José Cardoso Pires, um dos maiores nomes da literatura

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José Cardoso Pires
José Cardoso Pires

A par de António Lobo Antunes ou José Saramago, José Cardoso Pires é uma das maiores referências da actual Literatura Portuguesa. Por entre o Jornalismo e a Publicidade, acabou por eleger a Escrita como forma de vida. Para a História da Literatura, deixou uma vasta obra, tão variada, quanto rica.

José Cardoso Pires

Nasceu em 1925, em São João do Peso, distrito de Castelo Branco, Filho de José António Neves, oficial da Marinha, e de Maria Sofia Cardoso Pires, a família caracterizava-se pela média burguesia rural, da parte da mãe, e pela emigração, principalmente nos Estados Unidos, pela parte do pai.

José vem muito cedo para Lisboa, onde frequenta todos os graus de ensino, desde a primária, na escola do Largo do Leão, até à secundária, no Liceu Camões. Em seguida, ingressa na Faculdade de Ciências de Lisboa, onde não chega a terminar o curso de Matemáticas Superiores.

Começa, então, uma longa carreira de colaborações com projectos jornalísticos. O arranque dá-se com “O Globo”; depois, a revista do Instituto Francês de Lisboa; e o quinzenário “Cidade dos Rapazes”, sempre ao nível literário, com pequenos comentários e ensaios.

Em 1947, cumpre o serviço militar em Vendas Novas e na Figueira da Foz, após o que se dedica a actividades várias, como as vendas, correspondente de inglês e intérprete de uma companhia de aviação.

Dois anos depois, é publicada aquela que é, geralmente, considerada a sua primeira obra. “Os Caminheiros e Outros Contos” conhece a luz do dia pela mão do próprio autor, embora com a chancela do Centro Bibliográfico.

Ainda assim, Cardoso Pires não abandona o jornalismo. Nesse mesmo ano, torna-se redactor e, mais tarde, chefe de redacção da “Eva”, uma revista dedicada ao público feminino.

Dedica-se também às traduções, nomeadamente, no caso de “Morte de Um Caixeiro Viajante”, de Arthur Miller; e “O Pão da Mentira”, de Horace McCoy.

Em 1952, é a vez do segundo conto: “Histórias de Amor” acaba, no entanto, nas mãos da PIDE, que apreende o livro e detém o autor.

Começa, então, o percurso marcadamente vincado de Cardoso Pires na luta contra o regime. Um percurso que o leva a escrever, em 1963, um romance, “O Hóspede de Job”, dedicado ao irmão, morto num acidente de viação, que serviu de “protesto contra a guerra fria e a colonização militares” (entrev. Vida Mundial, 7 Dez. 1974).

Em 1954, Cardoso Pires é, pela primeira vez, publicado no estrangeiro, mais concretamente, em Londres: “The Outsiders” é um conto extraído de “Os Caminheiros”.

Quatro anos depois, participa no Congresso Mundial da Paz, em Estocolmo, ao mesmo tempo que publica “O Anjo Ancorado”.

Nos finais dos anos 50, lança em Milão a revista “Almanaque”, de que é coordenador redactorial. Entre os nomes que constituíam este projecto, sem viabilidade em Portugal por causa da Censura, estão os de Luis Sttau Monteiro, José Cutileiro, Vasco Pulido Valente, Alexandre O’Neill e Augusto Abelaira.

Segundo explicou ao “Século Ilustrado”, o objectivo da Almanaque era “ridicularizar os provincianismos, cosmopolitizados ou não, sacudir os bonzos contentinhos e demonstrar que a austeridade é a capa do medo e da falta de imaginação”.

Nos anos seguintes, José Cardoso Pires exila-se em Paris e no Brasil.

Em 1961, regressa a Portugal, onde retoma o projecto Almanaque e é um dos directores da Sociedade Portuguesa de Escritores.

Ao longo das décadas seguintes, Cardoso Pires não abranda a sua forma de lutar contra o regime, nos jornais, em revistas, em sociedades culturais e de escritores, ao lado de nomes como Alçada Batista, Lindley Cintra, José Augusto França, Eugénio de Andrade.

Depois do 25 de Abril, faz do “submundo da polícia política e do seu tecido psicológico como corpo de terror” (Vida Mundial, 7/12/74) o principal objecto de análise do seu trabalho. Um trabalho que resulta na peça, dramática” “Corpo Delito na Sala de Espelhos”, encenada em 1980.

Nos anos que se seguiram, são vários os textos e obras que escreve sobre o tempo da ditadura.

Em 1976, responde, juntamente com Ruella Ramos, pela denúncia dos crimes da PIDE, no julgamento do Diário de Lisboa, o primeiro processo à liberdade de expressão depois da queda do regime salazarista.

Por entre alguns trabalhos de reportagem, para publicações espanholas e da América Latina, Cardoso Pires intensifica o trabalho literário.

Em 1983, recebe o Grande Prémio do Romance por “Balada da Praia dos Cães”, que, cinco anos mais tarde, dará origem ao filme, de produção luso-espanhola, de José Fonseca e Costa.

No final dos anos 80, “Alexandra Alpha” ganha o Prémio Especial da Associação de Críticos de São Paulo. Em 1994, faz sair uma compilação das crónicas semanais no Público, a que dá o nome de “A Cavalo no Diabo”.

1997 marca o lançamento das sua última obras: “Lisboa, Livro de Bordo” e “De Profundis Valsa Lenta” relata um acidente vascular cerebral que o atingira um ano antes.

A vida literária de Cardoso Pires termina com a atribuição de dois distinções: Prémio D. Dinis e Prémio Pessoa 1997.

Morre em Lisboa em 26 de Outubro de 1998.

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