Não acontece só aos outros… numa noite de fim de semana

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Não acontece só aos outros… Mas, escrito nos caminhos negros do destino, a saída não se avizinhava com o desfecho habitual.

Não acontece só aos outros

Noite de Sábado. Preparo-me para sair com as minhas amigas. Voltas e mais voltas, encontros, desencontros, planos para a noite e para o fim de semana. Bebem-se uns copos, contam-se histórias e, pouco depois de os relógios baterem silenciosamente as 12 badaladas, dirigimo-nos para o mesmo sítio de quase todos os fins de semana. A noite até se avizinhava divertida! Mas, escrito nos caminhos negros do destino, a saída não se avizinhava com o desfecho habitual…

Entrámos naquele bar. Local no qual encontro alguns amigos e muitos, mesmo muitos, conhecidos. Estava uma boa noite. Quente, a pedir farra até de manhã ou um daqueles banhos sob o olhar prateado do luar.

Eu e duas amigas minhas, sentadas na esplanada de um bar a decidir se íamos ou não ter com uns amigos à Costa da Caparica. Decidimos que sim. Porque não? Saímos só as três. Para trás ficaram alguns amigos e muitos, mesmo muitos, conhecidos e a promessa, via telemóvel, que em breve estaríamos na Costa da Caparica. E a noite parecia ser promissora, embora escondesse um final inimaginável…

Saímos do tal bar. Cortamos na primeira rua à direita. Um carro parou na esquina. Avançou e de seguida voltou a abrandar. Reparamos no carro, mas pensamos que seriam mais um daqueles “meninos” à procura de um engate para Sábado.

O carro parou junto a mim, mesmo atrás da minha figura e, num gesto impulsivo, lançou a mão pela janela e levou a mala que tinha ao ombro.

Num ápice, o carro cinzento, com dois individuos no seu interior, fez inversão de marca e rumou pela noite fora. Com a minha mala, os meus documentos de identificação, as minhas chaves, o meu telemóvel, a minha carteira, os meus cartões e todas as coisas que lá possuía de valor pessoal.

O pânico invadiu-me ali. Um vazio que não conseguia e que, ainda não consigo explicar até hoje. O tudo que se perde para dar lugar ao nada. Julga-se, hipocritamente, que estas situações só acontecem aos outros.

Porque é mais fácil afastarmos a ideia de assalto, ou porque não pensamos nisso para não vivermos dominados pelo medo. Certo é que, isto acontece a toda a hora, todo o instante, de dia ou de noite, sozinhos ou acompanhados.

Os momentos seguintes foram de total confusão, de consciencialização de um acto que me parecia um pesadelo, mas que tinha as provas reais à minha frente: não tinha ali nada!

Seguiram-se os telefonemas para o Sibs, na tentativa de cancelar o cartão. Mas, de início não se conseguia porque, ninguém atendia. Depois, porque a senhora do outro lado precisava do número da conta. Como se eu tivesse ali o número da conta ou as chaves de casa para lá entrar e, depois lhe dizer o respectivo número. Não tinha nada!

Outro número me foi fornecido para esse tipo de casos e só podia ser o do meu banco: Caixa Geral de Depósitos. Incompetência total! Uma máquina diz que não é possível atender o meu pedido. E os minutos passam velozmente, ao sabor do tempo que corre pela madrugada e eu ali, sem nada conseguir fazer. Presa ao nada e a pouco mais!

Rumo à esquadra da zona. Um agente atende-me cordialmente e dá-me todas as informações necessárias, e um sub chefe que mal sabe escrever no computador. Ainda para mais, escreve coisas no meu depoimento que eu não disse.

A parca promessa de que tudo vão fazer para apanhar os indivíduos e o tal carro, que era roubado mas, como alguém disse na esquadra, a dita viatura onde as minhas coisas se encontravam, anda muito e os carros da PSP não aguentam.

Contive-me mais do que alguma vez na vida, apertada pelo sufoco e irritada com a impotência deles e a incompetência da Caixa Geral de Depósítos. Irritei-me ainda mais quando, em vão, liguei para cancelar o meu cartão do telemóvel na TMN e, a pessoa que me atendeu, disse-me que nada podia fazer sem o PUK ou a referência multibanco.

Mas será que ninguém percebia que me tinham levado tudo? Eu, que pouco tempo antes, havia tomado conhecimento que, é só a PJ querer, e descobre, através do telemóvel, onde é que a pessoa que o possui se encontra.

Eu, que não sou nenhuma individualidade da sociedade, jamais podia usufruir desse serviço. Afinal, era só uma mala com tudo o que comprovava que existe uma Ana Amante à face da terra, dinheiro e um cartão multibanco!

Como não sou conhecida nacionalmente, o meu rosto só aparece na Internet e não na televisão, e como não vou a festas do Jet Set, nem devia valer a pena…

Ainda sinto no ombro o peso de um impulso a puxar a mala e a fotografia daquele carro cinzento, a avançar vagarosamente na nossa direcção. Não acontece só aos outros, e agora tenho mais certeza disso que nunca.

A única coisa que espero é que a TMN reveja os seus estatutos e que os serviços da Caixa Geral de Depósitos primem um pouco mais pela competência e disponibilidade, que actualmente não possuem.

Não se admite situações como estas. E já agora, o Estado que dê mais uns dinheirinhos para as autoridades terem carrinhos mais velozes…

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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