Crónica: E viva o terrorismo

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Crónica Mulher Portuguesa
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Liguei a televisão e fiz zapping entre as notícias nos canais nacionais e nos de língua inglesa. Os meus ouvidos estavam estupefactos e os meus olhos quase que saltaram das órbitas com tanto terrotismo.

A mensagem era tipo: “coitadinhos dos Afegãos ou fogem, ou morrem nos bombardeamentos ou acabam por padecer à fome”.

Pensei: mas então não deveriam pegar nas suas armas, organizarem uma resistência e virarem-se contra os Taliban que os têm oprimido estes anos todos e feito viver na miséria?

Ou será que a coragem deles só serve para espancar e matar as mulheres, exigir que alguém os alimente, ou irem-se refugiar noutro país e saquearem quem os acolhe?

Não plantam batatas para alimentar os filhos – nem aprendem com os israelitas a transformarem o deserto em zonas agrícolas – preferem antes morrer à fome.

Mas plantam o ópio que chega às nossas ruas, sob a forma de heroína, e mata os nossos irmãos e amigos, aterroriza e desfalca as suas famílias Até se gabam de ter ópio para abastecer a Europa nos próximos 10 anos. E depois de tudo isto ainda têm o desplante de esperar que o ocidente os vá alimentar.

Com esta total falta de lógica, porque é que os Taliban não hão-de querer uma guerra feita à medida deles? Até dá jeito que não morra ninguém. Eles serão os heróis da fita e continuam a proteger quem matou mais de 5.000 pessoas. Já agora porque é que não hão-de ameaçar que vão matar mais? É o que está a dar!

Mas o que se pode esperar de um país que em vez de comida importa armas? Em que as mulheres só podem ser vistas tapadas e, como não apanham ar nem sol, morrem mais cedo com doenças completamente desnecessárias?

Dei comigo a pensar: Será que só eu é que vejo isto? Há um filósofo americano que diz que aquilo que o homem tem mais dificuldade em enfrentar é o mal.

Só isto pode explicar porque é que continuamos a justificar e a aceitar comportamentos tão aberrantes.

Já chegava de tormento. Ia eu passar para um qualquer canal de música quando foi a vez de Arafat falar. Este protestava que Israel tinha feito uma execução sumária ao matar um membro do Hamas responsável por vários ataques terroristas em Israel.

Ai mãezinha! Arafat exigiu que Israel libertasse o líder do grupo terrorista Hamas, como parte do processo de paz, porque ele se tornaria obviamente num pacato cidadão da Palestina liberada e chefiada por Arafat. Os Israelitas, que são realmente muito crentes, assim fizeram.

E a provar que Arafat realmente não é um homem de palavra, só este ano o Hamas já realizou mais de trinta ataques suicidas em Israel. Arafat viu e não fez nada para repreender e muito menos chamar à responsabilidade aquela organização terrorista. Pior ainda a Frente Popular de Libertação da Palestina afecta a ele próprio também tem perpetrado vários ataques terroristas ultimamente. O último foi a morte de um ministro do governo israelita hoje mesmo.

Devemos andar todos a dormir. Afinal, o homem que apoia terroristas pactua com eles e serve-se deles para encostar os papalvos dos israelitas à parede anda a ser recebido por chefes de estado e exige-se a Israel que o aceite como Presidente da Palestina e se sente à mesa com ele para lhe entregar territórios e negociar a segurança do Estado de Israel. Ironia?

Então mas deixa-me analisar isto bem. Os EUA e a Inglaterra vão fazer guerra no outro lado do planeta para extraírem Bin Laden e contam com o apoio de meio mundo, incluindo o nosso.

Mas, pelos vistos, Israel não tem o mesmo direito de se defender do terrorismo. As crianças israelitas morrem pela mão da mãe a caminho da escola devido a ataques suicidas, os idosos explodem nas paragens de autocarro e os maridos foram para os anjinhos no parque de estacionamento a caminho de casa. Mas isso não faz mal.

