Museu da Música: Décadas de Cultura Musical

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Museu da Música: Décadas de Cultura Musical
Museu da Música: Décadas de Cultura Musical

Museu da Música: Décadas de Cultura Musical

Décadas de Cultura Musical

A Directora do Museu da Música, com o curso de Conservadora de Museus, define a música como um conjunto de estados de espíritos, de difícil definição.

Michel’angelo Lambertini, fundador da Grande Orquestra Portuguesa, da Sociedade de Música de Câmara e da Caixa de Socorro a Músicos Pobres, tinha um sonho, desde 1911: criar um Museu de Música. Reuniu cerca de 500 peças, incluindo instrumentos musicais, partituras e peças de iconografia musical. Através de um protocolo assinado entre o Metropolitano de Lisboa e o Instituto Português de Museus, o sonho de Lambertini tornou-se real quando em Julho de 1994, foi inaugurado o Museu da Música, na Estação do Metro Alto dos Moinhos.

O Museu engloba uma exposição permanente de cerca de 130 peças, sob o nome de “Fábrica de sons: instrumentos de música europeus dos séculos XVI a XX”. Do seu amplo e extenso espólio, fazem parte cerca de mil objectos organológicos de diversas proveniências: Europa, Ásia, África, de tradição erudita e popular, percorrendo cerca de quatro séculos de artesanato instrumental.

Para além da exposição permanente, há ainda a realçar outras iniciativas temporárias com o intuito de destacar autores e instrumentos, tal como um conjunto de actividades paralelas à exposição: o restauro de instrumentos, oficinas, a edição de livros e discos, a realização de recitais, conferências e outros eventos. Deste projecto fazem ainda parte, a biblioteca, um serviço educativo e a loja/livraria.

O Museu da Música reúne um vasto leque de raros instrumentos de incalculável valor, como é o caso dos corne ingleses de Grenser e de Grundman & Floth(Leipzig, finais do séc. XVIII) e o de Ernesto Frederico Haupt (Lisboa, meados do séc. XX). De destaque, é também um cromorne do último quartel do séc.XVI, o cravo de José Joaquim Antunes (Lisboa, 1758), os violinos, violeta e violoncelos de Joaquim José Galrão (Lisboa 1760-1794), as cornetas e os trombones de Rafael Rebelo (Lisboa, 1875) ou ainda, as guitarrras de Domingos José de Araújo (Braga, 1812), entre muitas outras relíquias de semelhante destaque.

Pelo porte emblemático dos seus possuidores, há ainda que evidenciar, o piano de cauda que Liszt trouxe de França aquando da sua passagem pelo nosso país, o violoncelo de António Stradivari (único instrumento com essa assinatura no nosso país) e que pertenceu e foi tocado pelo Rei D.Luís e o violoncelo de Henry Lockey Hill, que pertenceu à violoncelista Guilhermina Suggia.

Este Museu é proveniente de um acordo realizado entre o IPM (Instituto Português de Museus) e o Metropolitano de Lisboa, que possibilitou a instalação deste espaço subterrâneo de dois pisos. Todos os instrumentos, estão organizados em função do seu género e afinidades organológicas e cronológicas.

No seu interior encontramos várias famílias de instrumentos, relembrando épocas passadas, símbolos e vestígios que retratam o rosto de outros tempos. Harpas e saltérios do século XVIII iniciam este retorno mental ao passado, seguidos de cordofones do séculos XVI e XVII e de bandolins napolitanos do século XVIII. As guitarras inglesas e portuguesas embelezam outra das vitrines, conjuntamente com a viola francesa e a viola toeira, uma viola popular portuguesa da região de Coimbra. No conjunto de cordofones friccionados, vislumbra-se trombetas marinhas, violas da gamba, violas de amor e de braço, entre outros. Um dos restauros excepcionalmente conseguido, é o da espineta italiana que finaliza a série dos cordofones.

Ao longo da exposição deparamo-nos com flautas direitas, de travessa, de bengala, um clarinete e um saxofone soprano. As trombetas naturais, o corneto, o serpentão e o oficleide, são verdadeiras relíquias, raramente tocadas nos dias de hoje e que, compõem este vasto e memorável espaço de cultura musical.

O cravo de José Joaquim Antunes( Lisboa, 1758) é uma das mais destacadas relíquias, um instrumento de cordas com teclas, muito semelhante a um piano, mas com uma técnica diferente já que, o que toca as cordas não é um martelo, produzindo assim, uma sonoridade muito mais suave. O cravo continua ainda a ser tocado, encontrando-se em perfeitas condições sonoras.

