Salas de ilusão, mais conhecidas por salas de chuto

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Acolhedoras, quanto baste! Próprias para dar azo às necessidades de corpos quase mortos. Objectivo? Combater a toxicodependência. Mas, não serão as ‘salas de chuto’ uma faca de dois gumes? Finalmente o Parlamento decidiu que as ‘salas de chuto’ eram a melhor solução. Pelo menos assim apontam as estatísticas dos outros países, daqueles que já aderiram a esta iniciativa e da qual já retiraram frutos.

Salas de chuto

Portugal aderiu à estratégia das ‘salas de chuto’, locais apropriados para aqueles cujo único desejo é apenas consumir, agora já não por mero prazer ou por curiosidade, mas sim porque o corpo assim o exige. ‘Salas de injecção asséptica’, assim se denominam os templos de salvação para os inúmeros toxicodependentes deste país.

Em jeito de ‘bom samaritano’, o governo foi mesmo mais longe e decidiu criar também pontos de informação para elucidar sobre os riscos da droga, divulgar formas e meios de recuperação e tratamento.

Estes postos de informação não são mais que roulottes ou quiosques, aos quais todos, consumidores e não consumidores, podem-se dirigir em qualquer altura. Uns a favor, outras contra, incluindo toxicodependentes, e mesmo depois das confusões no parlamento, o certo é que as ‘salas de chuto’ vão mesmo avante.

A questão que aqui se coloca é saber até que ponto as ‘salas de chuto’ vão combater realmente a toxicodependência, e se essa atitude não irá piorar ainda mais a situação presente. Os programas efectuados até à data por diversas instituições têm revelado resultados não muito positivos, embora os responsáveis pelos mesmo contrariem esta afirmação, e a realidade a que hoje se assiste é que o número de toxicodependentes continua a subir e a entrada no mundo negro da droga faz-se cada vez mais cedo.

De quem é a culpa? Apontem o dedo ao culpado! Onde está? Não se vislumbra, é difícil fazê-lo no meio de tanto podridão, de tanta sede de poder, ganância, falta de escrúpulos e escassez de humanismo.

Seremos nós, a sociedade em geral, os culpados do cenário cinzento que hoje tentamos salvar? Os toxicodependentes são doentes! Pessoas que se deixaram arrastar por alguma voz mais forte ou pelos caminhos esburacados da vida. Tanto caíram que um dia já não conseguiram sair! E, serão as ‘salas de chuto’ o caminho para o quê? A estrada para combater o alastrar da Sida ou da Hepatite B talvez, mas prevenir a toxicodependência penso que não! Não, porque não estamos a progredir em nada.

Criam-se estratégias para evitar o contágio de outras doenças, mas não se reúnem condições para cortar o mal pela raiz. De que serve dar-se um carro quando não se tem dinheiro para o suster? Aqui, é semelhante! De que serve dar-lhes o abrigo para um chuto, um entre tantos, quando a chave para soltar as amarras que os aprisionam não foi ainda encontrada? Uma vez mais, tenta-se disfarçar o podre com um travo barato de humanismo…

Indiscutivelmente, as ‘salas de chuto’ são um progresso, mas isso é muito pouco. Não chega. Não serve quase para nada. Li há uns dias que as ‘salas de chuto’ vão permitir que os toxicodependentes se aproximem dos técnicos de saúde e que os podem ajudar e dar-lhes condições de higiene.

Quanto à segunda parte deste depoimento não há nada a registar, mas relativamente à primeira é necessário não esquecer que um toxicodependente não se vai curar porque um técnico de saúde, os pais, a namorada ou a família lhe pedem. Ainda que as opiniões dos mesmos valham bastante, quando um toxicodependente atinge um estado grave, ele só procura ajuda competente quando ele mesmo sentir força para o fazer.

O que significa que a primeira palavra é deles, daqueles que querem ser novamente livres, que querem ver o mar, ir ao cinema, ter uma casa, uma família e voltar a recuperar a sua identidade. Primeiro, têm que perceber que há um mundo para lá das encostas íngremes do Casal Ventoso, esquecer as ‘pratas’, a heroína, limões e seringas.

Há que ir ao encontro de uma nova vida, ou recuperar a anterior, e apagar de vez as noites passadas ao frio, as dores que assolavam quando a droga não aparecia, os momentos em que se vendia o corpo por algumas gramas, os dias passados a arrumar carros, quando na casa que abandonaram alguns deles ainda têm na gaveta o diploma sagradamente guardado pela mãe.

As ‘salas de chuto’ são um passo demasiadamente curto, quase insignificante, para se registarem vantagens. Ainda que nos outros países já se tenham verificado alguns progressos, veremos o que o futuro escreveu para Portugal.

O Casal Ventoso continuará, independentemente do sucesso destas salas, a ser o maior armazém de droga nacional. Nas suas encostas continuar-se-ão a aglomerar corpos cambaleantes, sedentos de mais droga, ávidos de uma ponte de salvação, quando eles mesmos não têm forças para a atravessar.

Ao menos, com as ‘salas de chuto’, a informação chegar-lhes-á o mais verídica e específica possível. É preciso é que a saibam utilizar, cortar os laços com a sua morada de há largos anos, e submeter-se a alguns sacrifícios. A fome não interessa, a sede também não. Comprar umas calças novas? Nem pensar!

Tomar um banho? Para quê? Já nada importa. Esta é a mentalidade dos toxicodependentes. Pessoas doentes que já tiveram tudo e que, por uma ou outra razão, se tornaram parasitas da sociedade e prisioneiros de um local chamado Casal Ventoso!

Salas de chuto? Veremos o sua função real daqui a algum tempo!

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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