Crónica: Os futuros doutores do nosso País

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Cronistas da MulherPortuguesa
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È sempre motivo de orgulho ter um canudo na palma da mão! Mas, talvez o mesmo não se possa afirmar se pensarmos nas notas que conduziram este ano os futuros doutores á universidade!

Terminado o 12º ano fazem-se planos para o futuro! Sonha-se em ser licenciado, ter um grande carro, uma mansão enorme com piscina, mais uma série de coisas materiais, e uma vida amorosa rica em conhecimentos amorosos.

Os futuros doutores

A verdade é que se cria a ilusão de que um simples canudo pode levar-nos ao altar da fama e do sucesso profissional.

No ensino superior estatal, privado, ou politécnico, criam-se este género de ilusões, sem no entanto se ter a noção do mundo cruel que após a universidade nos vai receber de braços abertos.

Porém, e para que não restem dúvidas quanto ao verdadeiro teor desta minha crónica de hoje, convém explicar que o que hoje me trás aqui são as notas negativas que dão entrada em tantas universidades do nosso país. Até porque, o pós universidade, vocês confirmarão posteriormente, da mesma forma que eu me vi ‘obrigada’ a constatá-lo.

Olhando para as médias das notas deste ano, que permitem o acesso à universidade, dá-me uma vontade louca de ter nascido uns 7 ou 8 anos mais tarde, pois assim sempre poderia usufruir destas benesses! Não se admite, e digo-o porque é vergonhoso para o futuro do nosso país, que jovens entrem em universidades com notas negativas.

E, reparem vocês que não estou aqui a falar de oitos ou noves, mas sim de, por exemplo, notas inferior a 6 valores.

O que significa que existem duas probabilidades: ou o ensino está pobre, vazio de professores competentes para fazer passar o conteúdo dos programas, sem conseguirem criar motivação nos jovens, ou então a nova geração é mesmo leiga, fraca de estudo, a escola não lhes interessa, e estão-se nas tintas para essa história do canudo.

Lógico que também pode haver outra alternativa: parece- lhes tão fácil ingressar na universidade que não se esforçam minimamente para isso. Conclusão: o grau de exigência que alguns diziam ser tão elevado, afinal não o é assim tanto.

Claro que também pode ser o oposto: os números traduzirem uma exigência bombástica de estudo, e aí estão as negativas à vista de todos. Confusos? Eu também!

Recordo-me há alguns anos atrás o suplício que era entrar-se para a universidade. As notas disparavam, e só entravam realmente os melhores.

Os outros tinham que se encaminhar para uma particular, fazer a prova interna de acesso (nunca percebi muito bem para que servia), pagar os 25 ou 30 contos correspondentes à mesma, e esperar pela nota. Óbvio que o ingresso era sempre garantido, salvo raríssimas excepções!

Tudo isto leva-me a pensar que alguma coisa está mal, ou que ambos os lados envolvidos estão a precisar de uma nova reforma! As universidades regem-se pelos moldes do Ministério da Educação, com linhas generalizadas, com que todo o ensino superior é ‘obrigado’ a concordar! O que significa que é ‘tudo ao molho e fé na negativa’!

O mais irónico da situação é que daqui a algum tempo vêm para a televisão afirmar, pomposamente, que o ingresso no ensino superior aumentou substancialmente o que, no entender desses ilustres, revela um país com maiores aptidões culturais fundamentados em critérios universitários, relembre-se, repletos de negativas.

Moral da história: as habilitações académicas de Portugal subiram visivelmente! O verdadeiro problema, e aquilo que tentam camuflar realmente, é que as médias desceram drasticamente! Então, pergunto eu?

Devemo-nos gabar destas notas vergonhosas ou aplaudir os que em tempos entraram com notas positivas? Devemos dar uma puxão de orelhas nos alunos, que não se aplicaram o suficiente, ou uma palmada no ensino, que exigiu, tanto ou tão pouco, que o cenário é este que está à vista?

Uma coisa é certa: o facto de se chegar à universidade não implica que se é um bom aluno! Garanto-vos! No meu tempo, e presumo que isso hoje ainda aconteça, tendo em conta as ‘bacoradas’ que ouço na televisão, os jovens não sabem falar ou escrever correctamente o português.

Escrever ‘há’ nunca sabem se leva ou não o ‘h’, os acentos não existem, não sabem o que é um complemento circunstancial, e se lhes pedirem para conjugar o verbo ‘pagar’ no Pretérito Perfeito, eles certamente o farão no Imperfeito, e vice versa.

Mas, a falta de estudo, ou a escassez de profissionalismo dos professores, não se fica por aqui! Por altura das comemorações do 25 de Abril houve jovens que não sabiam definir em traços gerais o que tinha sido a revolução ou quem era Salazar! Mais.

Se lhe perguntar uma obra do Eça de Queiroz, o ano que foi implantada a República em Portugal, quem descobriu o Brasil, ou mesmo qual o nome do hino nacional, eles, simplesmente, não sabem!

Agora, resta saber de quem é a culpa! Dos que aprendem, dos que ensinam, ou dos que governam o sistema? Que a matemática é um quebra cabeças para muitos isso não é novidade, mas que a nota mínima seja umas escassas décimas acima dos 5 valores, isso é já uma realidade imperdoável!

Que as específicas exijam muito empenho, pelo menos assim era antigamente, também não é novidade, mas que as mesmas atinjam números de 2 e 3 valores já é inconcebível! Afinal, digam-me meus senhores, reformou-se o quê? Para que serviu tanta mudança no sistema educativo?

Para que os alunos se dêem ao luxo de responder a uma pergunta, ‘mal e porcamente’, desculpem-me a expressão, e terem o acesso garantido à universidade?

Não sei muito bem qual será o futuro de Portugal! Se encontraremos pessoas à frente de entidades, empresas e organizações, com um valor comprovado e real, ou se terão, esses futuros doutores, engenheiros e arquitectos, que levar a sua vida inteira a estudar, pela sua própria iniciativa, aquilo que o ensino educativo nunca lhes proporcionou?

Ou direi antes, aquilo que nunca sentiram necessidade de saber porque os padrões educativos não o exigiam?

Os futuros doutores do nosso país têm um caminho longo a percorrer, que de momento pode ser muito plano e simples, mas que mais tarde trará ao de cima todas as sua lacunas e buracos, muitos deles irreparáveis. Afinal, ‘é de pequenino que se torce o pepino’, e não só!

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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