Cartas – Relatos de uma enfermeira de Matilde Rosa Tarant da Minerva
Cartas – Relatos de uma enfermeira
Um pequeno livro, que se lê quase sem se dar conta em algumas horas. Um relato sentido e humano da vida. Este é o resumo possível do livro. Possível, porque único.
A determinada altura, a autora, Matilde Rosa Taranta refere: “Quis, escrevendo e sentindo, debruçar-me um pouco sobre um passado profissional ainda próximo. Sofri com o mal do meu semelhante, como senti toda a raiva perante a inevitabilidade da morte.”
Recordações de um tempo de guerra, de uma altura em que as enfermeiras aprendiam na escola da vida e da experiência, em que nem lhes era permitido casar, altura em que a profissão incorria em mais sacrifícios do que recompensas e por isso um simples obrigado era mais importante que tudo o resto.
São histórias, memórias, escritas em cartas para um amigo, onde se desenrolam as imagens do passado e os dias em que a enfermagem era encarada de uma forma algo diferente.
Ao mesmo tempo, a autora defende a sua profissão, que exerceu durante trinta anos: “Acontece distinguirmos entre os gritos de dor e os gritos de histeria; entre o que pode ser grave e o que é notoriamente superficial. Daí, por vezes, essa aparente indiferença e insensibilidade e sermos acusadas de frieza por quem desconhece quanto vivemos e sentimos o mal alheio.”
E a única forma de realmente definir este livro é com mais uma das frases de Matilde Rosa Taranta, numa das suas cartas: “Receio sempre o cansaço da leitura dos meus relatos sombrios. (São tão monótonos e reais! Falta-lhes o interesse da ficção…)”.
Interesse, esse é o que não falta nestes relatos.
No final deste pequeno volume esperam-nos alguns artigos publicados pela autora entre 1958 e 1965, na Gazeta do Sul, dedicados à sua mãe e alguns contos do dia a dia.
Um livro lindo, pela sua simplicidade e complexo pelas memórias que invoca. A não perder esta edição da Minerva.