Crónica: a nova imagem do típico Zé Povinho

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Cronistas da MulherPortuguesa
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O Zé Povinho já não tem a típica barriga, a barba farta, e um aspecto rural. Agora, o Zé Povinho é magricelas, faz um V de vitória com os dedos, esboça alguma diplomacia ao conversar, e reside em Barrancos.

O típico Zé Povinho

José Maria Seleiro é o nosso herói. Gosta de pintar, desenhar, e a sua casa mais parece o Jardim Zoológico já que tem uma boa quantidade de espécies de animais (embora as galinhas sejam certamente as suas preferidas).

O Big Zé, como assim ficou conhecido pelo país inteiro, entrou, silenciou-se, soltou as garras e venceu. Directamente da terra dos touros de morte para a capital, o Zé Maria protagonizou o verdadeiro herói que o povo aclamou e tornou um símbolo nacional.

O Zé Povinho é agora uma figura real e ao alcance de todos! Mas, ao contrário da figura rural e humilde do original, encontramos um homem franzino, com 20 000 contos, um carro, e mais uns ‘trocos’ de quantias exorbitantes que o público não teve ainda oportunidade para conhecer o real valor. Boatos…

O Big Brother trouxe para as capas das revistas e écrans televisivos dozes pessoas, embora não nos possamos esquecer dos dois suplentes, desenvolvendo em Portugal um fenómeno até agora nunca visto.

Quer a minha pessoa entrasse num transporte público, estivesse num café, ou caminhasse calmamente na rua, havia sempre alguém que falava do Big Brother: era sobre o pontapé do outro, das cenas escaldantes entre esse outro e a outra, sobre a falta de cultura dos concorrentes ou o ridículo da exposição daquela vida ociosa. Mas, sempre que se ouvia falar do programa havia sempre aquele nome que habitava todas as conversas: Zé Maria.

O barranquenho tornou-se um ‘mito’ nacional. Fizeram-se t-shirts com o seu rosto, criaram-se sites na Internet sobre a sua pessoa, conferindo-lhe o apoio digno de uma ‘estrela’ da plebe e, aos poucos, todos os ‘Big Brother maníacos’ aclamavam pela vitória do humilde ‘Zéi’, como dizem os alentejanos.

Desde o momento em que nomeou o Telmo, trocando-lhe o nome e apelidando-o de César, que o público o tornou a figura mais popular do concurso. Do excesso de distracção, humildade, doçura, sensatez e alguma malícia, nasceu o Big Zé. Mas, o barranquenho passou, como se diz na gíria, ‘as passinhas do Algarve’ ou melhor ‘os chouricinhos de Barrancos’ (que bem bons são) dentro da casa da Venda do Pinheiro. Invejado por uns e apelidado de ‘coitadinho’ por outros, o Zé lá venceu o Big Brother.

Porém, o nosso Zé é atrevidinho! Aos poucos, lançou as garras para uma das suas princesas, quanto a mim a sua preferida, a Susaninha. Bem que ele tentou, mas nem o facto de no Natal lhe ter ido oferecer o corpinho com a sua tanguinha vermelha (qual pai Natal no Verão…) fez com que a Susana abandonasse o seu bolinha de pêlo.

Sim, porque convenhamos: o Zé Maria pode ser muito simpático, divertido e tudo o mais, mas uma bola de pêlo dá sempre muito jeito para aquecer no Inverno. Mas, o melhor ainda estava para vir: quando há dias se juntaram os eis residentes do Big Brother, o bolinha de pêlo também foi, e aproveitou logo para informar o Zé que se a Susana fosse com ele para a tal viagem à Amazónia ele também iria.(É de macho, sim senhora!)

O Zé parece tão inocente!… Mas a mim, a sua inocência parece-me estar disfarçada de uma imaginação fértil, de um Q.I bem mais elevado do que julgam, e de uma ‘esperteza’ evidente, embora camuflada por um estado de indiferença e de timidez, muito bem aproveitada e aplicada nos momentos certos. O Zé Maria é um misto de verdade com disfarce, de pureza com uns laivos de malícia, de aparência frágil com garra de leão.

Custa às vezes crer, pelo menos a mim, que uma pessoa possa ser assim tão simples, quando no fundo todos nós temos que ter uma ponta de maldade e de snobismo. Todos protagonizamos pequenos actos heróicos, mas acima de tudo realizamos grandes gestos de crueldade.

A Cegonha, aquela que aparenta ser casada e mãe de dois filhos, é uma amiga muito especial do Zé Maria. Quando declarou que fazia amor com a Cegonha, tê-lo-ía dito no sentido puro do acto ou para fomentar problemas no relacionamento do casal, abalando também a pacata vila raiana? Ao sugerir à Susana uma viagem à Amazónia, sem o respectivo namorado, respeitaria o Zé Maria o bolinha de pêlo? E quando, sem qualquer pudor, nomeou aquela que hoje convida para viajar com ele para a Amazónia?

Estaria o nosso Zé Povinho a nomeá-la por um descuido não justificado, ou porque a Susana lhe parecia um potencial rival? Para trás ficará Barrancos, a ‘sambomba’, possivelmente a Cegonha, a natureza da planície, e a empresa da construção civil do pai do Zé Maria.

Abriram-se as portas para a fama e estrelato. É a partir daqui que veremos quem é realmente o Zé Maria! Mas, o lado que tem de malicioso ou de incompreensível tem também de bondade. Ao pai, entregará o dinheiro necessário para pagar as dívidas da família, e de projectos para o futuro apenas pede um lugar como auxiliar de cozinha ou designer.

Mas, o Zé Maria ainda não se apercebeu da popularidade que tem, das manifestações a seu favor, e do quanto o país queria que aquele jovem humilde de Barrancos desse uma lição aos machos, ‘meninos’ e ‘meninas’ da casa da Venda do Pinheiro.

Segundo um jornal de tiragem nacional, o Zé Maria declarou que aquilo de que sentia mais falta era de sexo, e que acordou muitas vezes molhado pela manhã. Este é o homem que venceu o Big Brother: direto, espontâneo, forte nas horas certas, sem medo do trabalho, e com uma enorme carga de ingenuidade e humildade que traça as suas tão características expressões. ‘Sem dúvida’, ‘magana’, ‘tu realmente’, ‘poias’, ‘amorável’ ou ‘princesinhas’ foram palavras que marcaram a imagem do Zé.

A Endemol soube aproveitar o carisma deste barranquenho, e os boatos de que o prémio final já estava destinado desde que o Zé chamou César ao Telmo continuam a ser uma verdade para muitos. Ganhou o Zé, a TVI, vencendo a guerra das audiências e ganhou também a Endemol. E, tudo parece ter ficado bem para todos!

Zé Maria, um cavalheiro dos tempos modernos, que soube agarrar e seduzir o público, e que afastou logo de início qualquer outro dos concorrentes da meta da vitória. Após a vitória, dos 20 000 contos, do carro, e dos rumores de contratos milionários que dizem estar à sua espera, apenas falta ao Zé ganhar o último dos troféus: a Susana. Parece que por quatro meses o público português esqueceu-se que este homem vem das terras dos touros de morte, e que agora Barrancos ficará mais poderosa que nunca! E, o volume do orçamento da TVI, Endemol e do Zé Maria também!

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