Crónica: Um perigo chamado voar

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Voar tornou-se em Portugal um verdadeiro perigo. Ir de Lisboa ao Porto, ou de Lisboa ao Rio de Janeiro, acarreta exactamente o mesmo perigo. O problema, dizem, é dos radares que já atingiram a ‘terceira idade’.

Um perigo chamado voar

Aprecio muito viajar! Aliás, julgo que querer conhecer novas culturas e gentes distintas de nós, deve ser um prazer para qualquer um. Eu, muito sinceramente, prefiro o carro a qualquer outro meio de transporte.

Para-se quando assim o entendemos, vai-se à velocidade que se quer, ou melhor, que nos deixam, e não temos chatices de querer descansar e estar um senhor ao nosso lado a ressonar ou alguma criança a cantar histericamente no banco de trás. No carro, somos donos da nossa própria vontade!

Há sempre outras hipóteses: o comboio, barco ou então o avião. Considerado o meio de transporte mais seguro de todos, o avião é ainda uma forma de viajar que causa muitas náuseas a quem tem que se servir dele. (E, a mim, também não me dá assim um prazer muito por aí além, mas enfim!)

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Excluindo muitas das catástrofes que os aviões já protagonizaram, chegou agora a vez de outra bomba. Sexta feira de manhã ligo o rádio, e qual não é o meu espanto quando ouço dizer coisas impensáveis acerca do sistema de radar do Centro de Controle de Lisboa.

Anomalias e falhas no sistema são as palavras chave da notícia, o que me fez de imediato deixar de lado aquela ida ao Brasil para breve.(Paciência! Fica para a próxima…)

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Quando cheguei ao meu local de trabalho fui-me informar melhor acerca da dita notícia, ainda não ciente, como devem imaginar, da barbaridade com a qual fui acordada pela manhã. E, lá estava!

É mesmo verdade! Segundo o jornal ‘Público’, desde a segunda quinzena do mês de Dezembro que se têm registado problemas nos radares dando estes a conhecer percursos errados ou então a mostrar aviões a voarem em sentidos opostos, quando na realidade os dois aviões estão a voar no mesmo sentido e ao mesmo nível. (Imaginam o que pode acontecer não é?)

Outro problema que vem referido na carta redigida pela Associação Portuguesa de Controladores de tráfego Aéreo à Navegação Aérea de Portugal é que os aviões são instruídos para curvar à direita, mas aparecem representados a curvar para o outro lado.

Para além destes inconvenientes, o radar nem sempre está a transmitir informações chegando a ficar cerca de 8 segundos sem dar qualquer sinal. (Isto é totalmente inadmissível!) O aeroporto da Portela e os restantes que são orientados pelo Centro de Controle de Lisboa bem que podem ‘deitar as mãos aos céus’ por ainda não ter havido uma calamidade de danos irrecuperáveis.

Porém, há a salientar o episódio ocorrido a 25 de Janeiro no qual dois aviões iam a voar no mesmo sentido ao mesmo nível, embora o écran do radar mostrasse que ambos estavam em sentidos opostos.

Parece inacreditável e impossível que situações desta aconteçam. Mas, vocês, caros leitores, sabem o que disse um controlador de Lisboa, ao Público: ‘O equipamento está envelhecido’. (E que tal um lar de terceira idade para aparelhos velhos?)

Esta situação é um atentado à vida de qualquer ser humano que viaje através dos radares do Centro de Controle de Lisboa. Os radares apresentam falhas e os viajantes têm que se submeter à irresponsabilidade dos outros, sem nada conseguirem fazer e sem sequer se apercebem se está ou não um avião a viajar no mesmo sentido daquele em que está a viajar. Imaginemos que um avião viaja no mesmo sentido que outro, e que não é possível detectar-se essa situação?

Lógico que a catástrofe é mais que evidente. E, nessa altura, exige-se responsabilidades a quem? Em seguida, vêm as indemnizações, que não podem jamais pagar uma vida humana, a ver se conseguem calar o ‘Zé Povinho’ e abafar o assunto. Afinal, não é isso que se faz sempre por cá? O dinheiro em compensação da vida, ou a vida em troca de dinheiro?

Se viajar já trazia consigo inúmeras preocupações (pelo menos para mim), actualmente, qualquer pessoa que viaje segundo os nossos radares, tem motivos para estar duplamente assustada. É que não se trata dos problemas que o avião possa vir a sofrer, inesperadamente, quando está no ar, mas sim dos problemas que não são casuais e que todos sabem que existem. Aí é que reside o embrião de um problema que é conhecido nacionalmente, embora ninguém dos órgãos competentes do caso aparentem ter vontade de o resolver de imediato (tudo bem, foi marcada uma reunião de urgência, mas o que importa são as acções).

Como bons portugueses que somos, a solução deve ser o já famoso ‘deixa andar’ até que uma calamidade aconteça. Só aí se chora o ocorrido e se mete mãos ao trabalho. Sempre foi assim, e continuará a sê-lo, num país onde tanto se fala da preguiça dos alentejanos, embora a mim me pareça que essa preguiça é geral ou então é uma forma de rotularem os outros daquilo que realmente o são, seria bem melhor começarem a deixar-se de mesquinharias, grandes aparelhos aéreos ou luxos garridos para se preocuparem com a vida do seres humanos que necessitam dos serviços aéreos.

Na realidade, e se dantes era bem complicado para mim entrar num avião, agora não acredito que o volte a fazer, pelo mesmo tão cedo, até que esta situação esteja devidamente resolvida.

Ao menos deixem-me ir novamente ao Brasil, sem receios, embora tenha que ficar novamente impávida com aqueles constantes poços de ar, para dar um cumprimento mais íntimo a uma caipirinha bem ‘gostosa’, a uns ‘passinhos’ de ‘forró’, a uma água de coco bem fresquinha, numa daquelas praias paradisíacas, ou a um bom prato de picanha. Infelizmente, só o poderei fazer mais tarde, quando voar deixar de ser um perigo para todos nós! E, olhem que uma greve às viagens de avião não era mal pensado. Pensem nisso!

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