Crónicas de maldizer: as nossas criancinhas

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Não sei se é impressão minha ou apenas vontade de embirrar, mas cada vez mais me convenço de que as nossas criancinhas estão mais mal-educadas.

As nossas criancinhas gostam de gritar, guinchar, espernear. Elas gritam nos supermercados por um qualquer brinquedo, berram nos cafés porque querem ou não querem algo, azucrinam os ouvidos dos outros passageiros nos transportes públicos, pondo à prova os seus dotes vocais e a paciência do mais santo. Isto também não é para menos com todos os exemplos que lhes chegam via paizinhos e mãezinhas.

As nossas criancinhas

Mas quem as vê ou lida com criancinhas diariamente (e não quer dizer que faça disso profissão) facilmente atinge o ponto de rebuçado ao ouvir os guinchos anti-melódicos com que nos brindam e que são lançados em qualquer local, sem que os respectivos acompanhantes adultos pareçam ter, ou querer ter, qualquer controlo sobre a situação.

E o pior é quando isto acontece em locais onde se busca alguma paz. Quem ainda nunca passou por uma situação em qualquer restaurante onde pretende almoçar ou jantar em sossego e é obrigado a assistir a uma verdadeira comédia delarte com a criancinha espojando-se no chão em gritos aflitivos quando não a deixam comer com as mãos, ou num qualquer café gritando a plenos pulmões quando não recebe o bolo pretendido ou outra guloseima?

Para já não falar daquelas que julgam estar num parque infantil dentro desses recintos e correm desenfreadamente por entre os bancos e guincham sem que os paizinhos, calmamente bebericando a sua bica, se preocupem em lhes incutir algo tão simples quanto o respeito devido aos outros em locais públicos.

E o que realmente me irrita e deixa fora de mim é que a maior parte das vezes este triste espectáculo tem lugar sobre o olhar benevolente dos papás, das mamãs ou avôzinhos, para quem são muitas das vezes lançados ternurentos impropérios por parte dos guinchantes infantes, e que ainda lançam olhares assassinos a quem se atreve a reclamar contra tão grande má-educação e a dizer com ar de quem percebe tudo sobre pedagogia: ‘Não sabe que são criancinhas?’

Mas tal não deve ser de estranhar. Afinal esta é a educação que lhes dão. No meu tempo, se me atrevesse a levantar a voz contra algum dos progenitores, logo vinha a ameaça de um ‘chá de marmeleiro’ e ainda não sou assim tão velha.

Actualmente a educação parece passar por uma total liberdade de movimentos confundida por muitos pedagogos por total má-criação. E os papás ficam muito contentes por deixar a sua criancinha desenvolver-se e expressar-se.

O pior é que esta educação esquece quase sempre algumas palavras tão essenciais para a nossa vida. Esquece a forma de dizer: ‘Obrigado’, ‘Com licença’ e ‘Por favor’.

Esquece ainda a importância de respeitar os mais velhos e todas as pessoas com quem têm de partilhar um espaço. Esquece que estas crianças serão um dia os filhos adultos.

Mas afinal estamos num mundo moderno e as crianças querem-se modernas e livres dos atilhos que os antepassados impunham às crianças, sendo que a educação era o pior deles. Afinal, são só criancinhas…

PS: Afinal ainda há excepções. Ainda hoje vi um miúdo pequeno que, no barco, pedia um brinquedo ‘por favor’ à mãe e que em seguida lhe agradeceu com um ‘Obrigado mamã’. Afinal ainda há esperança…

Cronista: Maria do Carmo Torres

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