Olhei para mim e vi que parecia você de Margarida Reimão

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Olhei para mim e vi que parecia você de Margarida Reimão
Olhei para mim e vi que parecia você de Margarida Reimão

Um momento de poesia com Margarida Reimão, retirado do livro Canto Ao Vento, partilhamos consigo o poema: Olhei para mim e vi que parecia você.

Olhei para mim e vi que parecia você.

Olhei para mim e vi que parecia você.
No entanto, acreditei não ter mutações.
Fui vacilante, mas deixei seus gestos
Irem se incorporando a mim.
Deixei que meus poros absorvessem seu cheiro

E que meus nervos respondessem aos seus reflexos
Fui distanciando-me do que era meu
Para viver dentro de você
Numa transgressão alienada e anárquica.
Com desespero calmo, separei-me do mundo

E fui morar cada vez mais dentro de você
Até que minha carne contraiu suas formas
Meu suor passou a ser o seu suor
O gosto de minha boca ficou igual ao da sua

E, nessa loucura perseguinte
Pisei na realidade com fantasia utópica.
Olhei em sua direção e enxerguei com seus olhos,
Depois o cansaço veio e tomou conta de mim
Nesse repetitivo jogo de imagens.

E foi assim que atravessei minha lógica e me conheci,
Descobrindo minha avenida larga
E foi naquele momento que eu quebrei o espelho.

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