Crónica: O voo para a morte

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Partiram sem saber o que aconteceria dois minutos depois. Partiram com sonhos de conhecerem Nova Iorque e o Paquete MS Deutschland, que majestosamente ansiava pelo seu encontro. Um encontro que nunca aconteceu!

O emblemático Concorde partiu, e de vez. Os seus passageiros e tripulação acabaram enterrados nas cinzas do avião mais rápido do mundo e que, curiosamente, proporcionou a morte mais rápida de um sonho de férias. Dois minutos apenas… E o vôo para a morte não mais os levará para o paraíso das Caraíbas…

O voo para a morte

Todos sentimos, de uma maneira ou de outra, a morte daquelas pessoas. Não éramos nós, mas podíamos ter sido. Não fomos nós que pagámos cerca de 2000 contos para umas férias de sonho, mas podíamos ter sido.

Não fomos nós que, orgulhosamente, íamos experimentar o avião mais rápido e um dos mais seguros do mundo, mas podíamos ter sido. A mancha branca e imaculada, que se avizinhava nos céus de Gonesse diariamente, jamais faria adivinhar que um dia o seu destino seria fatal.

Semanalmente, e às vezes até com mais frequência, caem aviões por esse mundo fora. Naquele que é considerado o meio de transporte mais seguro do mundo, a morte espreitou numa bola de fogo que manchava o céu de horror e pânico.

A catástrofe encheu os Media esta semana. O pânico de viajar de avião é cada vez maior e, quase diariamente, temos acesso a notícias de verdadeiros horrores que as aves mecânicas dos céus protagonizam.

Onde reside a culpa? Por que caminho havemos de seguir para se encontrar a solução para este acontecimento?

Perguntas e dúvidas rebentam, estoiram e bombardeiam a nossa mente. As companhias aéreas afirmam sempre que não há perigo, mas as marcas da tragédia reaparecem em qualquer local do mundo, sob os mais diversos motivos e justificações.

O Concorde partiu, mas já se avizinhava a tragédia. O piloto detectou a falha, a torre de controlo avisou, emboa fosse tarde.

Já era muito tarde! O Concorde que havia sido inspeccionado dias antes, não deixou imunes as mulheres, homens e as 3 crianças que nele viajavam. O vôo para a morte já estava escrito em qualquer manual do desconhecido, e pintado numa bola de fogo que invadiu os olhares das testemunhas que presenciaram semelhante visão.

Alguém pensou no que aquelas pessoas sentiram? Ou será que nem tiveram tempo para sentir que a morte as puxava numa viagem sem retorno, desde o momento em que o avião levantou vôo? A tentativa de dar meia volta e regressar ao local de onde partira foi falhada.
A morte chama e ordena altivamente, clama pelas vítimas indefesas e dois minutos é o tempo do impasse. Do saber se, se conseguirá sair dali viva ou se, segundos depois, as chamas consumirão o seu corpo que apelava por um paraíso denominado Caraíbas.

Aquele que atinge duas vezes a velocidade do som, embateu num hotel. Mais três vítimas a juntar às mais de cem que o Concorde levou com ele. Enaltecer o piloto é pouco. O Homem que sabia o que estava a acontecer (será que os passageiros sabiam? Sentir-se-á no ar a sua voz penetrante e perturbadora da morte?), tentou fazer de tudo.
A tragédia só não foi maior porque esse homem, conhecedor do seu destino fatal, se desviou para uma zona quase vazia de habitações. O avião levantou vôo, começou a desenhar uma bola de fogo e despenhou-se nos momentos seguintes. Eis a história de umas férias de sonho que, nunca existiram e jamais voltarão a poder concretizar-se…

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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