Cronista: Alcoolizado ou nem por isso

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Kits para determinar a taxa de alcoolemia vão estar brevemente á disposição do condutor em áreas de serviço Galp. Uma medida eficaz ou mais um fiasco vencido pelo álcool?

Um copo não faz mal a ninguém, dois é a conta e três já é demais- é assim em quase tudo na vida! A lei relativamente à taxa de alcoolemia está cada vez mais rigorosa, mas a verdade é que os portugueses parecem não se ter ainda consciencializado desse factor (constato essa realidade diariamente) e, pior ainda, dos malefícios que o álcool provoca na condução e na saúde (situação também constatável todos os dias).

Preocupados com os valores de alcoolemia verificados, e com os problemas que daí advém, a Prevenção Rodoviária Portuguesa decidiu colocar à disposição, metaforicamente falando, kits (não, não é aquele carro daquela famosa série de televisão) para que os próprios condutores saibam se podem ou não prosseguir viagem. Tudo a partir de uns cristais que mudam de cor! (não, também não é mais uma medicina alternativa!)

O problema é que esta medida apenas abrange 70 áreas de serviço da Galp, enquanto que as restantes ficam, uma vez mais metaforicamente falando, de ‘mãos a abanar’! Esta medida, segundo o jornal “Correio da Manhã, integra-se na campanha, “Vá de Férias e Volte Sempre em Segurança”, promovida pela Prevenção Rodoviária Portuguesa que decorrerá de 26 de Julho a 31 de Agosto. E, o mais importante de tudo, até porque sempre fomos muito amigos dos espanhóis (Olé, Olé!!), é que essas 70 áreas de serviço estão espalhadas pelos principais eixos rodoviários de Portugal e Espanha.

Porém neste país, o nosso, portanto, ninguém dá nada a ninguém (se alguém lhe quiser dar qualquer coisa desconfie!). O que significa que os ditos kits não são gratuitos! (Ah, pois é! Pensavam que isto era ali a feira da ladra, versão bomba de gasolina, não?)

A quantia é módica, entre 100 a 150$, mas no fim da campanha, tudo junto, dará uma quantia bem rechonchuda! (pergunto eu: para onde vai esse dinheiro? Mistério!) Outro pormenor é que estes ‘testes’, chamemos-lhe assim, devem ser utilizados após 15 ou 20 minutos da pessoa ter consumido álcool. Coisa simples, perfeitamente possível, pois de facto Portugal resume-se a uns quantos eixos rodoviários importantes e nada mais!

Imaginemos que a pessoa vem de um casamento, numa daquelas aldeias perdidas por entre encostas transmontanas, e já bebeu uns ‘copos’. É tudo muito simples: dirige-se a um dos postos Galp, atenção que são só nos principais eixos rodoviários, e adquire o kit (não, não é aquele carro maravilha!).

Claro que essa área de serviço pode estar a dezenas de quilómetros, mas isso até é irrelevante, não é? Esquecem-se os mentores desta ideia que, nesta situação idealizada, o condutor teria que percorrer muitos kms, o que levaria mais do que os 15 ou 20 minutos aconselháveis para a realização do ‘exame de inibição de conduzir’ (chamo-lhe eu assim!).

E, depois, se o resultado do teste não o permitir conduzir, acham que o condutor, que conduziu até ali, não vai achar que está em perfeitas condições para conduzir o resto? (afinal, somos ou não somos teimosos?)

Já assisti a indivíduos beberem a mais e julgarem-se sempre em perfeitas condições para conduzir. O que significa que a pessoa tem que estar ali muito tempo a explicar-lhes as coisas, como se tivessem 5 anos de idade, para que a pessoa se consciencialize que não pode conduzir. Claro que esta situação é apenas possível quando está num grupo de pessoas, mas quando a situação implica apenas uma pessoa, sozinha, que vai seguir viagem?

Julgam que são todas as pessoas que, já num estado mais para lá do que para cá, vão ter o cuidado de ir adquirir o kit se não tiverem alguém que lho diga. Nem se lembram de tal coisa, a não ser que sejam minimamente responsáveis, coisa que escasseia um pouco pelas estradas portuguesas!

Não retirando o mérito à iniciativa, e à referida campanha, uma vez mais se comprova que só os grandes centros urbanos, e as áreas de maiores enchentes nas zonas das férias, têm direito a estes cuidados. É importante zelar pela segurança dos portugueses em Portugal, ou onde quer que os mesmos se encontrem, mas em vez da referida campanha abranger áreas de serviço em Espanha, porque não direccionar esse dinheiro para uma extensão maior em Portugal?

A concepção de um kit, onde através da mudança de cor de uns cristais se pode saber se é ou não aconselhável seguir viagem, depois de ter já soprado para um género de saco, é muito inovadora, mas é necessário pensar-se em todas as probabilidades, e ter a noção de que se está a privilegiar uns, os viajantes que passam pelos grandes centros urbanos de Portugal e Espanha, e a deixar-se para trás outros, as pessoas que possivelmente não saem dos seus meios rurais e que, nem por isso, deixam de beber de vez em quando, quer seja nesta ou em outra altura.

Além do kit, serão ainda distribuídos folhetos com inúmeros conselhos de prevenção e números de telefone úteis para os condutores, caso necessitem de alguma coisa (a ver vamos se os ditos papéis não servem antes para outras coisas…).

O Verão é a época, por excelência, mais propensa a acidentes de viação, e a responsabilidade dos condutores é vital para evitar catástrofes no asfalto. Ainda assim, e embora não se tenha atingido o expoente máximo de civismo na estrada, é de salientar que já se têm verificado algumas melhorias na condução dos automobilistas, incluindo no próprio consumo de álcool.

Andar na estrada é perigoso, implica cuidados redobrados, olhos bem abertos, e ter a plena noção de que a nossa vida pode estar em risco, a qualquer instante, por uma gota de álcool a mais, ou simplesmente por uma falha humana. Consciencialize- se do perigo que corre, e do perigo que pode provocar aos outros! Um deslize pode ser fatal! E, com kits ou sem kits, a responsabilidade deve ser sua, acima de tudo! Boa Viagem!

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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