Até onde se pode ir? de David Lodge da Editora Gradiva
Até onde se pode ir?
São os anos que precedem a década de setenta, altura em que se começa a descobrir que o corpo não serve apenas de lugar para a alma mas também para gozar o prazer. São os anos em que todos os conceitos e ideias preconcebidas foram eliminadas. São os anos de dúvida.
Quatro jovens atravessam esta época de mudança num turbilhão de ideias, de novas facetas e do florescer de uma mentalidade completamente nova.
De um lado as regras de uma sociedade devotada ao catolicismo, contra o sexo e a contracepção, do outro toda a permissividade do mesmo, o advento da pílula e da nova era.
O catolicismo e as suas vertentes mais ou menos falsas levam à geração da dúvida e da descrença que perpassam pelas páginas, deixando um sabor amargo aos leitores pela permissividade com que algumas questões foram encaradas ao longo dos tempos, fazendo reflectir sobre o que realmente mudou na igreja.
Como resposta à questão colocada no título, a determinada altura fica a resposta de um padre para os seus alunos sobre até onde ir em matéria de sexo: “esta era a resposta do padre da escola salesiana, que era sempre a mesma, embora expressa de maneiras diferentes: “A vossa consciência dirá, não além do que não se envergonhariam de contar à vossa mãe, até onde deixariam que outro rapaz fosse com a vossa irmã””.
Trata-se de um romance de humor algo negro para alguns, ou claramente brilhante para outros, dependendo do ponto de vista e da forma como o lerem, mas inequivocamente espectacular no acompanhamento que faz das mudanças de opinião e mentalidade ocorridas durante as duas décadas que antecederam os anos setenta.
E a questão fica em aberto, colocada pelo próprio narrador que encara o futuro como uma incógnita: “E agora o que irá acontecer? Está tudo em aberto, o futuro é incerto, mas será interessante ficar atento.”
Este romance de David Lodge foi o vencedor do prémio Whitbread Book of the Year e é trazido até ao público português pela Editora Gradiva.