O turismo em Israel está pelas horas da amargura e a economia altamente sofredora mas ai dos Israelitas que se tentem defender. Eles não têm esse direito.

De repente fez-se luz no meu espírito! Será que afinal de contas os Judeus, que lapso… queria dizer os Israelitas, continuam a ser cidadãos de segunda classe e carne para canhão – agora mais propriamente para o terrorismo?

E Israel, que não só tem a bomba atómica como destruiu a possibilidade de o Iraque a ter, até quando vai andar nestas bolandas?

Ainda não me tinha refeito da minha perplexidade e eis que aparece no grande écran o Presidente do Egipto a exigir que Israel devolva todos os territórios ocupados aos países árabes a quem pertenciam anteriormente. Mas anteriormente a quê?

Lá me lembrei dos factos. O Estado de Israel foi criado por ordem das Nações Unidas em 1948, há mais de 50 anos. Volta e meia os países árabes têm-se junto e atacam-no. Aliás fizeram-no logo no dia seguinte à proclamação da independência de Israel e perderam.

Da última vez que repetiram a graça foram vencidos como tem sido seu costume. Mas exigem reaver tudo o que perderam. Que mau perder. Devem viver noutro planeta ou serei eu que não tenho os pés bem assentes neste?

Então a regra não é quem vai à guerra dá e leva e quem apanha mais, normalmente não fica em condições para fazer muitas exigências? Indagando aqui e acolá o que é que eu fui descobrir? O único país onde os palestinianos vivem em democracia e em igualdade é no Estado de Israel. Têm um partido político com assento no Parlamento que os representa.

Praticam livremente a sua religião, são professores universitários, homens de negócios, trabalhadores manuais, engenheiros, médicos e artistas. Têm acesso à educação, à saúde e à segurança social.

Estão dispensados do serviço militar, têm passaporte, viajam livremente, têm as suas escolas, mesquitas e clubes.

Muitos dos que fugiram para outros países árabes ainda vivem hoje em campos de refugiados (alguns há mais de 30 anos). Só têm acesso à educação e à saúde se houver vaga. Isto na prática significa que a maioria dos jovens não têm acesso ao terceiro ciclo nem ao ensino universitário.

Se têm trabalho normalmente é muito mal remunerado e não têm um partido político que defenda os seus interesses. Como muitos se queixam nem passaporte têm, ou seja os países árabes nem asilo político lhes deram, o que quer dizer que não podem emigrar à procura de melhor vida.

Mas isto não deixa de ter a sua lógica, estes países têm uma farta mão de obra barata que eles exploram convenientemente e elegem como sendo os judeus, os israelitas, os maus da fita e responsáveis por todos os seus. Onde é que eu já ouvi esta história? Na Alemanha Nazi? Bem mas concerteza que na Palestina tudo é diferente. Será?

Parece que Arafat se distraiu e não usou o dinheiro, que recebeu para construir o país, para criar empregos, construir escolas, hospitais, estradas e outras infra-estruturas. Dizem que se abotoou com ele e o distribuiu pelos seus homens fortes e familiares, mas isto devem ser só as más línguas…

Mas a realidade é que grande parte dos palestinianos que aí vivem dependem do trabalho que têm em Israel. Afinal são os seus inimigos mortais que lhe dão o ganha pão que lhes permite por comida na mesa e tratar da família. Quando os Israelitas dizem que não os querem a trabalhar lá porque aproveitam a livre entrada e Israel para fazerem ataques suicidas o mundo clama que os israelitas são uns maus.

Em vez de criar instituições democratas e dar o exemplo de um governo incorrupto Arafat montou nove serviços secretos e possui uma força policial com 45.000 elementos.

Resultado a Palestina é o país com maior número de agentes secretos per capita no mundo. Se alguém se lhe opõe utiliza a tortura e outros métodos de persuasão igualmente pouco ortodoxos.

Ora como lhe convém bem a ideia que o grande inimigo do povo palestiniano são os israelitas, os judeus, e que a população ande nas ruas a protestar contra eles e contra os Estados Unidos e a auto-martirizar-se.

