Crónica: Filas e bichas estão por todo o lado

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Filas, bichas ou o desespero de quem tem de esperar…

É típico. A qualquer lado que vá, do balcão do café ao do banco, da paragem do autocarro à caixa do supermercado, elas estão lá e não há como escapar. São as intermináveis filas, ou bichas termo português que caiu em desuso linguístico por ter outras conotações semelhantes a outros termos como os que os nossos avós usavam de broche ao peito, mas estou já a divagar.

As Filas e Bichas

Falava das filas. Mais compridas, mais organizadas ou simples, elas fazem parte da vida dos portugueses. Mas afinal o que é que as provoca?

Num destes dias fiquei atenta ao que se passava em meu redor e vi que as causas são imensas. Começando por um dia de trabalho, a espera pelo autocarro. O que a provoca, ora bem, o não cumprimento de horários por parte das transportadoras.

A somar a isto temos as centenas de pessoas que aguardam por um transporte até algum local, porque não podem ou não querem dar-se ao luxo de esperar horas enfiados nos carros com ar condicionado, protegidos das intempéries, ouvindo a música no rádio em vez da conversa de treta dos outros passageiros e, mas lá estou de novo divagando.

A seguir vem o bolo e o café onde também se espera para atendimento, e a culpa é dos empregados que não são suficientemente rápidos ou da máquina que precisa de aquecer. À hora de almoço uma passagem pela máquina de levantamento automático e aí temos aquelas pessoas que ficam fascinadas por tantos botões e parecem divertir-se a realizar operações atrás de operações, sem olhar a quem espera para levantar mil pauzinhos e que tem o estômago a roncar pelo almoço.

Ao fim do dia, algumas compras para o frigorífico de casa, e temos de esperar enquanto as caixas do supermercado fazem as contas, os clientes da frente contam os trocos, em busca da moedinha, ou lembram-se que ainda falta a garrafa de azeite que está na outra ponta do estabelecimento. E de novo a saga dos transportes, que parecem ainda menos preocupados com horários na hora do regresso a casa (afinal, o dia já está cumprido, não é?).

E isto é apenas num dia normal. Se juntar agora a necessidade de ir ao banco, vai na certa deparar com pessoas que gostam de contar as suas vidas aos empregados, que aproveitam as horas de maior movimento para pôr as contas em dia e saber o saldo dos familiares ou, perdem o tempo dos outros em discussões inúteis com os empregados.

Ou então tem o lado pior destas instituições, quando os empregados parecem estar perdidos num mundo de números, os computadores sempre avariados e as transacções demoram décadas (parece-lhe familiar? Eu não digo nomes.)

Mas o mais bonito ainda está para vir. Precisa de um papel burocrático? Então muna-se de paciência e muito savoir-faire, porque além de precisar de duplicados, anexos e ofícios de todas as cores, tem ainda de enfrentar solícitos funcionários que o olham de alto e acham que urgente é a necessidade de ir à casa de banho.

E depois tem aquelas pessoas que, ao balcão de qualquer sítio, gostam de contar e recontar os problemas aos funcionários, de exprimir todo o seu ódio/amor aos que se encontram presentes e mostrar documentos, papéis e afins mesmo que sintam que os desgraçados que aguardam na fila estão, em bom português, a bufar.

Afinal, ‘Estou na minha vez, não é?’.

Cronista da Mulher Portuguesa: Maria do Carmo Torres

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