Crónica: O fantasma da relação passada

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Porquê? Não percebo porquê? Eu, aqui uma mulher dos anos 90 – jeitosa, repleta de sonhos, ambições, moderna, interessante e deixo-me ir a baixo por causa de uma coisa tão básica como os sentimentos que me assombram, incompreensíveis ao meu raciocínio lógico… O ex, o meu ex e depois para variar o meu ex, sempre a pensar nele… que seca!!!! Mas porque é que o fantasma do meu ex não me deixa em paz?

O fantasma da relação passada

Porque é que, quando acho alguém interessante, desato logo a comparar e o espectro da relação passada vence a léguas? Assim não dá! Se tivesse sido assim tão bom, não teria acabado, pois não?

Acho que quem disse que o coração tem razões que a própria razão desconhece estava divinamente inspirado. Só pode ser isso. Aliás quando não sabemos como explicar qualquer coisa, remetemos logo para o coração. Ele é que as paga, contudo ninguém leva a mal, sentem o mesmo.

Quando uma relação acaba, regra geral, só me lembro do que foi bom. É mais forte que eu e nem adianta mentir a mim mesma, que nem isso funciona. Já tentei convencer-me, mas não deu! Penso nos momentos divertidos, carinhosos, no amor que fizemos, no sexo que praticámos, as loucuras que nos apeteceram, o companheirismo cúmplice, a química… ai a Química… só de pensar suspiro deliciada.

Não quero apagar tudo isto. Fui tão feliz! Todavia devia, porque o passado não é o presente. A cabeça às vezes também não ajuda, por um lado apresenta-nos moções de censura (à lá Inquisição) : Tens de o esquecer, era um mulherengo, eras boas demais para ele, não prestava, mereces melhor, nem te tratava muito bem, lembras-te que se esquecia de todos os teus aniversários? E daqui por diante numa lista interminável de defeitos, que mais nos soam a uma cantiga de escárnio e maldizer.

Por outro lado a nossa cabeça, fazendo panelinha com o nosso coração, escolhe criteriosamente “The best of…” momentos que tivemos juntos. Tipo aquelas imagens em câmara lenta daqueles corpos fantásticos (que não lembram a ninguém, diga-se de passagem) das Marés Vivas.

Aquela parte que tem sempre uma músiquinha a condizer. Pois, é mais ou menos isso. Isto tudo para dizer que só me lembro do que foi bom, rejeitando voluntariamente qualquer núvem cinzenta que tenha pairado sob a relação.

Gosto das minhas recordações, fazem parte de mim. O único perigo é quando este sonho que já acabou, perdura demais e fecha-nos o coração a um novo amor. Cuidado! E há sempre alguém que nos diz tem cuidado ( já o Luís Represas canta e com razão). Não convém idealizar o que passou. Passou, passou, acabou! Para a frente é que é caminho.

Quando menos esperamos, pimba. Não, não estou a falar duma trolitada na cabeça ou de tropeçarmos e cairmos, mas sim que, eis que surge alguém interessante. Rei morto, rei posto, diz a minha avó com toda a sabedoria dos seus doces 73 anos e ela lá sabe. Estava eu a dizer que o erro fatal é colocarmos o nosso fantasma num pedestal. Sim, aquele que teima em permanecer no nosso sótão.

Que fazer? Segundo aqui a je a primeira coisa a fazer é varrer o sótão, desalojar o fantasma. Mas como? Ora bem, se nosotras já existíamos antes e até que a vida nos corria bem e éramos felizes, podemos voltar a sê-lo, por agora a solo. Por agora!!!!

Esta é a teoria, vamos à prática. Ora bem a terapia ocupacional é óptima (boa + óptima), estar ocupada é do melhorio para se esquecer um coração ferido. A seguir há que nos tratarmos muito bem. Fazer o que nos apetece, fazer-nos a vontade, comprar roupa, trabalhar que nem leoas e sair, SAIR!!

Não apetece, não é? Temos de contrariar esta tendência de agirmos como uma pérola numa conchinha. Nada disso, vamos conviver, sair com as amigas / os, divertirmo-nos e conviver. Conviver para melhor escolher, claro está! Andamos todos à procura do mesmo, não é? Amar e ser amada de corpo e alma!

Ah, mas não há amor como o primeiro – dizem-me. Em parte concordo. Não tem que ser o primeiro, mas o mais intenso e esse é difícil de pôr de lado, porque consideramos que o próximo será sempre a nossa segunda escolha e nada terá o mesmo sabor. Não é bem assim.

O primeiro amor de corpo e alma marca muito, porque éramos inocentes, era a primeira vez, aconteceu naturalmente, sem jogos. Deixámo-nos levar suave e arrebatadamente ao sabor da brisa quente de uma noite de Verão. A seguir, após a desilusão, já aprendemos a lição, já vimos os erros, não podemos agir assim ou assado, não devemos ceder logo, porque perdem o interesse (isto mediante a relação-objectivo que temos ).

Já topamos as jogadas deles, conhecemos o que dizem, as barbaridades de que são capazes para nos seduzir. Jogamos o jogo pelas regras dependendo do nosso objectivo e o tipo de homem que queremos deixar que nos seduza.

O primeiro amor fica como recordação, pensamos no doce e eliminamos convenientemente o amargo.

Então e agora? Viver é bom, existimos como pessoas individuais com motivações e temos valor por nós próprias… mas e o amor? É essencial, mas não deve ser uma sangria desatada. Antes da Cara-Metade /  Príncipe-Encantado, surgem muitos duques com pretensões e ensinamentos de Príncipes, há que distingui-los!

Ou então podemos fingir que não nos apercebemos de como são e tiramos uma lasquinha. É que, por vezes isto também não é nada mau!! Bom, mas a moral da história é que um dia o Nosso-Mais-Que-Tudo aparece e arrebata-nos.

Se depois disto ainda há dúvidas, é melhor continuar a ler o artigo.

Ao fantasma temos de dizer “Goodbye, Maria Ivone“, como diz o Herman. O importante é ver, apreciar ao máximo o homem que nos conquistou, que temos a nosso lado. Toca a apreciar! Sem esquecer que temos a tendência para idealizar, dar estatuto de deus grego no Olimpo ao que acabou, ignorar os defeitos ou tudo o que nos desiludiu. O fantasma é um fantasma. A outra pessoa que encontrámos é real. Tal como nós tem defeitos (praticamente não temos nenhuns, diga-se de passagem hehhehehe).

Bom, se no entanto não conseguirmos esquecer o ex, então o melhor a fazer é lutar para que ele volte. Vista-se para matar e volte à carga. Reconquistá-lo. Cá para mim continua a existir um senão: nada é como já foi, a pessoa já mudou e o tempo em que tiveram separados, fez-vos provavelmente sonhar com algo que, se calhar, não era bem assim. Acabou ou não?

No fim de contas e em jeito de balanço o importante é que sejamos felizes.

Tenham um dia feliz!!!

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