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Crónica: acabar com o maldito toque

Cronistas da MulherPortuguesa
Cronistas da MulherPortuguesa

Estou farta de ouvir aquele barulho irritante daquele maldito toque, para onde quer que me vire! A sorte é que os americanos já lançaram uma inovação e agora é possível calá-los a todos num raio de 60 metros.

Acabar com o maldito toque

Não fazia ideia que isto era possível, mas a mim parece-me que os americanos têm, de facto, uma imaginação muito fértil e lá inventaram uma coisa útil, embora eu julgue que há coisas bem mais importantes do que um telemóvel, por muito que aquele barulho mexa com o meu sistema nervoso.

A novidade que vos trago é que, segundo o Diário Digital, local onde acedi a esta notícia, é já possível instalar um kit no telemóvel de qualquer pessoa que vai permitir fazer com que todos os telefones portáteis num raio de 60 metros se calem. Não é tentador? Lógico que esta inovação tem o seu preço: 2.823 euros, que é como quem diz 563 mil escudos (2500 dólares).

Este “Silenciador Executivo” não está acessível a todos no seu país de origem, os Estados da Unidos da América. O aparelho possui uma frequência que permite silenciar os telefones da polícia, o que obriga a que a pessoa tenha que ter uma autorização especial para instalar este sistema no telemóvel.

A mim, que sou uma mera cidadã, não acredito que essa licença especial me fosse concedida, até porque não tinha grandes motivos para alegar essa instalação, a não ser, claro está, a irritação que esse toque me provoca. É que não é fácil hoje em dia, estejamos nós onde estivermos, conseguirmos passar cinco minutos sem ouvir esse barulho infernal!

No autocarro, café, num cinema, na rua, no centro comercial, ou até mesmo numa sala de aula, é possível depararmo-nos com esse som penetrante, que nos obriga a ter que o ouvir, sem que tivéssemos sido solicitados para tal. Afinal, quem é que me pediu autorização? Não nego que eu também utilizo, e muito, o dito cujo (o telemóvel, entenda-se!), mas há locais onde o silêncio do mesmo era mais adequado do que aquelas cantorias em jeito de desafinação.

Mais irritante do que o telemóvel a tocar porque alguém do outro lado precisa de contactar com o proprietário, é quando dois amigos se lembram (certamente porque não têm nada mais interessante com que se divertir!) de começar a mostrar toques um ao outro: ele é a música da Pantera Cor de Rosa, do Indiana Jones, do Zé Cabra, do Glorioso SLB, ou qualquer outra música da actualidade.

Está certo que a inovação é positiva, mas não há necessidade de se ser escravo da mesma. Eu não acho correcto ir fazer uma entrevista a alguém, como já me aconteceu, e a pessoa parar a meio para atender o telemóvel, sem tão pouco soltar um humilde “Desculpe”.

Assim como também acho vergonhoso que se interrompa uma aula para o professor atender o telemóvel, ou que estamos calmamente a fazer o nosso trajecto num transporte público e que o motorista esteja constantemente a falar ao telemóvel, quiçá com uma esposa, amante, ou namorada despeitada, porque tão depressa a conversa termina como volta a ser encetada.

Eu também me rendi ao telemóvel, confesso, mas há cenas que assisto às quais me dava vontade de fazer regressar no tempo umas boas décadas atrás. Pelo menos podia-se estar a tomar café descansada, em qualquer estabelecimento, sem a senhora da mesa do lado estar a ligar para o filho, e a chamada estar sempre a cair, a rapariga do lado a receber mensagens, ou o rapaz da frente a jogar ao Tetris…com som!

Haja paciência! É por isso que eu julgo que este silenciador executivo era uma excelente implantação no mundo dos telemóveis, mas como estamos quase sempre nos últimos lugares do pódio na maioria das inovações, talvez daqui a 10 anos possamos contar com esta modernidade no nosso país.

Como nos Estados Unidos a frequência deste equipamento consegue silenciar os telefones da polícia, esta podia ser mais uma boa desculpa para os agentes da autoridade. “Chamada de emergência? Ah!

Não registámos nada!”- uma boa forma de tirar as responsabilidades de cima, além das 1001 desculpas já hoje utilizadas. Assim é que tudo se tornaria uma verdadeira algazarra no nosso país, com os cidadãos a impedir as tarefas das autoridades.

Mas, e ainda assim, não tenho dúvidas que a autorização especial seria concedida a muito boa gente do nosso “cantinho à beira mar plantado”.

Até já imagino a Lili Caneças, em pleno T Club, a não achar piada nenhuma por não ter falado com a sua esteticista, o Alberto João Jardim, no meio de um bailarico na Madeira, sem o telefone audível para receber as instruções vindas do continente, que ele pomposamente ignora, ou ainda Carlos Carvalhas, à espera de um toque, que não chega, do seu camarada Álvaro Cunhal para este lhe ditar as directrizes do próximo comício.

Se a resposta a este equipamento for ampla, o que também não estou muito bem a ver pois ninguém deita fora quase 600 contos apenas para não ter que ouvir o telemóvel dos outros, isto vai ser uma verdadeira batalha de frequências.

O que pode acontecer é que, uma vez mais, os mais ricos vão superar os mais pobres, e quem se lixa, a bem dizer, são os desgraçados que, além de já terem gasto o dinheiro no telemóvel, ainda têm que se submeter a este tipo de autoridade dos mais ricos sobre os mais pobres.

E, uma vez mais, o Zé Povinho é que tem que pagar pelos caprichos dos mais ricos! Enfim, o que o dinheiro não compra…até o silêncio de um simples telemóvel!

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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