Bebés Sobredotados são reconhecidos em Portugal

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Bebés sobredotados
Bebés sobredotados

Muito se tem falado ultimamente de bebés sobredotados, em Portugal. Finalmente. Há 15 anos atrás, quando o conceito entrou em Portugal, era amaldiçoado, incompreendido e quem dele ousava falar, ficava irremediavelmente pintado com dois tracinhos horizontais de penugem por cima do lábio superior.

Hoje ao recordar os epítetos e expressões daqueles tempos vindos de pessoas “ilustres”, não posso deixar de sorrir (lá diz o ditado “quem ri por último…”).

Bebés sobredotados

Comentários mordazes, entre outros optimistas vaticínios, como “Uma associação só com mulheres… isso não vai dar nada!”,dizia um arquitecto pomposo ou então “Não há sobredotados em Portugal… bah!!! Há mais associações que sobredotados!” repetia uma dama fundamentalista da educação especial para crianças, à altura designadas de deficientes.

Pois bem, foram, de facto, anos duros de luta contra uma mentalidade tenaz em luta contra a palavra diferença. A inveja, naturalmente, era o alicerce dessa luta. Ironia, das ironias, foi precisamente no século em que mais se pronunciou a palavra “igualdade”, o que terminou com a exaltação da diferença.

Em apenas uma década, neste pequeno burgo eternamente a reboque, em passo de caracol, do que acontece lá por fora, entra, enfim na euforia verborreica a excelência dos recursos humanos, os vivas à diferença disto e daquilo, e naturalmente foi logo a altura propícia para o aparecimento dos (chicos) espertos do costume que apanham o comboio quando já vai em alta velocidade, porque o arranque e as subidas são custosas em demasia.

Mas adiante, porque deste mal sofrem os portugueses em todas as áreas. Se vem um pioneiro “meio aluado” plantar flores o que final (pasmem!) até dá dinheiro, logo aparece uma centena de hortos, estufas e quejandos para mais rapidamente irem todos à falência.

Veja-se o negócio da importação de automóveis, foi um ver se te avias e hoje não se pode dar um passo sem vermos “stands” dos ditos nos lugarejos mais recônditos e, pensa-se, mas haverá gente para tanto carro? Pois se até se permite numa só rua a abertura de 4 ou 5 stands de carros, que naturalmente estão estacionados no passeio, na berma e no meio da via enquanto os moradores, sem garagem, que paguem os reboques!!! Ora pois, é Portugal!

Neste sector não se respeitam as normas da União Europeia, só no caso do leite! Pagar multas por produzir leite a mais??? Nem disso o diabo se lembraria. Mas alguma vez o leite foi de mais? mesmo em Portugal, será que todas as nossas crianças bebem diariamente a quantidade de leite necessária? será que em Timor, Moçambique há leite para as crianças? Por que não mandar o excedente para lá… como “castigo”.

Por falar em leite… é verdade as crianças Bem, onde íamos nós? a falar de sobredotados, não era? Mais propriamente de bébés sobredotados!

Agora, década e meia depois, há já no nosso país várias instituições destinadas aos sobredotados, umas mais sérias outras nem por isso, mas todas vão ajudando a alterar a mentalidade dos portugueses nesta matéria.

Na primeira conferência a que assisti, no Porto, sobre a então novel temática da sobredotação, fiquei de cabelo quase (e digo quase porque das terras do Tio Sam tudo é possível) em pé ao ouvir uma oradora relatar as experiências efectuadas no Instituto onde trabalhava (já lá vai muito tempo, nem me lembro onde Ohio? Texas? que importa).

Rezava assim: os jovens aspirantes a pais eram convidados a dirigirem-se a umas quantas consultas para determinarem quando queriam gerar o rebento, pois nesse preciso instante teriam de se rodear de uma atmosfera especial com música estimulante (para a mente da criança em embrião, entenda-se) e uns diálogos condizentes para que o bébé pudesse enriquecer desde logo o seu vocabulário.

Durante a gravidez, então as sessões repetiam-se (e eram de borla já se vê para que a pesquisa pudesse também dar frutos) com leitura de excertos literários entre acordes de música clássica seleccionada, tendo os pais como trabalho de casa, horas fixas para dialogarem com o ventre, em crescendo, não sobre trivialidades televisivas mas assuntos sérios e fundamentais para o futuro da humanidade para que a mente da criança pudesse ir associando, analisando e retendo.

