Viva a República

1247
Viva a República
Viva a República

Viva a República

Como em todas as coisas, qualquer sopro de mudança é sentido pela alma de um povo, antes mesmo de ser pensado pelos autores. E Portugal esperava uma revolução. Esta chegou no dia 4 de Outubro e teve o seu desfecho apenas um dia depois. Foi a primeira queda de uma monarquia no século XX.

Aproveitando a agitação que se fazia sentir em Portugal após a Regeneração (1851) levada a cabo pelo Marechal Saldanha e pelo Ministro Fontes Pereira de Melo, que proporcionou ao nosso país um avanço em muitos sentidos, foi fundado em 1870 o Partido Republicano. Este partido viu as suas hostes fortalecidas com a crise do “Ultimato”, onde a Inglaterra obrigou Portugal a desistir das suas terras entre Angola e Moçambique.

A opinião pública levantou-se contra esta acção e o descontentamento popular fez-se sentir em relação aos governos monárquicos, o que levou à primeira tentativa de derrube da monarquia, no Porto em 1891. Após algumas escaramuças, os revoltosos foram derrotados, mas a monarquia caminhava para o seu fim.

O ano de 1908 marcou definitivamente o fim de uma monarquia algo decadente e o inicio de um dos períodos mais conturbados de Portugal. Numa fria tarde do dia 1 de Fevereiro, a família real regressava a Lisboa de barco, vinda de Vila Viçosa. Um landó esperava-os para seguir rumo às Necessidades, mas na esquina da rua do Arsenal um homem saltou para a carruagem e disparou dois tiros de pistola nas costas de D. Luís, enquanto outro alvejou com uma carabina D. Filipe, e D. Manuel que viria ainda a reinar por um curto período de tempo, ficou ferido num braço.

Dois anos passam e os ventos de revolução fazem-se sentir em todo o lado. O Partido Republicano, firmemente implantado no Parlamento e nas autarquias, tendo por base médicos a comerciantes, oficiais subalternos a estudantes, advogados a caixeiros, começa a juntar os seus apoiantes e a conspirar contra a monarquia

Chega o dia 4 de Outubro de 1910. Marinheiros, imbuídos do espírito revolucionário tomam o quartel da Armada em Alcântara e seguem para as Necessidades. As milícias juntaram republicanos, carbonários e maçons pela primeira e última vez e armadas com oito peças de artilharia, as forças rebeldes começaram a revolta.

Entre ordens e contra-ordens, o suicídio do Almirante Cândido dos Reis, líder militar do movimento, convencido que este fora derrubado ou a morte do chefe dos operacionais civis, o médico Miguel Bombarda, a força republicana acabou por se concentrar na Rotunda com centenas de homens para fazer frente às tropas monárquicas, melhor armadas e em número superior, mas que se limitaram a tomar posições defensivas no quartel-general no Rossio. As tropas do rei chegaram ainda a subir a Avenida da Liberdade, mas recuam deixando aos “rebeldes” a toma da cidade de Lisboa.

O 5 de Outubro é o culminar das acções revolucionárias. Três cruzadores fundeados no Tejo bombardeiam as tropas monárquicas durante a noite. Na madrugada do dia 4, as tropas monárquicas tentam conquistar o quartel-general dos revoltosos na Rotunda mas não conseguem e começou a sentir-se um sopro de insubordinação nas fileiras, onde soldados e oficiais se recusavam a combater pela monarquia.

A vitória dos republicanos é alcançada sem mais tiros quando Machado Santos, na Rotunda, ficou a saber desta falta de vontade em combater por parte das tropas reais e, à frente de centenas de pessoas, desce a Avenida para convencer as tropas fiéis ao rei a juntar-se-lhe. A vontade de mudança é mais forte que o apelo da obrigação e as tropas juntam-se aos revoltosos. Resultado final destes dois dias: 70 mortos, a maioria civis.

Nasce então o dia que ficaria para sempre marcado na história portuguesa. Alguns membros do Partido Republicano apresentaram-se na varanda do edifício da Câmara Municipal de Lisboa e proclamaram a República em Portugal. A tarde viu a partida do rei D. Manuel e da restante família, refugiados em Mafra e que embarcaram na Ericeira para o exílio em Inglaterra. Portugal pode gritar “Viva a República!”.

Classificação
A sua opinião
[Total: 0 Média: 0]