Fátima Vila Maior uma directora de feiras

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Fátima Vila Maior
Fátima Vila Maior

A Mulher Portuguesa foi falar com Fátima Vila Maior uma das poucas directoras de feiras da Europa, neste momento a exercer a sua actividade na Associação Industrial Portuguesa.

Fátima Vila Maior é responsável pela organização de 7 exposições: Filmoda, Ceramex, Bienal de Antiguidades, Filgráfica, Alimentária Lisboa e Interiores e Imobiliária.

Na Associação Industrial Portuguesa, existem apenas duas mulheres directoras de feiras e, a nível europeu, são poucas as mulheres que desempenham cargos deste tipo. Foi precisamente no decorrer de um dia de trabalho na Fil, num ambiente descontraído, que entrevistámos Fátima Vila Maior.

Mulherportuguesa: Foi um percurso longo, até aqui?

Fátima Vila Maior – Eu sempre trabalhei na Associação Industrial Portuguesa. Comecei como técnica, um nível considerado baixo, e fui sabendo aproveitar as oportunidades que foram surgindo ao longo da minha carreira.

Mulherportuguesa: Como é que se chega a um cargo de tanta responsabilidade?

F V M – Não foi fácil, os homens são muito mais exigentes quando as mulheres ocupam cargos de chefia. Toda a gente se questiona sobre as capacidades de um homem, mas quando o cargo é exercido por uma mulher, as pessoas questionam-se muito mais. Isto é uma desvantagem real em relação aos homens. Mas nós temos algumas vantagens, temos mais “feeling” do que os homens, temos uma forma mais fácil de mostrar quais são os nossos objectivos e, a partir de um certo nível chegamos a uma situação de pura camaradagem com os nossos colegas, mas primeiro, temos de provar as nossas capacidades, temos de mostrar a nossa competência.
Para atingir a mesma posição, um homem não teria de passar por tantas provas.

Mulherportuguesa: É complicado organizar uma feira?

F V M – Dá muito trabalho organizar uma feira de qualquer tipo. Isto para mim é o culminar de um trabalho de equipa, durante larguíssimos meses, muitas vezes durante anos. Eu, nesta feira, já estou a preparar coisas para a próxima edição. Nunca deixo de preparar, nem nunca começo a preparar. Estou em constante preparação.

Mulherportuguesa: A que se deve o sucesso desta feira?

F V M – O sucesso desta feira é, no fundo, o sucesso das empresas que aqui estão representadas. Para além de termos de criar condições para o sucesso da própria feira, temos de criar condições para o êxito das empresas presentes.
Esta feira, é uma soma parcelar de vários sucessos, alguns deles nós não conseguimos controlar. .

Mulherportuguesa: Como se sente a dirigir uma estrutura que envolve o comando de tanta gente?

F V M – A estrutura de Feira Internacional que nós temos é igual às estruturas de muitos Parques de Feiras, mas é única em Portugal.
Existe um director geral do Parque e existem vários directores a gerir individualmente um grupo de feiras. Eu faço a gestão de um conjunto de sete feiras.

Esta é a estrutura normalmente utilizada no estrangeiro e curiosamente, aqui em Portugal, dos três directores de feiras, um é homem e dois são mulheres, o que não é muito comum. Raramente se encontra no exterior uma mulher directora de feiras.

Quando por vezes no exterior me perguntam: Em Portugal há uma directora de feiras? Eu respondo, não somos duas! Normalmente exclamam: Que mentalidade tão aberta! Eu esclareço, não, é mesmo falta de dinheiro!

Mulherportuguesa: Qual é, na sua opinião, o papel que as mulheres têm vindo a desenvolver ao longo dos anos na sociedade?

F V M – Eu tenho uma opinião um pouco engraçada relativamente ao papel que a mulher desempenha na sociedade, nomeadamente no aspecto profissional.
Parece-me que Portugal não é um país muito avançado em termos de emancipação da mulher, como tal, é curioso que nós tenhamos ministras, directoras gerais, mais directoras do que directores de feiras. Neste caso somos duas contra um e penso que tudo isto é fruto de nós sermos um dos países mais pobres do grupo dos mais ricos da Europa e de pretendermos seguir o estilo de vida da Europa.

Chegámos à brilhante conclusão de que, para seguirmos esse padrão, o homem e a mulher têm de trabalhar, coisa que não se passa na Europa. Nós vamos a qualquer cidade europeia e as mulheres vão com os filhos tomar o pequeno almoço às onze da manhã. Hoje, em Portugal, durante as nossas baixas de parto, nós queremos uma amiga para ir dar um passeio e estão todas a trabalhar.

Mulherportuguesa: O que é que levou as mulheres portuguesas a trabalhar fora de casa?

F V M – Parece-me que o raciocínio que as mulheres tiveram aqui há 20 ou 30 anos, foi o mais correcto. Se temos de trabalhar para somar os salários, vamos desempenhar funções qualificadas, ou seja, é preferível tirar um curso e ter uma boa posição. É por isso que nos nossos dias há muito mais mulheres a saírem das universidades e a ocuparem cargos de destaque.

Mulherportuguesa: Onde é que se enquadra a família, nomeadamente os filhos, numa vida tão activa como a sua?

F V M – Os filhos são, de facto, o grande problema. Eu tive imensas dificuldades para criar os meus filhos, mas, felizmente pude contar com uns pais disponíveis para ajudar, coisa que não se passa nos outros países.

Eu tento transformar a quantidade de tempo em qualidade de tempo. Parece-me que isso é, realmente, o mais importante. Há muitas mães que passam muito tempo em casa, mas elas estão na cozinha e os filhos no quarto, não há uma participação. É preferível eles passarem algum tempo com a empregada e quando a mãe chega a casa, à noite, mostra-se uma mãe carente, companheira e receptiva, que vai jantar com eles e que depois vai brincar ou estudar, mas que tem essa necessidade de partilhar o tempo e de ser interveniente.

Mulherportuguesa: Na sua opinião, porque é que os homens apoiam as mulheres na sua vida profissional?

F V M – Os homens, nos nossos dias, têm consciência da importância da divisão de tarefas, não por uma questão de evolução de mentalidades, mas também porque têm ao seu lado, não só uma companheira, uma educadora, uma mãe, mas também uma fonte de rendimentos. Isto visto de uma forma muito crua. Convenhamos que para eles é também um upgrade incrível terem ao seu lado alguém que desempenha funções que resultam num rendimento elevado. Isso faz com que os homens sintam uma motivação para a entreajuda.

Mulherportuguesa: Há alguma mensagem que queira deixar às pessoas que estão agora a iniciar a sua carreira?

F V M – Para além das competências da própria pessoa, é muito importante o conhecimento, a inteligência, mas, para mim, o mais importante é o empenho que incutimos em tudo aquilo que fazemos.

A pessoa pode ser muito inteligente, pode ser muito competente, mas há um factor que a torna diferente das outras, esse factor é a força de vontade com que desempenha cada tarefa. Eu dirigia-me aqui aos mais novos. Que trabalhem cada uma das suas tarefas até á exaustão. Esta é, sem dúvida, a característica mais importante.

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