O director de um grande jornal árabe em Inglaterra disse que o guerrilheiro Arafat, que pôs a Palestina no mapa, não soube evoluir e tornar-se um estadista. E acrescenta que em vez de ter construído o Estado da Palestina criou, quanto muito, o país de Arafat.

E o que é que se pode esperar de um terrorista consagrado, ai desculpem até recebeu o prémio Nobel…

Mas que se serve do terrorismo e que mente impunemente? Que ponha os olhos em Xanana Gusmão e aprenda a ser um estadista, a apelar para as semelhanças e para a paz. Defenda os valores democratas e humanos e saiba liderar o seu povo na construção de um país próspero.

Arafat teve o seu papel na História mas não será altura de perguntarmos será que não há mais ninguém capaz de governar a Palestina? Há, homens e mulheres que não querem a violência, políticos, empresários, engenheiros, economistas, professores e artistas.

Mas Arafat não quer. Tem afastado todas as pessoas do seu governo que não o seguem cegamente, que procuram a via da não violência ou que não aceitam pactuar com a corrupção vigente.

E claro que Israel é uma tentação, mesmo ali à mão de semear. Os Israelitas secaram os pântanos (e muitos lá ficaram com malária enquanto o faziam), transformaram o deserto em terra arável, construíram estradas, escolas, hospitais, indústrias e empresas.

Agora que está tudo pronto é só ir reclamar às Nações Unidas que afinal aquilo até é deles.

E as centenas de milhares de israelitas – judeus árabes – que se viram forçados a abandonar os seus países de origem tais como o Irão, o Iraque o Sudão, Iémen e tantos outros? Deixaram para trás as suas casas, os seus negócios, as suas terras. Perderam tudo.

Ninguém os indemnizou ou lhes dá agora a possibilidade de regressarem e de re-haverem o que era deles.

Também encontrei judeus, cujas famílias viviam há séculos no que é hoje o Estado de Israel e que, antes da sua constituição, viram as suas casas e os seus terrenos ocupados, os seus negócios ursupados ou destruídos pelos palestinianos e até a família morta. Outros fugiram para não serem chacinados e mais tarde voltaram para começar do nada e ver os seus bens pertencerem a árabes. Quem vai à guerra tanto dá como leva…

Realmente não parece ser olhando para trás ou clamando olho por olhos que a paz e a prosperidade vão chegar aquela parte do mundo. Ambas as partes cometeram os seus erros mas uma coisa é certa, o conflito não serve a nenhum dos povos que têm, aliás, muito em comum. O tal filósofo americano diz que quando há um conflito entre duas partes que não se resolve, apesar dos esforços desenvolvidos por ambas as partes, é porque o conflito foi criado e está a ser alimentado por uma terceira parte insuspeita. Quando se descobre essa terceira parte parece inacreditável que possa ser verdade. A terceira parte tem sempre muito a ganhar com o conflito. Interessante…

Respeitando-se e trabalhando em conjunto Israel e a Palestina podem alcançar a paz duradoira e a prosperidade para ambos. Quanto a mim o grande problema é que a Palestina seria então o primeiro país árabe democrata e próspero. E será que isso interessa aos outros países árabes? Duvido! Além disso, Israel, os EUA e o Ocidente deixariam de ser o grande bode expiatório responsável por todas as desgraças nesses países o que significaria que o povo podia abrir os olhos e ver que quem os explora são os seus governantes e os homens religiosos extremistas.

E, horror dos horrores, quem sabe se as mulheres não quereriam ter mais alguns direitos humanos? E é tão bom ter três ou quatro mulheres, vinte, trinta ou até cinquenta filhos e depois ir reclamar biliões de dólares, em programas de ajuda humanitária, aos papalvos dos outros países. A ONU até diz: “coitadinhos, coitadinhos…”

O que eu pergunto é até quando é que os homens que só têm uma mulher, dois ou três filhos, e trabalham arduamente, estão na disposição de acartarem com a fama de serem… (falta-me a palavra) e ainda por cima de pagarem a conta? Ah, já me lembro: de serem trouxas!

