Crónica: Um tiro pela culatra?

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Um tiro pela culatra. O potencialmente extremista governo está a ganhar uma projeção mediática que não teria conseguido nem com a melhor das campanhas.

A esfera política europeia caiu numa histeria totalmente descabida por causa do novo governo austríaco. A extrema direita subiu ao poder na Áustria, portanto vamos castigá-los, boicotá-los, votá-los ao ostracismo e dificultar da melhor maneira que pudermos todo o trabalho deles – é esta a base do discurso e das atitudes tomadas nos últimos dias face àquele novo governo.

Um tiro pela culatra?

Ninguém defende que um governo extremista – de direita ou de esquerda – deve ser apoiado dentro da União Europeia. Aliás, nem a legislação o permite. Mas também, convenhamos, as atitudes tomadas até agora são de uma infantilidade impressionante, e totalmente contraproducentes.

Em vez de se oporem ao extremismo (que ainda nem sequer se manifestou) de forma construtiva e com base em argumentos e princípios concretos, tudo o que fazem é dar visibilidade e prestígio ao governo que, a bem da verdade, foi eleito democraticamente pelo povo austríaco.

Em vez de trabalharem no sentido de impedir que alguma forma de totalitarismo se manifeste – e será que pode manifestar-se num governo de coligação? – , a Europa está a fortalecer a posição do governo dentro da Áustria, a aumentar o apoio popular – que já era suficiente para que o partido subisse ao poder – e a dar motivos mais do que suficientes para que a Áustria se sinta descontente e de certa forma traída não só pela União Europeia mas por toda a comunidade internacional.

Em vez de se ver obrigado a “baixar a grimpa” perante a lei europeia, o potencialmente extremista governo está a ganhar uma projecção mediática que não teria conseguido nem com a melhor das campanhas. E graças a quem? Pois é…

Os boicotes e as retaliações contra a Áustria durante os últimos dias demonstram mais intolerância do que o governo de Haider teve ainda oportunidade de demonstrar – se é que pretende demonstrar.

E se a União Europeia pretende erradicar todas as formas de intolerância, deveria começar por erradicar aquelas que se têm manifestado dentro do próprio parlamento europeu. Ou será que o Parlamento é do tipo “façam o que eu digo, não façam o que eu faço”?

Cronista da Mulher Portuguesa: Patricia Esteves Nunes

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