Crónica: O estado do nosso país: do feriado à tragédia

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Cronistas da MulherPortuguesa
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O estado do nosso país não apresenta melhoras significativas: falta de emprego, polícias assaltantes, lares ilegais, e tragédias inesperadas. Ainda assim, fazer ponte é uma lei a cumprir!

O estado do nosso país

Portugal não apresenta grandes melhoras desde há uns tempos a esta parte. O mundo não respira tranquilidade, a crise económica vai-se tornando notória, as empresas começam a dar os primeiros sinais de dificuldade, sem contar com aquelas que já declararam falência.

A onda de criminalidade mantém-se, a educação não apresenta qualquer progresso, economicamente não nos podemos dar a grandes ostentações, e ainda assim damo-nos ao luxo de ter uma “ponte”.

A lei do “ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão” assenta que nem uma luva negra ao estado português, facto que nos obriga a continuar assim, num país pequenino, a fazermo-nos de “coitadinhos” em certas situações, mas a assumirmos uma postura de lordes, quando a conjuntura a isso não o permite! E, o problema, é que parece que muito poucos compreendem o que estou a dizer!

A realidade não é nada sorridente! Mais um ano, sensivelmente, e cerca de 24 milhões de postos de trabalho, incluindo aqueles que estão em vias de se concretizar, pura e simplesmente deixarão de existir no mundo inteiro. Face aos atentados registados nos Estados Unidos da América, a crise proporcionou estes números, caóticos e a tatuar a marca da crise num futuro próximo.

Mas, os portugueses parecem ainda não ter dado uma grande importância aos mesmos! Veja-se, por exemplo, que ainda assim o governo concedeu a “ponte” por altura do feriado 1 de Novembro, mas que as saídas da capital, embora evidentes, não registaram a afluência de outros tempos.

A verdade é que andar na capital foi bem mais fácil nos dias seguintes, sem as populares filas de trânsito ou as buzinas estridentes, mas a verdade é que esse dia de “ponte”, bem aceite por todos, poderia ser utilizado pelas entidades governamentais para a resolução de mil e um problemas que se registam no nosso país.

Fiquei indignada com a notícia trazida a público esta semana: um agente da PSP assaltou uma senhora, após esta ter levantado dinheiro no Multibanco, mais precisamente 5 mil escudos. A forma de assalto foi idêntica à que muitos assaltantes utilizam, tendo o assaltante protagonizado um empurrão para levar o dinheiro. Perante tamanho cenário fico na dúvida se é a polícia que treina os assaltantes, ou se são estes que ensinam os agentes de autoridade.

Saliento também aos caros leitores que o indivíduo em causa era toxicodependente, isto segundo um jornal diário, o que me leva a pensar que nesta situação o motivo do assalto possa estar relacionado com a necessidade de consumo de droga. É de louvar este episódio, não acham?

Pergunto eu, qual a diferença deste indivíduo para os restantes assaltantes e toxicodependentes do país? Nenhuma! Não lhe dá o direito, nem a este indivíduo nem aos restantes, de andar a vestir uma farda, a apregoar a lei, a usar e a abusar do poder que têm, quando são os primeiros a quebrar as regras da segurança pública! Estes episódios fazem-me sempre lembrar uma frase que um dia li, algures, e que nunca me saiu da cabeça: “a polícia protege-nos, mas quem nos protege da polícia?” Nós mesmos? Ninguém?

Este é apenas mais um caso dos muitos que se encontram camuflados pela defesa do bom nome das nossas autoridades. No entanto, a única coisa que os governadores portugueses sabem fazer é conceder “pontes”, numa altura em que mais do que nunca é preciso pensar-se numa estratégia para nos defendermos da crise e conseguirmos sair dela.

Para além da segurança, a educação é outra área visivelmente problemática. Repare na quantidade de alunos que mal sabem redigir uma carta sem darem um único erro ortográfico, ou que sabem mais da Internet do que da história cultural do nosso país. Como se estas lacunas não fossem sobejamente conhecidas, foi ainda realizada na semana passada uma “folga nacional” para os estudantes.

Esta semana tinha como intuito a programação do ano lectivo por parte dos professores, mas a realidade que se veio a constatar não foi propriamente esta. Era suposto que os professores continuassem a trabalhar neste sentido, e o facto dos alunos não terem aulas servia precisamente para que houvesse mais disponibilidade por parte dos responsáveis educativos.

Porém, o cenário não foi nada que invocasse, propriamente, o factor trabalho. Possivelmente a semana serviu para se ir fazer umas compras, ver aquele filme, ou ir almoçar com aquela amiga de longa data.

Para ser mais precisa, a semana transacta serviu para que os professores pudessem fazer de tudo, menos para que fossem cumpridos os objectivos desta pausa no ano lectivo. Parece, por isso, que em vez de um dia de “ponte”, os professores tiveram 4 dias!

Paralelamente à educação, segurança e economia, a burocracia e fiscalidade portuguesas também não estão no seu melhor, isto se é que alguma vez tiveram. Esta semana um incêndio deflagrou num lar ilegal, em Cascais, e na sequência do mesmo vieram a falecer seis idosos.

A verdade é que, e embora todas as declarações de particulares não tivessem qualquer razão de queixa no que diz respeito ao lar, não nos podemos esquecer que não haviam as condições de segurança exigidas para esta situação.

Prova disso, é o facto do proprietário ter admitido que nem havia extintores no interior da casa. Se esta tragédia podia ou não ser evitada é algo meramente utópico, e para o qual não adiantam tardias suposições, mas possivelmente as proporções das consequências podiam ter sido menores.

Mais de 200 lares foram encerrados nos últimos cinco anos devido à ausência de alvará e de condições de funcionamento precárias, mas a questão aqui é saber como é que esses lares conseguiram abrir. Ninguém controla a ilegalidade? Onde estão as entidades que fiscalizam este tipo de situações?

Estarão à espera que situações deste teor sucedam para actuarem eficazmente? Não se pode atribuir directamente a culpa a ninguém, mas é necessário que as pessoas percebam da falta de responsabilidade e profissionalismo que reina no nosso país por parte daqueles que deviam zelar pelo bem estar e bom funcionamento do país, pelo menos são pagos para tal, mas que se limitam apenas a dar a cara nestes momentos, exprimindo condolências, e tentando afastar para longe de si a responsabilidade que lhes é incutida de antemão.

Este é um país à beira da desordem a todos os níveis. O lema do “salve-se quem puder” começa a ser cada vez mais apropriado numa sociedade onde não parecem existir regras ou leis, onde cada um age como entende, em função do seu bem estar pessoal. Se com ele estiver tudo bem, o próximo que se dane!

Debruçarmo-nos, todos nós, sob o assunto seria a melhor coisa que podíamos fazer, para ver se juntos conseguíamos inverter o rumo catastrófico para o qual o país e o mundo se encaminham. Precisa-se de rigor, e não é com “pontes” que se chega a lugar algum!

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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