A cidadela branca de Orphan Pamuk da Editorial Presença
A cidadela branca
Um senhor e um escravo. Um muçulmano e um cristão. A história deixamos para você descobrir…
Tudo se passa no século XVII, em que um cristão, feito prisioneiro numa viagem que efectuava para Nápoles, relata a sua vida como escravo do homem a quem todos chamam Mestre, e que apresenta enormes parecenças físicas com o narrador.
O Mestre é um homem apaixonado pelas descobertas, pelo que é novo, pela astronomia e pelos inventos, embora raramente consiga chegar ao fim dos seus projectos.
Poderia ser mais uma história de amo/servo, narrando as belezas de Istambul, e a vida de um tempo de opulência, de noites mágicas, passadas entre almofadas de cetim da corte do Sultão e paredes caiadas da casa do Mestre.
Mas Orphan Pamuk, autor deste conto, vai mais longe e leva o romance à descoberta que cada um dos homens deste duo, faz dos seus medos, pecados, memórias e fantasias, que em vez de os afastar, mais os aproxima um do outro, ao ponto de se confundirem as identidades numa quase fusão de duas pessoas, que se descobrem a cada passo, provando que nem a religião nem o espaço é suficientemente amplo para que existam diferenças de maior.
Principalmente notável é a descrição da epidemia de peste em Istambul, em que amo e servo encaram os seus medos consoante as suas maneiras de encarar o mundo e as respectivas culturas, mas que acabam por se assemelhar, no sentimento mais primitivo dos homens – o medo.
Em todo o livro perpassa a questão em descobrir afinal “porque sou o que sou?”, num jogo de espelhos infinito e diabólico, onde paira muita loucura e lucidez e onde o maior medo que se sente é o receio de perder a personalidade.
A Editorial Presença traz até nos este autor turco, um dos grandes nomes da literatura actual.