Os traumas do 25 de Abril

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O trauma do 25 de Abril
O trauma do 25 de Abril

Os traumas do 25 de Abril. Num mundo cada vez mais dependente dos meios audiovisuais, compete aos “media” essa tarefa de informar sem poluição. Oxalá a consigam realizar. O mundo está numa fase instável. Não sei porquê sinto que, embora a história se não repita, funciona, contudo, por ciclos, e parecem-me existir muitos paralelismos entre o início deste século e os primeiros anos do século XX.

Os traumas do 25 de Abril

Isto é altamente aterrador, pois nos primeiros 50 anos as duas guerras mundiais foram devastadoras. Além de encontrarmos uma liderança tíbia nos Estados Unidos, verificamos que na Europa também não há nesta altura um líder carismático. Tudo muito frouxo, muito confuso e sem ideais.

A democracia, tal como é entendida no Ocidente, está em discussão. Precisa de ser re-perspectivada. Os governos estão reféns dos partidos, estes são manipulados pela economia, a economia globalizada não encontrou ainda balizas éticas e está descontrolada.

Nos países com mais vivência democrática e com economias mais sólidas, a situação é já de si complicada e tem gerado, como vamos observando, as manifestações tipo semi-dementes em Gotemburgo, a procura de soluções deverá preocupar os governos, o que não parece estar a acontecer, por força do status quo estabelecido.

Em Portugal, com os problemas económicos a agravarem-se, a justiça a não funcionar, o paraíso para os “marginais” de todos os quadrantes instalou-se.

Quanto à democracia, reina a mais estranha confusão. O conceito em si, extremado em sentidos contrários há cerca de 20 anos, embora se tenha vindo a aproximar, ainda hoje não se encontra esclarecido na cabeça de muitos portugueses. Basta vermos que para justificar qualquer ideia, ainda se recorre a expressões como “estive em Caxias, fui um lutador de liberdade (leia-se, 25 de Abril), sempre tive ideias de esquerda…”.

São os traumas do 25 de Abril que deviam ser tratados, como todos os traumas. Uma revolução que foi inevitavelmente muito traumática, pois apesar de não haver sangue em profusão, uma bandeira sempre utilizada, criou mazelas muito profundas, pois não é impunemente que a exigência da alteração brusca de mentalidades se impõe. A mudança de mentalidade é extremamente difícil. A imposição externa dessa mudança traz sofrimento mais cedo ou mais tarde.

Ainda hoje é de “bom tom” o proclamar-se de esquerda, sem se saber muito bem o que isso implica, numa altura, em que reinando as leis económicas, os conceitos de “esquerda” e “direita” já não fazem sentido. Para que isso seja mais óbvio, há que se filiar nos “bastiões” que ainda utilizam a linguagem do passado, para que não fiquem dúvidas da “modernidade. Só que essa modernidade já era, quedou-se nos anos 90.

Há tempos não pude deixar de sorrir perante a definição de democracia com que alguém me presenteou: “uma maioria de ignorantes elegem meia dúzia de espertos que exercem ditadura sobre todos a quem consideram parvos”. Por que será que estas palavras não me saem da cabeça?

Anseio pela nova geração que está agora a chegar à casa dos 30 anos para deixar, de vez, de ouvir estas justificações de esquerda, direita, de Caxias e 25 de Abris. É necessário saber avaliar as situações e ter objectivos para o futuro os quais não deverão estar apenas dependentes de qualquer ideologia já retrógrada.

É preciso renovar calmamente a mentalidade e para isso é necessário o tratamento através do conhecimento, da reflexão, do diálogo, das experiências. Alcançar qualidade de vida, desenvolvimento económico, preservação do planeta e maior equilíbrio mundial são o objectivo de qualquer pessoa e dos governos. Quanto à concretização, argumente-se, persuada-se mas sem a poluição dos traumas, por favor. Num mundo cada vez mais dependente dos meios audio-visuais, compete aos “media” essa tarefa de informar sem poluição. Oxalá a consigam realizar.

Dra. Manuela DaSilva

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