Crónica: Um americano em Lisboa

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Um americano em Lisboa, há que dar passagem ao Presidente. Buzinadelas e mais buzinadelas e, as gravatas já quase não existiam no pescoço dos homens e a maquilhagem no rosto das mulheres.

Um americano em Lisboa

Chegou na Terça Feira e regressou para outras paragens, logo na Quinta Feira seguinte. Quase que se poderia dizer que chegou, viu e venceu.

Por vários motivos, que não deixam margem para dúvidas, colocou os seus pés em território português com toda a pompa e circunstância que um americano merece.

Sim, porque afinal não era um americano qualquer, mas sim o Presidente dos Estados Unidos da América, Mr. Bill Clinton.

Terça- Feira, pelas 9.30, chegava-se ao Marquês de Pombal e já ninguém podia fluentemente passar. Porquê? Porque a comitiva grandiosa de Bill Clinton, nada mais nada menos que 1200 pessoas, estava prestes para chegar à sua local de estadia.

A residência, que iria acolher o amigo Bill, ficava mesmo ali ao pé do Centro Comercial Amoreiras e dava pelo nome de D.Pedro.

Caos instalado e filas intermináveis, porque há que dar passagem ao Presidente. Buzinadelas e mais buzinadelas, e as gravatas já quase não existiam no pescoço dos homens e a maquilhagem no rosto das mulheres ía saíndo aos poucos, tal era o estado de nervos, que misturado com o calor abrasador, não produziu a melhor receita para um início de semana.

Após tamanho tempo de espera, quando se chegava finalmente ao Hotel D.Pedro deparava-se com um cenário bizarro: um enorme toldo aclareado elevava-se impune à porta do hotel, para que os mais curiosos não pudessem sequer soltar um simples olhar ao Presidente, desse vasto território que são os States.

Quanto alarido se criou por causa da segurança do nobre senhor, que a melodia irritante de buzinas não parava de se ouvir por toda a zona circundante ao hotel.

Aliás, não compreendi muito bem o seguinte: a segurança era a máxima, mas sempre que o presidente saía do hotel era um corropio tal, que qualquer pseudo-inimigo poderia entrar em acção, já que a própria segurança assim o anunciava.

De reuniões com as nossas entidades máximas até a passeios mais na área do lazer, Bill Clinton dizia o quanto tinha adorado Portugal, principalmente o gastronomia, mais concretamente o peixe que devorou (perdoem-me a expressão) ali para os lados de Cascais, bem como a expressão saudosista irradiada da alma a que se deu o nome de fado, e que levou o nosso país além fronteiras.

A sua esposa já lhe tinha falado dos dotes gastronómicos portugueses, e Bill Clinton não se fez rogado e lá foi experimentar o peixe da baía de Cascais. Ele e a sua comitiva porque em matéria de presidências o lema “Um por todos e todos por um” é para cumprir à regra, claro está!

De sorriso nos lábios para todo o lado onde ía, Bill Clinton voltou a provocar o caos no dia da sua partida. Outra figura que se associou inesperadamente à comitiva, mas que partiu logo, foi o Primeiro Ministro de Israel.

Cá para mim, e colocando os acordos e negócios à parte, o Presidente de Israel veio cá também para ouvir o fado e comer o dito peixinho, mas cada um dá a justificação que quer. Não vos parece?

Desde a partida de Bill Clinton o caminho para as Amoreiras, proveniente da direcção do Marquês de Pombal, já está bem melhor, na medida do possivel, como é óbvio.

O Hotel D. Pedro voltou à sua fachada antiga e bem descoberta, e as 1200 pessoas que ali permaneceram (cerca de 300 eram apenas seguranças) já partiram para o seu destino, tornando novamente o D. Pedro num hotel público e de portas abertas para todos.

Impressionante as mudanças que um americano provoca num país pequenino como o nosso, pouco habituado a estas andanças, e a reservarem um hotel por inteiro destinado a uma comitiva cheia de gente dos States.

Há homens mesmo poderosos e que nunca mudam o seu carisma, com ou sem Mónicas à mistura.

Cronista da Mulher Portuguesa: Patrícia Esteves Nunes

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