Crónica: Banho de Perfume

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Li algures que quem se maquilha mostra respeito para consigo e quem se perfuma demonstra respeito para com os outros. O pior é quando esse respeito passa das marcas. Acordar de manhã, tomar o seu duche, maquilhar-se ou fazer a barba, e está toda janota para sair. Não se esqueceu de nada? Claro, o banho de perfume. Mas eis que a mão descai ou o frasco se abre demais e pumba, fica-se mais cheirosa que uma rosa.

Mas isso não é problema, uma vez que cheirar bem sempre agradou a toda a gente. E vá de seguir para o trabalho. Se vai de carro, a única coisa pior que pode acontecer a quem passa por tão cheirosa flor é um passageiro ar perfumado que nos chega às narinas enquanto parados num qualquer sinal de trânsito.

Banho de Perfume

O problema para os canais olfactivos coloca-se quando a dita flor perfumada segue em transporte mais público. Aí só há uma solução: procurar um lugar à janela, abri-la, mesmo sobre os olhares reprovadores de quem tem de apanhar com uns pingos de água. Mas isso ou a sufocação total.

Seguem depois para os empregos onde os coitados dos colegas têm de asfixiar sobre as nuvens de perfume exaladas, apertam a mão a amigos que têm mais tarde de se explicar aos respectivos conjugues sobre tão estranho odor e perturbam as faculdades mentais de quem fica inebriado pelos vapores odoríficos.

Mas os odores não se ficam por aqui. Há quem apenas use uma peça de roupa por ano, esquecendo-se que nos restantes 365 dias a guardou em naftalina, e faz todos os presentes sentirem uma pena profunda das traças que tiveram de viver naquele ambiente.

E nos antípodas ocorrem os chamados ‘odores corporais’ esses sim muito naturais, das pessoas que acham que usar perfume, desodorizante ou qualquer tipo de sabão é um atentado à natureza e à sua pele.

Assim temos que nos dias mais quentes, em que apenas sonhamos com um refrescante banho, temos ainda que levar com o cheiro que essas pessoas, amigas do ambiente natural, destilam por todos os poros.

Na lista vem depois o mau-hálito, por razões de saúde ou simples falta de limpeza. E a pessoa nesse estado insiste em falar com a pessoa do lado, amigo ou simples conhecimento de ocasião espalhando a fragrância em redor e causando ondas de náusea e mau-estar.

Como dizia o ditado, meus senhores, nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

Cronista da Mulher Portuguesa: Maria do Carmo Torres

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