E a Terra Tremeu…

1561
E a Terra Tremeu...
E a Terra Tremeu...

E a Terra Tremeu…

Às nove e meia da manhã, toda a população de Lisboa se dispunha a gozar o primeiro dia de Novembro, data religiosa, em que se comemorava o Dia de Todos os Santos. Meia hora depois reinava o caos.

Foi a 1 de Novembro de 1755 que um terrível terramoto sacudiu a cidade de Lisboa e arredores, fazendo ruir cerca de dez mil edifícios, entre eles muitas igrejas, e provocou muitos mortos, dos quais ainda se desconhece o número preciso. Uma das causas foi o facto de ser hora da missa e estar muita gente a assistir ao evento num local fechado e pouco seguro como as igrejas. Os nobres foram os mais poupados, porque tinham o hábito de assistir à missa mais tarde.

As destruições do sismo e do fogo afectaram sobretudo o centro de Lisboa, sendo que os bairros mais velhos como a Mouraria, Madre de Deus, Xabregas pouco sofreram, o mesmo acontecendo com os bairros mais recentes da época como Arroios, S. Sebastião da Pedreira, Jesus, Rato e S. José.

O sismo foi de tal magnitude que os relatos da época dizem que ‘a terra tremeu e estava numa tão grande agitação que se assemelhava a um líquido ondeante e fervente.’ (José Gorani).

Se por um lado se atearam vários incêndios, por outro era a água que devastava o pouco que aguentara de pé. No rio e o mar formaram-se ondas gigantescas que chegaram a atirar com os barcos a algumas milhas para o interior da cidade.

Muitas pessoas procuraram refúgio nas igrejas e acabaram por morrer quando estas desabaram sobre si, quer em Lisboa quer, por exemplo na Cova da Piedade, área que também sofreu bastante as consequências do terramoto.

Neste dia, ficou a devoção de celebrar, para além do Dia de Todos os Santos, um agradecimento religioso por todos os que sobreviveram ao sismo, e dele se contam lendas explicadas apenas pelo fervor religioso e pelo pânico que foi sentido. Na Arrentela, Seixal, a procissão de 1 de Novembro tem um cariz especial porque é referido que, na aflição do terramoto, a população que acorreu à Igreja apenas conseguiu alcançar a imagem de Nossa Senhora da Soledade e com ela seguiram em procissão até à praia, vendo que as águas do rio Judeu, que ameaçavam a zona numa enorme onde já formada, se retraíram e voltaram ao curso normal. Por esta razão, no dia de finados a procissão pára ainda no local onde a imagem foi colocada nesse fatídico dia.

Dez anos depois, quem passasse por Lisboa encontrava ainda vestígios do cataclismo, apesar da política de reconstrução levada a cabo pelo Marquês de Pombal. Numerosas ruas estavam ainda atravancadas de ruínas, local perigoso para quem por ali passasse, por ser um fácil esconderijo para ladrões.

A catástrofe deu ao ministro do rei a oportunidade de reformular a cidade. A primeira medida foi a supressão de julgamento para os ladrões de salvados, para os quais passou a haver ordem de imediata execução no local onde fossem apanhados em flagrante. Os regimentos do exército foram enviados para as estradas a obrigar a população, que fugira em pânico para as estradas, a voltar à cidade.

Seguidamente começou-se a reconstrução da cidade, tendo os donos dos imóveis recebido ordens de não avançar com obras sem que antes fosse aprovado o plano geral de recuperação. Os que não cumpriram esta ordem, viram as suas obras demolidas e foram ainda obrigados a pagas as despesas de demolição.

O projecto para a nova cidade data de 12 de Junho de 1758, organizado por arquitectos portugueses, embora com a intervenção definitiva do Marquês – uma planta rectilínea e geométrica , alçados iguais para todos os edifícios, ausência de palácios ou de qualquer sinal que pudesse sugerir a nobreza do proprietário, tudo em nome da uniformidade, que chegou mesmo ao ponto de decretar a proibição de vasos ou alegretes à janela. Mesmo as igrejas foram obrigadas a alinhar pelos demais prédios. Todos os proprietários dos imóveis eram obrigados a construir consoante o projecto no prazo de cinco anos, ou perdiam o direito à propriedade.

Em 1763 muitas das casas já estavam prontas mas a população ainda se recusava a viver lá, preferindo as barracas, mas uma nova lei ordenou a demolição das barracas, com o fundamento de que teriam sido construídas no período em que a construção estava proibida.

Das ruínas de uma cidade medieva e suja, nasceu uma nova Lisboa, cuja marca principal se encontra na Praça do Comércio, ou Terreiro do Paço, área destinada pelo estadista a reunir as forças que deviam formar o país: nos andares nobres as secretarias de Estado, por debaixo destas e como suporte, as lojas do comércio e a presidir a tudo, a estátua equestre do rei, esmagando as víboras da reacção.

Classificação
A sua opinião
[Total: 0 Média: 0]