E não será também caso para perguntar até quando é que nós mulheres, que também só temos um marido e um ou dois filhos, estamos dispostas a sustentar aquela forma de vida e a pactuarmos com a exploração, a humilhação e a falta de direitos humanos dessas mulheres e dos seus filhos?

E é preciso não esquecer que a violência doméstica (seja física ou psicológica e exercida sobre a mulher ou a criança) é considerada tecnicamente uma forma de terrorismo. Como qualquer acto de terrorismo não se sabe quando vai acontecer, onde vai acontecer, como vai acontecer nem porquê. Para mim é óbvio que qualquer país que trate mal as suas mulheres e as suas crianças (em suma metade da sua população) será um país miserável e onde não reina a felicidade. Não é dizendo “coitadinhos”, ir resolvendo os problemas por eles criados e desresponsabilizando-os das vicissitudes em que se encontram que a sua situação irá melhorar de facto. Para aqueles que etão nos campos de refugiados mandem-lhes comida e sementes. Ensinem-nos a cultivar a terra com muito pouca água e pohnam-nos a trabalhar. Façam uma escola dentro do campo em que os adultos ensinam as crianças e os outros adultos analfabetos. Se há alguém com alguns conhecimentos de saúde criem uma unidade de saúde com os meios que têm. Isto são apenas alguns exemplos.

Ensinem-lhes cuidados primários de salubridade e criem equipas de refugiados para manterem o campo limpo organizado e até algumas actividades sociais. É trabalhando que as pessoas se sentem capazes, úteis, felizes e com uma boa auto-estima. Aprendem a controlar o ambiente e deixam de ser vítimas do sistema em que vivem. Aprendem a viver com dignidade e passam a querer ter voz activa. E, quando puderem voltar para a sua terra irão construir um país melhor.

Só ajudá-los sem lhes exigir que participem activamente, e arduamente, par melhorarem a sua sobrevivência e qualidade de vida é um erro.Isso é ensiná-los a ser dependentes e a exigirem que alguém tome conta deles, tornando-se párias da sociedade em que vivem e da sociedade internacional. Com isto eu não estou de acordo. Quanto a mim a ONU tem que rever a forma como ajuda porque mantém as pessoas vivas mas não as torna mais capazes de sobreviverem. Isto é um erro e um ciclo vicioso insustentável.

O telefone tocou era uma amiga palestiniana. Conversámos e ela, palestiniana católica de Belém, disse que já quase não há famílias católicas a viverem em Belém. Mas então mas a comunidade de árabes católicos em Belém era grande e importante? Por isso mesmo as mulheres e as crianças são incomodadas na rua e até agredidas. As suas casas alvejadas, os seus negócios saqueados e os homens ameaçados. Pelos Israelitas?

Não pelos nossos irmãos palestinianos mas muçulmanos que não aceitam a nossa religião, as nossas tradições e muito menos a nossa forma de viver. Sabes, é que não tapamos a cara, andamos na rua sozinhas e até trabalhamos para ajudar a família ou porque temos honra em servir a sociedade. Pecados mortais… Estamos fartos de ser aterrorizados.

Então… e os lugares sagrados em Belém, mantidos ao longo dos séculos pelos católicos em conjunto com Israel quando Belém lhe pertencia? Se os palestinianos muçulmanos reclamam Jerusalém como a sua capital devido aos lugares sagrados dessa cidade para o Islão, também devem compreender a importância de Belém para os católicos, não? Olha, deles rezará a História.

Amanhã não vou trabalhar. Vou escrever à ONU e às organizações de ajuda humanitária e peço-lhes umas comidinhas e uns cobertores porque o Inverno vem aí. É o que está a dar!

Virgínia Costa Matos
Autora de Tabu, romance sobre a violência entre o casal.

 

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