Experiências como esta efectuadas provavelmente na década de 70 terão dado origem, por muito que nos custe admitir, à supremacia americana. Quer olhemos para a questão com cepticismo, ironia ou abominação, não restam dúvidas que hoje todo o mundo está rendido ao poder da globalização, que é o mesmo que dizer da América e dos seus (des)valores e (des)costumes.

Sobre a sobredotação, isto é, o investimento que o sistema educativo americano soube fazer na maximização dos seus recursos humanos (não venham com racismos ou xenofobia, pois hoje há muitos e bem conceituados e riquissimos políticos, actores, industriais, atletas de raça não caucasiana, que é como quem queria dizer há alguns anos, raça branca, da qual, hoje, até os latinos e os hispânicos estão excluídos).

Se na década de setenta a sobredotação era definida e avaliada, na de oitenta foi implementada nas escolas e estudada à exaustão nas suas múltiplas variantes de sobredotados com sucesso, sobredotados com insucesso escolar, as raparigas sobredotadas (como sempre as menos valorizadas …) os sobredotados aborígenes, os que não falavam o inglês, os que tinham deficiência, os geograficamente isolados, os de meio-sócio económico degradado, os “génios”, enfim, para todos os gostos. Mas, na verdade a investigação e trabalho no terreno com todas estas camadas da população em pleno crescimento parecem ter dado os resultados visíveis.

Lembro-me bem, que impressão profunda me ficou, da minha primeira visita à Universidade de Tampa, na Florida, em 1988, para aprender e ver in loco como eram elaborados os programas para sobredotados. Ver aqueles grupos de crianças de 3 (três) aninhos de idade que iam, duas ou três vezes por semana por um período de 2 horas, ter aulas na universidade, foi espantoso. Eram os próprios professores da universidade que, sentados no chão junto deles, lhes falavam de vários assuntos, os questionavam, os faziam raciocinar!!! A quantos anos-luz estão as nossas universidades ??!!

Na década de noventa a temática da sobredotação virou-se para a família (continuamos a falar dos Estados Unidos da América, não esqueçam) e muita orientação e aconselhamento tem sido fornecido aos pais, que chegam a mudar de residência para inscreverem os filhos nas escolas que melhores programas proporcionam.

Para que os pais possam detectar, o mais cedo possível, os sinais de sobredotação nos filhos, ainda bébés, há tabelas de consulta relativas ao desenvolvimento médio da criança a nível motor, da linguagem e da motricidade fina. Pede-se aos pais que não façam apenas o registo dos momentos em que a criança começa a gatinhar, a falar, a andar, mas que estejam mais atentos a todas as manifestações dos seus filhos. Se elas ocorrerem significativamente mais cedo do que a média, então deverão procurar orientação e estimulação para os seus filhos. Sem prejuízo de, como pensam os eternos velhos e velhas do Restelo das nossas muitas praças, deixarem de ser crianças e de poderem ser felizes.

Assim é considerado média numa escala elaborada por Harrison, em 1995, que um bébé de 3 meses se rebole, agite um guizo e vocalize alguns sons; que aos 7 meses se segure sentado bem direito e sem apoio e diga a 1ª palavra; pelos 9 meses segure um objecto entre os dedos, responda pelo nome; que ao completar o 1º ano de vida se ponha de pé sózinho, dê uns passos, faça uns rabiscos espontâneamente, balbucie com entoação; pelo segundo aniversário suba as escadas, use cerca de 20 palavras diferentes e faça alguma associação frásica, conheça e pronuncie o nome de alguns objectos e finalmente pelos 3 anos consiga correr bem, salte, ande de triciclo, utilize frases simples usando pronomes pessoais.

Se o seu bébé consegue fazer algumas destas tarefas 2 a 6 meses antes, então será conveniente procurar orientação e aconselhamento para que o desenvolvimento da sua criança possa ser pleno e equilibrado.

Para já um conselho: abra os olhos e vá anotando tudo o que vê. Peça e confie na observação dos seus familiares e amigos. Registe por escrito, porque a sua memória já não é o que era e depois venha ter connosco para saber o que fazer (na próxima crónica ou no CPCIL).

Manuela Freitas (CPCIL)

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