As Casas da Celeste de Theresa Schedel da Editorial Presença
As Casas da Celeste
Uma narrativa rápida, atraente. Um livro para ler numa noite de chuva ou calor, porque nos surpreende em cada página, sem ser uma surpresa completa.
É nas bravias terras beirãs que se desbrava este mistério. Não se trata de um assassinato, mas de descobrir as diferentes personalidades de várias pessoas, numa época em que as aparências iludiam. A descoberta de uma sala com quadros eróticos vai despoletar uma desenfreada corrida de compradores, retratados e comunicação social.
Duas irmãs recebem a notícia da morte da irmã, de quem pouco ou nada conheciam, apenas de que fazia uma vida “dissoluta”. São suas herdeiras e para avaliarem os bens, deslocam-se à aldeia onde Celeste vivia.
Três mulheres diferentes numa casa de recordações, duas vivas e uma morta, mas que interage em todo o enredo, descobrem-se aos poucos, os seus desejos íntimos, as suas personalidades reais, as suas formas de encarar o mundo. “O mesmo barro coberto de mais ou menos vidrado”, como uma criada da casa as avalia. Mas o barro molda-se às vontades, e só com o calor do fogo se revela em toda a sua beleza. Aqui o fogo é a descoberta, página a página, do livro que forma a vida de uma irmã falecida.
À medida que as diferentes características de Celeste se desvendam, também Olga e Ema se descobrem, interrogando-se mesmo se as diferenças que julgavam separá-las da irmã são assim tão grandes.
Como pano de fundo, uma sociedade hipócrita, Lisboa de meados dos anos sessenta, aproveitadora, dos senhores da sociedade face aos problemas de uma mulher pobre.
A autora, Theresa Schedel de Castelo Branco, filha de uma portuguesa e de um alemão, formou-se em pesquisa de documentos históricos e publica obras temáticas da História de Portugal. Este romance é a obra de estreia, que a avaliar por este trabalho, muitos mais bons momentos vai proporcionar aos leitores.
O livro é uma avaliação de caracteres, costumes e formas de vida, um retrato de personalidades através de personagens tipo. Um enredo que se desvenda e inventa em cada página. Uma narrativa rápida, atraente. Um livro para ler numa noite de chuva ou frio, porque nos surpreende em cada página, sem ser uma surpresa completa.