Esta é uma das preciosidades preferidas da Directora do Museu da Música, Dra. Helena Ferraz Trindade, que desde o início acompanhou o nascer e o desenvovimento do Museu. Ligada ao Instituto Português de Museus foi convidada pela Directora para apoiar e participar, em vários projectos da Lisboa-Capital da Cultura, em 1994.

Feito e acordado o protocolo com o Metropolitano de Lisboa em 1993, as obras do Museu tiveram o seu início em 1994, acabando Helena Trindade por permanecer na direcção deste espaço.

O Museu da Música privilegia, para além da exposição permanente, exposições temporárias. Em 1995, realizou-se uma exposição dedicada à passagem de Liszt por Lisboa e também outro evento em homenagem ao compositor e pianista José Viana da Mota.

Outra exposição que, ainda se encontra no Museu da Música, é a exposição dedicada à iconografia musical na pintura. Há ainda outras actividades, como é o caso dos recitais, que em 1999 foram cerca de 80, o lançamento de livros musicais, a realização de oficinas de expressão musical para as crianças e desenvolvem-se e orientam-se trabalhos e estágios de museologia, de conservação e restauro. Estas compõe uma série de iniciativas, que complementam a investigação aprofundada dos instrumentos, dos músicos, compositores, das grandes personalidades e peças instrumentais que marcaram toda a história da cultura musical.

Este ano o Museu da Música está a preparar uma exposição que tem como destaque os 50 anos do jazz em Portugal e, outra exposição, que terá a sua inauguração em Estremoz, pretendendo homenagear o cantor lírico Tomás de Alcaide. Em função do fado, o grande e emblemático género musical português, está previsto que em 2001, venha a ser realizada uma exposição dedicada à guitarra portuguesa e a todos os grandes mestres deste instrumento.

O Museu da Música conta com o apoio financeiro do Instituto Português de Museus e de pequenos orçamentos , através de patrocínios de algumas empresas, no âmbito de iniciativas mais dispendiosas.

O público que visita o Museu, é essencialmente estudantil, proveniente de diversas escolas, e pessoas ligadas ao universo da música, muitas delas de origem estrangeira. Com alguma formação musical no âmbito do piano e da flauta, a Directora do Museu da Música, com o curso de Conservadora de Museus, define a música como um conjunto de estados de espíritos, de difícil definição, provocando sensações diferentes, consoante o instrumento e o tipo de música.

Infelizmente, o público português não tem uma grande afinidade pelas visitas aos museus, de forma que é fundamental criar uma boa propaganda, tendo em conta que o espaço onde o mesmo se encontra não é muito favorável para a sua divulgação. Certamente, se o mesmo se situasse junto ao Museu dos Coches ou próximo do Mosteiro dos Jerónimos, a sua afluência seria muito superior à actual.

Os instrumentos que se encontram no Museu da Música, tiveram muitos deles que sofrer restauros, permitindo que os mesmos pudessem ser novamente tocados. Assim, um conjunto de músicos possibilitou a gravação de um CD, intitulado por: “Fábrica de sons/Sound Makers- instrumentos históricos do Museu da Música de Lisboa”. O aspecto fulcral deste CD, centra-se no facto de se ter dado uma extensa importância e notabilidade, a várias peças inéditas de compositores portugueses dos séculos XVII a XX. Logo, é possível escutar através de um CD, a sonoridade característica de cada um dos 130 instrumentos, que compõe a exposição permanente do Museu da Música.

Este espaço é uma verdadeira rota pelo passado musical, não só português, mas também estrangeiro. Nas suas amplas salas encontra-se obras de arte autênticas, com o peso das décadas na sua forma e rosto. Muitos dos instrumentos musicais, concebidos em madeira, enaltecem na sua extremidade rostos e figuras simbólicas da época, minuciosamente construidos.

O culto da religião e a adoração pelos anjos, é neste espaço impecávelmente retratado, através da pintura ou de peças de cerâmica. Uma mistura de tons, formas e situações, transmitindo sempre uma componente musical, estão aqui bem marcados, através de imagens que mostram anjos a tocar vários instrumentos, ou de mulheres que simbólicamente tocam harpas.

Uma visita pelos séculos passados, guiada por uma vasta diversidade de sons, pode ser observada e ouvida de Terça a Domingo, das 13.30 às 20 horas. Uma deslumbrante e variada beleza visual e auditiva, a não perder no Museu da Música de Lisboa, na estação do Metro de Alto dos Moinhos.

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