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Uma Feiticeira Chamada Sofia Ester

A feiticeira de Sofia Ester - Adozinda
A feiticeira de Sofia Ester - Adozinda

Ainda não conseguiu descobrir uma universidade de feitiçaria em Portugal, por isso criou uma, tal como a personagem que a frequenta. Apresentamos Sofia Ester e a sua amiga Adozinda. Sofia Ester tem 22 anos e um hobby muito sério: escrever. De resto, gosta das coisas que as outras pessoas também gostam, sair, passear com os amigos, ir ao cinema. A Mulher Portuguesa foi conversar com esta jovem escritora num dia soalheiro nos jardins da Gulbenkien, onde não faltou magia e alegria.

Sofia Ester

‘A Adozinda nasceu um pouco por acaso devido a duas razões e uma delas nem é nada romântica. Tinha de estudar para um teste de química, mas não me apetecia e comecei a fazer os desenhos do que futuramente viria a ser a Adozinda, sendo que depois nasceu a história em redor do desenho.

E tenho depois uma razão mais bonita. A minha primeira ambição profissional era ser uma feiticeira, para poder andar de vassoura, fazer magias e ter poderes, e então achei que se não posso ser uma feiticeira, porque não há escolas e como dizem que é preciso um dom especial e até agora não notei que tivesse dons especiais, como tal, que a Adozinda o possa ser’ comenta a autora.

Além disso, Sofia Ester achou necessário realizar um serviço de reabilitação dos feiticeiros: ‘acho que os feiticeiros sempre foram muito injustiçados pelas histórias. Nos contos de embalar a feiticeira é sempre a má da história, é uma senhora normalmente muito horrorosa. Quis criar uma feiticeira que fosse exactamente o contrário e que combatesse essa imagem, sendo jovem, bonita e divertida. A Adozinda foi a minha tentativa de salvar a imagem das feiticeiras, porque acho que é uma profissão como qualquer outra, e a Adozinda, embora jovem, é uma excelente profissional. E espero que tenha dado alguns frutos, e que as pessoas quando lerem a Adozinda digam: ‘aqui está uma feiticeira no bom sentido.’

E quisemos saber de onde vem a inspiração para uma feiticeira tão especial: ‘A inspiração tem duas parte distintas: uma delas é o facto de a Adozinda ser uma feiticeira, de voar de vassoura, do Zulmiro (o melhor amigo da feiticeira) também ser um feiticeiro, na Faculdade de Ciências Ocultas. Depois há outra parte que foi inspirada no mundo real e nas pessoas que estão à minha volta, nos problemas do ambiente, e neste último livro ‘Adozinda, A Faculdade das Ciências Ocultas’ retrato também o ambiente que se vive nas escolas, e em coisas que me aconteceram ou que vi acontecerem.’

No entanto, é também necessário um enorme gosto pela escrita para se deixar absorver pelas personagens, e Sofia Ester não foge à regra. ‘Gosto da escrita, foi algo que sempre esteve em mim. Lembro-me de quando era pequena, ainda não tínhamos computador na altura, apenas uma máquina de escrever cor de laranja, e eu costumava fazer desenhos e depois escrever histórias para os ilustrar.

Adozinda – A Faculdade de Ciências Ocultas

A Adozinda, foi o meu primeiro livro, escrito aos 15 anos. Comecei por fazer os desenhos e depois nasceu a história em redor destes, tendo sido o meu primeiro trabalho com consistência para ser um livro, porque os outros eram brincadeiras de criança. Das primeiras histórias já nem me lembro muito bem, tenho-as guardadas numa arca e de vez em quando vou recordar um pouco o que escrevi. Por vezes eram histórias de seres estranhos como fadas e bruxas. Outras tinham como personagens principais duas galinhas que os meus avós me ofereceram e que tinham na quinta onde moravam. Outras ainda eram com o meu peixinho vermelho. Era tudo acerca do que me rodeava.’

E embora os pais de Sofia nunca tenham incentivado muito a imaginação, apresentado sempre o mundo real tal como ele é, isso não impediu que procurasse livros e histórias de fantasia para alimentar a sua imaginação. Agora os pais aceitam muito bem o sucesso do livro de Sofia.

E depois do primeiro livro vieram os dois seguintes que fazem a continuação da colecção Adozinda. ‘ Quando escrevi o primeiro não estava preocupada com a continuação, mas depois de ter acabado o livro fiquei com muitas saudades das personagens, já estava muito ligada a elas e quis reencontrar-me com eles noutro livro. Foi assim que escrevi o segundo: ‘Adozinda e Zulmiro, A Magia da Adolescência’, e continuei ligada às personagens como se elas fizessem parte de mim.’

À questão acerca de se tratarem de livros sobre a adolescência, responde que não, embora a maioria das personagens sejam jovens. No entanto, têm sido considerados como livros para um público infanto-juvenil. ‘Mas quando escrevi o livro tentei que toda a gente o pudesse ler, quer fossem crianças, quer fossem jovens ou adultos. Acho que o livro é um pouco mais para adultos jovens e até adultos.’

Mas a luta para que o livro visse os escaparates das livrarias foi dura. ‘Como não tinha publicado nada antes, as editoras mostraram-se um pouco reticentes e cautelosas. Não tinha contactos no mundo editorial, nenhum dos meus familiares é escritor, nem lida com livros e o que fiz foi pegar nas páginas amarelas e escrever uma carta a todas as editoras. Alguns não responderam, outros responderam a dizer o que o livro não se enquadrava nos seus âmbitos e finalmente houve um que aceitou e o primeiro foi publicado em 1995.’ E o público aceitou tão bem o livro que ‘Adozinda’ já vai na sexta edição.

E continua: ‘Há uma apetência do público pela magia e parece-me que ainda há muito espaço para explorar este tema, inventaram-se novas personagens, porque creio que é uma área pouco explorada.’

Adozinda e Zulmiro – A Magia da Adolescência

Em poucas palavras classifica-se a personagem criada por Sofia Ester, pela própria autora: ‘é uma feiticeira, vai à escola como os outros meninos, tem 15 anos e desenha muito porque o seu objectivo é vir a tornar-se arquitecta. Em termos de personalidade é uma pessoa muito infantil, muito vaidosa e que gosta sempre de demonstrar que sabe fazer tudo, que é muito inteligente, mas na prática de vez em quando não se sai muito bem. E o Zulmiro é muito o contrário da Adozinda. É uma pessoa adulta e com enorme sensatez.’ No entanto, a autora não se identifica com nenhuma das personagens. ‘Não sou como a Adozinda porque não gosto de chamar a atenção das pessoas, porque ela é espalhafatosa, e não sou como o Zulmiro porque este é uma pessoa extremamente paciente e nunca se chateia com a Adozinda, tendo uma relação mais maternal. E eu não sou tão paciente como ele, de vez em quando também me irrito.

Para o futuro da pequena feiticeira não há ainda previsões. Quanto a Sofia Ester, está neste momento a completar o curso de Informática e Gestão de empresas no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa. E antes de terminarmos, quisemos que deixa-se uma mensagem para os leitores. ‘Que sejam todos muitos felizes e que haja muita magia na sua vida’.

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