Crónica: Sob o sol escaldante da praia

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Sol escaldante da praia
Sol escaldante da praia

Praia, rica praia! Finalmente, podemo-nos deliciar com banhos de sol escaldante e movermo-nos nas águas do Atlântico. Mas, o mais grave é as atrocidades a que temos que assistir nos areais da costa portuguesa.

Sob o sol escaldante da praia

A costa portuguesa tem andado ‘apinhada’, no bom sentido, claro, de corpos humanos, sedentos de bronze e de um merecido descanso. Isto é um facto que eu, e toda a gente, tem constatado! Mas, uma ida à praia pode não ser assim tão agradável como à primeira vista parece.

Primeiro, porque as filas de trânsito (que caos!) são uma das tais coisas às quais não podemos fugir (a não ser que tenhamos a coragem de nos levantarmos às 6 da manhã para irmos para a praia), e depois porque existem pequenos inconvenientes aos quais somos, literalmente, obrigados a assistir. É que ainda que o areal seja extenso não há uma grande hipótese de fuga, pois o ritual repete-se em todo o lado!

Já reparou a quantidade de pessoas que se aglomeram à sua volta na praia? Pois, mas a verdade é que nem sempre as pessoas são educadas! E, isso é mais das tais coisas que eu, e todo nós, constatamos! Primeiro, chegam à praia carregados de bugigangas, quase com a casa atrás, e decidem instalar a ‘barraca’ no primeiro espaço que encontram (que nervos!).

Recorde-se que esse espaço pode apenas dar para estender duas simples toalhas, quando na realidade esse grupo é de cinco, seis, ou sete pessoas. Mas, como bons portugueses que são estão-se literalmente nas tintas. (Nem todos, mas pronto!)

Montam ali a casa, com as crianças, o cão, mais as duas geleiras, as raquetes, uma cadeira de praia para o ‘chefe’(qual chefe?) da casa ler o jornal, mais as bolas, bóias e outros acessórios para distraírem as crianças. Instalam-se ‘à grande e à portuguesa’, e nem se importam se estão ou não a prejudicar as pessoas que estão a seu lado!

Nesta momento são cerca de 15 horas! Hora muito aconselhável, diga-se de passagem, para levar as crianças para a praia.

Não têm chapéu, camisola vestida, ninguém passou o protector neles, andam a deliciar-se a mandar areia para cima uns dos outros (os que estão ao lado também comem uns grãos) e, depois de comerem duas valentes sandes, daquelas com fiambre e queijo, com muitos mais ingredientes à mistura, e de terem bebido uma coca cola, ainda fazem birra a dizerem que querem ir à água. Os pais, pessoas educadas como já demonstraram ser até então, e pessoas também irresponsáveis, como vão demonstrar a seguir que também o são, lá levam os meninos a dar uma banhoca, com a barriga cheia, pois claro.

Isto quando não fazem pior e os deixam ir à água sozinhos, sem terem qualquer cuidado ou precaução, enquanto fumam um cigarro e depois, em jeito de satisfação ímpar, o jogam para qualquer local da areia. Aplausos para o povo português!

As cenas deste género, a que me vejo obrigada a assistir, repetem-se frequentemente. Sinceramente, não percebo como é que as pessoas não têm um pouco de consciência e não conseguem encaixar coisas tão simples, como o facto de não levar crianças para a praia nas horas em que o sol está mais forte, ou ainda que se deve fazer a digestão quando se acaba de comer. Será tão difícil compreenderem estas coisas básicas, ou terão os protagonizadores destes actos um QI muito abaixo da média?

(Alguém me explica?) Claro que o festival de cenas que revelam a falta de educação das pessoas não se fica por aqui! Em seguida, depois das crianças estarem 30 minutos a chapinhar na água, eis que decidem, o pai e os filhos, irem jogar às raquetes, ali mesmo. Lógico que a bola tem sempre uma direcção indefinida, e eu, tal como os outros, que nos defendamos!

Tanto pode ir ter às mamocas da rapariga que está mesmo ali ao lado, e neste caso o senhor faz questão de ir buscar a bola e pedir desculpa, ao mesmo tempo que direciona a sua vista para sítios mais volumosos do corpo da jovem, como a bola pode ir ter às sandálias da velhota que faz crochet, e neste caso o pai manda um dos filhos ir buscar a dita bola, e que se lixem as desculpas!

Este é o exemplo nítido da família portuguesa, com escassa educação, irresponsável com as crianças, que se está a borrifar para os bronzeadores e para essas coisas de ter hora para ir para a praia, e que arrasta consigo, sagradamente, tudo o que havia no frigorífico lá de casa. Mas, nem só com famílias deste género me deparo nas praias portuguesas. À falta de locais para namorarem, eis que muitos casais de jovens aproveitam a praia para darem vazão aos seus impulsos.

Então temos que ser obrigados a ouvir um chuac- chuac moroso, em jeito de quem parece que vai devorar um hambúrguer nos próximos cinco minutos, tal é a ganância que parece exalar daquele cenário a dois. Depois, é vê-los num jogo de mãos voraz (onde é que ele tem a mão???), a lambuzarem-se, literalmente falando, sem respeito pelas pessoas que estão em redor.

Mais tarde, e quando as coisas aquecem ainda mais, encavalitam-se um no outro e prosseguem a sessão de ‘pouca vergonha’. As pessoas comentam, falam, e depois não querem os jovens que digam estas coisas deles. (Ò meninos, vão fazer isso para outro sítio, e assim sempre podem alegar que são bem comportados pois ninguém viu nada)

A praia pode ser também um excelente local para apreciar a boa forma física, ou a falta dela, de determinadas pessoas.

E aqui temos três grupos:

os que realmente exibem um corpo bem feito, os que não têm problema em mostrar uma gorduras a mais, e aqueles que se julgam lindos de morrer fisicamente, mas que se encolhem todos porque, de facto, aqueles abdominais não são os melhores. Claro que no grupo dos que têm um corpo de fazer inveja, há sempre os que são discretos e os que gostam de se exibir.

Os homens recorrem aqueles calções bem justos, que permitem adivinhar as características do que está por debaixo deles (dos calções, entenda-se!), e as meninas compram biquinis reduzidos, e colocam óleo de coco no corpo, soltando um olhar felino.

Depois há ainda aqueles projectos humanos, com possibilidades de virem a ser esculturas andantes, mas que estão muito longe de o serem. Todavia, eles acreditam piamente serem verdadeiros(as) deuses(as) das praias. Que engano! Dizem que é bom sonhar, mas eu cá tenho as minhas dúvidas!

Depois de tamanhas constatações sob o sol escaldante da praia é hora de regressar a casa. Agora, é hora de recarregar as baterias, atestar os depósitos, comprar água, e talvez alguma coisa para comer, porque o regresso ao lar (doce lar) não vai ser fácil.

Filas intermináveis, misturas de sons musicais que se alternam com buzinas irritantes, falta de civismo na estrada, e de paciência, e a promessa de que para a próxima se sai mais cedo da praia para não se apanhar tanto trânsito (onde é que eu já ouvi isto?).

Promessas, meus caros! Simples promessas! No dia seguinte tudo se voltará a repetir, exactamente da mesma forma. Enfim, nós somos mesmo assim, e contra factos não há argumentos!

Um bom dia de praia para vocês, com mais ou menos cenas deste género. Sim, porque nestes casos, as coisas não são bem à escolha do freguês! Ai, se fossem!

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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