz! Qual é o conceito de amizade deste sujeito? Como é ele capaz de planear um crime repugnante como este e, ainda para mais, ter a ousadia de chorar para as câmaras de televisão?

Quem comete um crime destes não merece qualquer perdão! Nenhuma desculpa é minimamente justificável para que possamos compreender, nem que fosse por um segundo sequer, Luís Miguel e o resto da sua quadrilha.

Há ainda em torno desta história um facto que merece um comentário: a forma como os media brasileiros expuseram todo este caso. Existe uma grande cumplicidade entre a polícia e os media brasileiros, mas por mais ansiosos que todos estivéssemos para saber o que tinha acontecido, julgo ser de evitar a passagem de determinadas imagens, como aquelas em que os corpos passam, completamente desfigurados. Ganha audiências e destaque a qualquer preço?

Parece, por isso, que o segredo de justiça não existe no Brasil, mas parece também que os media foram uma forma eficaz de trazer a verdade ao de cima.

E, ver pessoas algemadas, ou atrás das grades, a darem entrevistas, não é muito gratificante, mas tendo em conta o horror do episódio, qualquer situação é sempre reduzida para que estes ‘animais’(só os animais agem desta forma) paguem por aquilo que fizeram.

Tenho ainda a dizer o seguinte, relativamente a alguns fóruns da Internet que colocam em causa a relação entre brasileiros e portugueses por causa deste crime: o crime foi efectuado e pensado por pessoas más, ruins, sem escrúpulos, que não merecem qualquer respeito ou consideração da nossa parte.

Estavam envolvidos um português e quatro brasileiros, mas mesmo que fossem pessoas de uma mesma nacionalidade, isso não implica que se tomasse o todo de uma cultura a partir destes indivíduos. Tratam-se de desvios de padrão e comportamentos, existentes em qualquer sociedade!

Resta-me apenas expressar aqui toda a solidariedade para com a família das vítimas, desejando que casos como estes não se voltem a repetir. O Brasil é uma terra linda e tenho a certeza que esta tragédia não irá afectar o turismo português por lá, ou as nossas ligações com semelhante cultura.

De destacar todo o empenho das autoridades brasileiras, e dos populares, que em todos os momentos demonstraram também a sua solidariedade, e mesmo revolta, face a este acontecimento.

Para todos os envolvidos neste processo, o mínimo, seria a pena máxima! O ideal seria mesmo que passassem pelo mesmo que as suas vítimas, e serem enterrados vivos! Afinal, há ou não há justiça?

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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