CRónica: O baile dos transportes públicos

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Esta semana não quero deixar escapar a oportunidade de ‘elogiar’ os nossos transportes públicos. A menos que seja o feliz proprietário de um avião ou helicóptero particular, não está livre de se enredar nas malhas dos nossos transportes públicos. Mas eles são tão bons, mas tão satisfatórios, que merecem ser vistos à lupa e individualmente.

O baile dos transportes públicos

Comecemos com os mais procurados e os mais elogiados de sempre: os autocarros. Sejam eles de que linha de Portugal forem, é certo e sabido que os elogios chovem.

Quem nunca teve a oportunidade de conhecer pessoas novas tendo por tema de conversa o autocarro, enquanto espera pacientemente a chegada deste? Grandes amizades e quiçá mesmo casamentos terão resultado desta situação.

E depois temos o contacto físico directo, com os autocarros completamente repletos o que nos obriga a roçar pelo braço do vizinho, espremermo-nos entre dois ocupantes ou ainda a sentir de perto o odor a ‘sovaquinho’ no Verão ou de ‘pêlo molhado’ de Inverno.

Isto se conseguirmos entrar, porque há sempre os mais espertos que aguardam a abertura das portas traseiras para fazerem uma entrada pelos fundos.

Mas nada de desesperos porque se esteve uma hora à espera do autocarro, é certo e sabido que a seguir vêem duas ou três viaturas com o mesmo destino e que não passaram antes vão lá os deuses dos autocarros saber porquê.

Tenho para mim que são as novas estratégias de segurança, porque dois motoristas inibem mais qualquer acção de violência dentro de um autocarro. Para que servem os dois veículos é que ainda permanece um mistério.

E depois há as condições fantásticas em que se encontram estes, material de refugo de outros países que em Portugal até fazem um vistão, e de que os turistas gostam imenso porque lhes lembra os transportes do passado no seu país, e um pouco de nostalgia é sempre bem vinda.

Se tem por hábito viajar de Metropolitano, também terá sempre tema de conversa.

Adicionando aos itens de que falámos atrás, tem as constantes avarias, em especial nas novas linhas (mais um mistério para os deuses dos transportes), as infiltrações de água nas gares e a falta de segurança nas estações, porque isto é preciso dar de comer a todo o mundo e quem rouba ali anda apenas a fazer pela vida, pelo que não deve ser incomodado.

Afinal, também não gostaria de ser constantemente abordada pela polícia, pois não?

Façamos agora uma viagem pelo rio, de barco. Aqui as histórias ainda podem ser mais suculentas. Entre ficar presos em bancos de areia, perderem-se no nevoeiro ou baterem no cais, provocando divertidos balanços nos passageiros, é só escolher para contar.

Os comboios, tão dignificados no passado, enfrentam no nosso país o seu declínio. Carruagens do tempo da Maria Carqueja, alegremente invadidas por grupos de jovens que se divertem e aproveitam para ganhar uns trocos fazem as delícias dos viajantes habituais.

Os comboios parecem só mesmo servir para os rituais suicidas de algumas pessoas que assim protestam contra a vida e quem sabe, contra um comboio que não passou a horas.

Mas se é dos que preferem o ar ao chão duro, tem os sempre disponíveis aviões, onde pode ir apertadinha no seu lugar, comer um lanche/almoço/jantar com a qualidade a que as companhias aéreas já nos habituaram e terá de esperar até aterrar para entrar no W.C onde não cabe nem de lado.

Isto já para não falar na questão de conseguir ou não embarcar, porque as reservas podem ser tudo menos para respeitar e os aviões têm a desagradável mania de não cumprir horários, vá-se lá saber porquê.

E a somar a tudo temos as sempre diligentes greves dos nossos transportes públicos com avisos para a população sempre a tempo e horas, a raridade com que circulam nas nossas ruas, rios e ares e as boas condições do material mais os constantes aumentos das tarifas. E agora diga lá, não está mesmo com vontade para uma voltinha à cidade?

Cronista da Mulher Portuguesa: Maria do Carmo Torres

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