Crónica: GNR Apeada

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Crónica da Mulher Portuguesa
Crónica da Mulher Portuguesa

Imaginemos um GNR a correr desalmadamente cerca de 20 km’s porque uma pessoa foi assaltada, ou então, ‘apanhar’ a próxima carreira para chegar ao destino. Parece um filme do João César Monteiro, com imagens claro, mas não é!

GNR Apeada

Há uns dias tive a oportunidade de ler um artigo num jornal nacional que me intrigou bastante. Comecei a imaginar o cenário na minha mente, e a imagem que se formou na tela invisível do meu cérebro foi, no mínimo, bizarra.

É que as coisas a que assistimos no nosso país só podiam realmente acontecer aqui, no país dos filmes a negro, das sucessivas greves minoritárias, dos gangs do multibanco e de antigas Ministras da Saúde que afirmam ‘partir a loiça’! A notícia tinha por título ‘Falta de verbas obriga GNR a andar a pé’, e eu, na minha pura ingenuidade, julguei que isto seria alguma anedota.

As verbas fornecidas pelo Comando-Geral da GNR foram reduzidas substancialmente. Este corte foi executado nas verbas mensais para o combustível em cerca de 37% e, segundo o mesmo jornal, as viaturas recebidas ainda este ano podem não vir a ser usadas devido à falta de recursos monetários.

Não há dinheiro para o combustível, não há utilização das viaturas novas! Ora, isto é ridículo! Mais, não tem cabimento nenhum estar a equipar a GNR com novas viaturas, quando logo a seguir se dá um corte nas verbas.

Até parece aquelas senhoras vestidas a rigor, com adornos e acessórios de peso (mais peso do que valor), que soltam perfumes caríssimos e que, vai-se a ver, estão até às raízes dos seus cabelos, meticulosamente pintados de loiro, cheias de dívidas. Portanto, continuamos a parecer sofisticados e requintados por fora, enaltecendo uma falsa realidade, quando nos devíamos resumir à nossa condição mediana. (alguns nem a atingem, portanto o termo mediano é até um pouco exagerado!)

Eis que idealizei logo cenas mirabolantes na minha cabecinha! (Sr. João César Monteiro, tome bem atenção e talvez façamos um filme juntos, onde existem muitas imagens e não se ouvem as vozes. Ao contrário da ‘Branca de Neve’, mas em que o som é o barulho dos motores dos carros! O título é consigo, porque eu confio nos seus dotes e imaginação criativa para fazer bom cinema.).

Suponhamos que na freguesia de ‘Águas’ (provavelmente não conhece este local, mas isto é genuinamente português, e localiza-se no concelho de Penamacor, distrito de Castelo Branco) um homem, de nome Manuel, acha por bem ir pedir ‘emprestado’ uns tomatinhos (daqueles de cultivo, pois claro) à horta do Sr. Anastácio.

Como o povo português é mesquinho ao máximo, o Sr. Anastácio não achou piada nenhuma ao pequeno delito do Sr. Manuel. De caçadeira na mão, para a horta do Sr. Manuel,que se localiza na estrada de ‘Águas’ para ‘Aranhas’. Alguém, prevendo o conflito entre os dois, avisa a GNR para se dirigir ao local. Aqui, é que surgem os verdadeiros problemas.

Os GNR’s no seu posto de serviço são chamados para intervir. Não há dinheiro, por isso não há combustível. E, não havendo combustível, não há viatura. O problema aqui não é a discussão entre os dois ‘amigos’, mas sim a forma de intervenção da GNR.

As opções são algumas: podem pedir bicletas emprestadas aos filhos para ir até ao local, mas de certeza que a barriguinha que ostentam, devido ao ‘enorme esforço’ que desempenham ao serviço da GNR, não lhes vai dar para fazer o caminho todo. Então, a opção é ir de autocarro.

Espera-se pela próxima carreira que só sai da freguesia daqui a uma hora, e é se houver ainda, enquanto as pessoas têm todo o tempo do mundo para se ‘matarem’ (atenção que isto é pura ficção e que qualquer semelhança com o real é pura coincidência). Imaginemos uma assalto, um acidente, ou outra situação do género, e ver sair de um autocarro agentes da GNR?

Não é hilariante? E a segurança e protecção das pessoas, que deve ser imediata, onde fica? Claro que a GNR também tem oportunidade de ir até ao local a pé, mas o caminho é longo e quem sabe algum maluco não os ouse assaltar (isto há doidos para tudo, e assaltar a GNR deve ser o sonho de muito boa gente).

Se calhar o que remedeia isto tudo, ainda é a polícia ir até ao local onde está o Sr. Manuel e o Sr. Anastácio de carroça. Daquelas que ainda são puxadas por burros e, de certeza, que o Ti Jaquim não se vai importar.

Já imaginaram o que seria a GNR a fazer Operações ‘STOP’ na estrada com uma carroça? No mínino, os condutores pensavam que eram alguns malucos e nem lhes ligavam nenhuma, ou então, pensariam que o Carnaval, este ano, chegara mais cedo!

Estou aqui a colocar ironia e a dar um ar menos dramático a algo que pode vir a ser a situação futura de certas zonas do nosso país. Os ‘louros’ que vão para a GNR já não são muitos, e com este cenário passariam a ser muitos menos.

Trata-se de um caso grave e que, se por um lado causa algumas gargalhadas, provoca também muita insegurança. Na realidade quem se prejudica é o Povo! Mais uma vez, ‘o povo é que paga’ pelos exageros dos GNR’s! Ao menos, os Ti’s Jaquim’s de Portugal ainda podem ganhar uns trocos sempre que emprestarem a carroça à GNR…

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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