Irene Lisboa, contadora de histórias

6464
Irene Lisboa - contadora de histórias
Irene Lisboa - contadora de histórias

Conhecida por muitos apenas pelas ruas e escolas com o seu nome, Irene Lisboa foi um importante marco da literatura portuguesa, embora nem sempre completamente reconhecida. Irene do Céu Vieira Lisboa nasceu no Casal da Murzinheira, Arruda dos Vinhos no ano de 1892 e faleceu em Lisboa, em 1958. Formou-se na Escola Normal Primária de Lisboa e fez estudos de especialização pedagógica em Genebra, onde contactou com Piaget.

Irene Lisboa foi uma das mais originais escritoras portuguesas do século XX, repartindo a sua obra literária entre a poesia e o conto. Estreou-se em 1926, com o livro de contos, 13 Contarelos a que se seguiram dois livros de poesia.

Professora primária, escreveu uma obra abundante de tipo intimista (poesia, Um Dia e Outro Dia 1936; diário, Solidão 1939; e prosa de ficção de tipo autobiográfico, Voltar atrás, para quê?, 1956, ou centrada numa personagem matricial, Esta Cidade!), que se alia à problemática social e concreta, emergente de um quotidiano que analisa no pormenores mais comuns, característicos de personagens femininas passivas e sofredoras.

Irene Lisboa escreveu também sob os pseudónimos de Manuel Soares e João Falco, e foi autora de uma vasta obra, pouco conhecida, que se reparte entre a ficção e autobiografia, a crónica, o conto (para crianças e adultos), a poesia, a pedagogia e a crítica literária.

Pedagoga de grande mérito e activa intervenção cívica, manteve estreitas relações de amizade com José Rodrigues Miguéis e recebeu a melhor crítica de José Régio, João Gaspar Simões e Vitorino Nemésio.

A sua escrita insere-se no saudosismo, uma tendência da literatura portuguesa que radica na obra de Teixeira de Pascoaes e no grupo da Renascença Portuguesa, e à qual estão também ligados Afonso Duarte e Tomás da Fonseca e que se mantêm relativamente à margem das correntes estéticas suas contemporâneas. O saudosismo apresenta alguns pontos de contacto com o movimento do Integralismo Lusitano mas aponta muito mais para uma atitude lírica do que para a acção política.

Obras poéticas: Um dia e outro dia (1936), Outono Havias de Vir (1937), Versos Amargos (inéditos incluídos no vol. I das Obras Completas, Presença, 1991). Várias: Solidão (1939), Treze contarelos (1926), Uma mão cheia de nada, outra de coisa nenhuma (1955), O pouco e o muito (1956), Voltar atrás para quê? (1956), Queres ouvir? Eu conto (1958), Título qualquer serve (1958), Crónicas da Serra (1962), Solidão II (1974), Esta Cidade! (1942), Um dia e outro dia – Diário de uma mulher (1936), Título qualquer serve para novelas e noveletas (1958), Crónicas da Serra (1958), o seu último romance.

Hoje em dia a memória de Irene Lisboa permanece, para muitas pessoas, apenas nas numerosas ruas, avenidas e pracetas com o seu nome. Uma homenagem igual foi-lhe prestada por numerosas escolas e institutos portugueses. Esperemos que estas levem os portugueses a desejar conhecer mais a obra desta autora que marcou uma época no nosso país.

Classificação
A sua opinião
[Total: 1 Média: 5]