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Florbela Espanca – uma diva da poesia

Florbela Espanca
Florbela Espanca

Abandonou a terra dos mortais ainda muito cedo, aos 36 anos, mas a sua presença ficou para sempre relembrada. Uma poeta da vida, do amor e da saudade – assim recordamos Florbela Espanca.

Natural do Alentejo, Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa a 8 de Dezembro de 1894. O seu nascimento ficou marcado por factos invulgares: a mãe não podia ter filhos, e o pai engravidou uma criada da altura, sendo esta também a pessoa que daria à luz o irmão de Florbela Espanca.

Assim nasceu Florbela Espanca, a mulher de olhos triste e de reputação duvidosa. Por altura do liceu foi estudar para Évora, indo mais tarde para a Faculdade de Direito em Lisboa. Foi a partir do contacto com a cidade que a sua vida se transformaria para sempre!

Florbela Espanca

Começou a escrever logo desde muito cedo. A sua primeira poesia escreveu-a quando tinha os seus sete anos e intitulava-se ‘A Vida e a Morte’. Um poema demasiadamente nostálgico, quase violento, para uma criança tão nova o escrever. Florbela Espanca era doente. Sofria de neurastenia, doença herdada pela sua mãe, aquela que a criou e não a legítima.

As insónias e dores de cabeça que afectavam a poetisa começaram a piorar cada vez mais, mas é com a morte do seu irmão e com o seu descontentamento amoroso que Florbela se torna uma mulher extremamente nervosa.

Casa-se pela primeira vez aos 19 anos com Alberto Moutinho. Já órfã de mãe, Florbela muda-se, conjuntamente com o seu marido, de Évora para o Redondo, onde abre um colégio. Inicia o caderno Trocando Olhares, é publicado o seu poema Crisântemos e, mais tarde, torna-se colaboradora do Jornal ‘Notícias de Évora’.

Em 1917, inscreve-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. É na sua estadia na capital que Florbela Espanca começa a entrar nos círculos culturais e literários, mantendo ligações com a burguesia, e frequentando locais onde só pessoas deste estatuto social tinham acesso. Ainda assim, passaria a não ser muito bem vista pela sociedade devido aos seus poemas e posturas amorosas.

Por isso, a poetisa não era idolatrada socialmente. Havia mesmo quem não a aceitasse muito bem nos salões sociais, mas foi lá também que cultivou grandes amizades. Pouco tempo depois de um aborto involuntário, o casamento de Florbela Espanca terminou, e a sociedade do seu tempo revoltou-se ainda mais contra a mulher que soltava erotismo, mas também muita mágoa e angústia, nos seus poemas. Afinal, uma mulher separada não era bem vista naquele tempo.

Casamento de Florbela

Os seus testemunhos literários vão tornando-se cada vez mais marcantes e, coincidência ou não, casa-se em 1921 com António Guimarães, começando a residir em Matosinhos. Comenta-se também que esta foi uma relação que já existia mesmo quando Florbela ainda estava casada, facto que chocou a sociedade.

Dois anos depois separa-se de António Guimarães, tempo depois de ter sido vítima de novo aborto. Em 1925, depois de ter ido viver para a casa de Mário Lage casa com ele, primeiro pelo civil, e só mais tarde pela igreja. Dois anos depois falece o seu irmão, facto que viria a abalar bastante a poetisa.

O casamento começa a deteriorar-se cada vez mais. A partir daqui, Florbela torna-se uma mulher ainda mais melancólica, sempre de mal com a vida e com o mundo, embora a sua carreira enquanto poetisa estivesse a correr bem. Mas, isso não bastava! A neurose começa então a ficar insuportável, e a poetisa dá sinais disso quando se tenta suicidar.

Em 1930, começa a escrever o seu ‘Diário do Último Ano’. Meses depois prepara-se para ser publicado o seu ‘Charneca em Flor’, mas mesmo assim Florbela tenta novo suicídio, uma vez mais em vão. Contudo, a 8 de Dezembro desse mesmo ano, em 1930, a poetisa consegue finalmente suicidar-se com Veronal.

Mas, a morte de Florbela Espanca tem suscitado muitas dúvidas: há quem diga que foi uma morte proporcionada por Florbela, tendo em conta os seus últimos escritos e as confissões a conhecidos, mas há também quem julgue que a morte foi provocada por uma mistura de medicamentos e que o Veronal foi o verdadeiro motivo da sua morte.

Recorde-se que pouco tempo antes tinha-lhe sido diagnosticado um edema pulmonar, facto que a perturbou ainda mais e agravou intensamente a sua doença e capacidades.

A par dos escritos literários de cariz erótico, dramático, apaixonadamente humanos, Florbela era uma mulher amargurada, triste, que sempre procurou um amor divino e aparentemente impossível. A morte do irmão abalou-a para sempre.

Os nervos aumentaram de intensidade, a escrita alterou-se mais para a prosa, e Florbela vivia mergulhada em medicamentos. Há mesmo quem afirme uma relação incestuosa entre Florbela e o irmão, embora outros afirmem que se tratava apenas de um forte carinho. Seja como for, esta mulher não teve uma vida banal e foram diversos os episódios que chocaram a sociedade, verdadeiros ou não.

Separada várias vezes, contando alguns adultérios, distante das manias luxuosas da burguesia, embora seguisse muito este estilo de vida, snob em alguma situações, levando uma vida boémia, sempre acompanhada por um cigarro, e colocando no papel, sem pudor, tudo o que lhe ia no íntimo, Florbela Espanca não era propriamente amada pela sociedade do seu tempo. Hoje, é uma das maiores poetisas portuguesas de todos os tempos!

Afinal o que ela apenas pretendia era:

‘Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar…Aqui…Além
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente…
Amar! Amar! E não amar Ninguém!.’

– excerto do poema Amar, escrito pouco tempo antes da sua morte. A 8 de Dezembro de 1930, dia do seu aniversário e do seu primeiro casamento, morre em Matosinhos Florbela Espanca. A mulher de ‘Desejos Vãos’, ‘Lágrimas Ocultas’, ‘Horas Rubras’, Ser Poeta’ ou de ‘Charneca em Flor’ podia, finalmente, descansar, em paz.

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