Crónica: Os mistérios do pó branco

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Cronistas da MulherPortuguesa
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O mundo anda apavorado com as histórias do pó branco. Ao mínimo sinal de alarme é criada uma verdadeira tempestade, sem que se consiga prever quais as consequências futuras desta vaga de terror biológico.

Os mistérios do pó branco

“Não há motivo para alarme”, dizem alguns, enquanto outros preferem optar pela lei do “todo o cuidado é pouco”. Afinal, em que é que ficamos? Há ou não motivos para alarme?

A possibilidade de ser contaminado pelo antraz parece ser um pensamento presente em cada português, a cada hora e instante, e ao mínimo indício de um pó suspeito gera-se a confusão. Aviões cuja partida se atrasa por um período considerável de tempo, ruas cortadas durante horas, e pessoas em pânico ao mínimo vislumbrar de uma pequena porção de pó, com características como as do antraz, dominam a actualidade.

Confesso que de início esta história do antraz parecia-me estar bem distante de Portugal, mas dadas as notícias sensacionalistas que têm vindo à tona na nossa praça pública, eu mesma estou particularmente atenta a esta situação, como aliás todas as pessoas que conheço. Todavia, é importante pensar os motivos pelos quais vivemos este período de crescente instabilidade. A verdade é que, quer queiramos quer não, os media têm uma quota parte de “culpa” por nos sentirmos assim.

Se analisarmos com detalhe as manchetes dos jornais chegamos à conclusão que eles fomentam o pânico. Qual a necessidade que há, quando ainda não se tem certezas de nada, de colocar títulos na primeira página verdadeiramente alusivos a um período de guerra biológica vigente quando a mesma ainda nem se iniciou, isto se algum dia acontecer?

Ainda que seja verídico o facto de terem sido detectados casos de antraz nos Estados Unidos da América, a verdade é que não se chegou a conclusões contundentes que nos possam levar a crer que a guerra biológica está em vias de começar.

E, isto, não sou eu que o digo, mas sim os especialistas na matéria. Embora as pessoas devam ser alertadas, é necessário ter um cuidado especial ao apresentar notícias na televisão e rádio, ou artigos nos jornais, com palavras fortes e pesadas que, inconscientemente, ficam nos ouvidos e mente de qualquer pessoa.

Ao noticiar cada suspeita de caso de antraz, dando-lhe uma atenção extrema, como se de um momento de glória ou de uma catástrofe nacional se tratasse, é natural que as pessoas fiquem apreensivas. As palavras seguintes ao susto, as típicas “não há motivo para alarme” ou ” o pó branco, afinal, não era antraz” podem aliviar as pessoas, mas vão torná-las cada vez mais paranóicas com a situação.

Não estou a dizer para que você, caro(a) leitor(a), não estar atento(a) a esta situação, mas não há dúvida que parte dessa preocupação é criada, em larga escala, pelos media.

Dar uma notícia, e sendo esta meramente uma suspeita, é semear o pânico, até porque em casos destes, com semelhante gravidade para a condição humana, deve-se ter um cuidado extremo ao escolher as palavras, facto que, na minha óptica, não tem tido a preocupação necessária por parte da maioria dos órgãos de comunicação social.

As cartas enviadas misteriosamente, sem remetente, começam agora a ganhar uma outra importância. Por isso, e a partir de agora, os apaixonados secretos deixem de as utilizar, pois pode acontecer que a mesma seja aberta por um grupo de pessoas representantes da autoridade, e assim o seu amor será de imediato abençoado pela lei.

Mas também há outra situação que deve ser analisada cuidadosamente: como os portugueses apreciam sempre uma boa partida o mais certo é começarem a ser enviadas cartas com um pó branco, qual farinha Maizena, apenas para a delícia de gente doente que não tem mais nada com que se preocupar ou com que brincar.

É triste esta situação vir a verificar-se, mas há malucos para tudo, e Portugal é doutorado neste género de brincadeiras de mau gosto. Pena que seja doutorado apenas nestas coisas!

Gostava também de deixar bem claro o seguinte: antraz é a tradução em português de anthrax, mas em Portugal esta doença é conhecida por carbúnculo, provocada pela bactéria bacillus anthracis, e é doença que afecta os animais, sendo transmitida para os humanos através do contacto com os mesmos. Os casos de carbúnculo, na sua forma primária, registados em Portugal, não são muito significativos, até porque a última pessoa a ser contaminada foi já há bastantes anos.

É importante que as pessoas percebam de uma vez qual a diferença entre estas três expressões, antraz, anthrax e carbúnculo, embora na realidade todas signifiquem realidades idênticas. Em vez de fomentarem o pânico entre as pessoas, os media podiam dedicar-se mais a estes pormenores e elucidarem correctamente as pessoas.

Especular sobre a existência de antraz em correspondência não vai levar a lugar algum, mas é natural que agora as suas cartas levem mais tempo a chegar devido às intensas “análises” feitas a cada carta.

Se, antigamente, receber uma carta poderia levar mais tempo que o normal, agora então prepare-se para adormecer enquanto espera pela chegada do carteiro. E, julgo eu, que ele nem precisa de tocar duas vezes como o outro do filme! Há ainda outra nota que gostava aqui de deixar: esta vaga de terror iniciou-se com os ataques à América no dia 11 de Setembro, e desde então o mundo respira o pânico a cada instante.

Alegando combater o terrorismo, os EUA decidiram atacar o Afeganistão, afirmando que iriam atacar somente pontos estratégicos e de cariz militar. Infelizmente, o mundo não tem assistido a essa realidade. As baixas civis e de vidas humanas inocentes é cada vez maior, e os mísseis a falharem o alvo têm sido constantes de dia para dia.

Se essa é a forma para combater o terrorismo, o melhor era estarem quietos no seu canto, e a tentarem manipular o mundo, como sempre o fizeram até então. Sempre o sabiam fazer melhor do que aquilo que apelidam de “combater o terrorismo”!

Para finalizar, não posso igualmente deixar de exprimir a minha indignação, a minha e a de todas as pessoas que se têm manifestado por mail, com as alterações registadas nas caixas Multibanco. Pagar para realizar qualquer operação no Multibanco?

E então quem é que me paga a mim pelo tempo que levo a “digerir” publicidade que eu não solicitei? Ninguém, não é? Então aconselho os bancos a contratarem mais funcionários pois a partir de agora as filas nos bancos vão ser mesmo intermináveis, isto no verdadeiro sentido da palavra! Só mesmo em Portugal!

Resta-me apenas dar-lhe um conselho: fique alerta com a correspondência que recebe, mas não faça disso uma verdadeira obsessão. É que, e como dizia o velho ditado, “nem sempre o que parece é”!

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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