Crónica: … (em inglês, dot dot dot)

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Como se já não bastasse ter de aguentar 2 horas de telenovela enquanto a concorrência dá um jogo de futebol… (em inglês, dot dot dot).

A nossa televisão dá-nos muito poucas alternativas de qualidade para aqueles programas que, a bem da verdade, todos sabemos não terem qualidade nenhuma. E existem programas desses nos quatro canais, escusado será estar aqui a nomeá-los. Por vezes até a publicidade surge como um bálsamo, naquelas alturas em que a mediocridade nos roubou a capacidade de reflexos necessária para estender o braço, agarrar no comando e com o click pôr fim ao suplício.

Mas também temos que reconhecer que, de entre os quatro canais há um que se destaca pela qualidade – sim, tem mesmo qualidade. Nem sempre, mas vai tendo. No entanto a capacidade de nos enfurecer consegue ser igual ou maior à dos outros três, se bem que, enquanto os outros nos exasperam pela falta de qualidade, este faz-nos perder a estribeiras pela falta de respeito.

A estratégia de concorrência põe de lado o que está na base do sucesso de uma televisão – o seu público. E o mais triste é que mesmo assim, entre a falta de respeito e a falta de qualidade, o telespectador português opta sempre pela falta de respeito. E viva as audiências!

Mas essa atitude já não é suficiente. É preciso mais. Como se já não bastasse ter de aguentar 2 horas de telenovela enquanto a concorrência dá um jogo de futebol, ter de ver um filme cujo final é cortado à última da hora porque na concorrência está a começar qualquer coisa importante, ter alguém que ameaça telefonar-nos para casa e pagar a quem estiver a assistir… Isto poderia continuar por muitas mais linhas, mas não vale a pena.

A questão é que agora já nem na publicidade se pode respirar um pouco. Porque se durante a publicidade mudarmos de canal, o apêndice de cartão colado ao écran – cuja “estética” desvia constantemente a nossa atenção daquilo que interessa (ou que na maioria das vezes não tem grande interesse) – que observa atentamente quem está ou não a fazer número nos audímetros, é ainda dotado do poder de castigar os mais desobedientes, tirando-lhe o direito ao rebuçado (às aparelhagens e televisões neste caso).

Enfim…. gostava apenas de chamar a atenção para o facto de que, perante este panorama, está mais do que na hora de a televisão estatal passar a cumprir a sua função como deve ser: prestar um serviço público, que vá de encontro não só das necessidades mas também do interesse do público português, e que nos dê a oportunidade de poder assistir aos programas de que gostamos sem quaisquer contrapartidas. Será impossível conseguir isso junto das outras televisões…

Cronista da Mulher Portuguesa: Patricia Esteves Nunes

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