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Violência doméstica ou pena de morte?

Violência doméstica

Mal pôde balbuciar queres que vá fazer queixa à polícia?… O tempo ia passando, os segundos pareciam minutos e estes eram longas horas. Virava-se e revirava-se na cama tentado dormir depois de um dia estafante de trabalho e violência.

Violência doméstica

Mas o sono não vinha. Ligava o televisor, pois a monotonia e programação desinteressante quase sempre lhe provocavam um torpor próximo do sono e era meio caminho andado para adormecer. Fechava a TV e esperançada esperava. Mas quando estava quase lá, soavam os roncos do parceiro deitado ao lado e o torpor não se transformava em sono, mas sim em espertina irritante e em raiva surda.

Tentava chamá-lo para que o som da sua voz interrompesse a “sinfonia”, mas o intervalo era curtissimo e logo retomado. Experimentava pequenos encontrões para que se virasse e o ar pudesse encontrar outra via para sair sem ser tão sonoramente.

Havia um rugir de ira e imobilidade hostil. Voltava a ligar o pequeno aparelho, sem som, para de novo tentar puxar o sono, mas o ciclo repetia-se. A vontade de pegar num travesseiro e colocá-lo sobre a proveniência do incomodativo e persistente ressonar, era forte. Desesperada tentou colocar o som na TV, mas apenas conseguiu ouvir recriminações.

Lembrou-se que, estando o relacionamento a desmoronar-se ele, o macho latino, fazia gala em se deitar e fazer todo o barulho possível ao deitar, ouvir a televisão bem alto, quando ela estava já a dormir e de manhã todo o ruído era aproveitado para a fazer acordar “porque eram horas”, quando ela não tinha afazeres especiais que a fizessem “ter hora” para se levantar.

Antes que a vontade de pegar na almofada fosse indestrutível, desistiu, levantou-se e, embora fossem 4 da manhã, foi arranjar-se e tomar o pequeno almoço ligando, em desafio, o televisor na cozinha.

Depois passou à casa de banho para a rotina diária. De repente abre-se a porta e irrompendo desgrenhado, de olhos injectados, de braço no ar, aos insultos aparece o macho e toca de puxar-lhe os cabelos, de atravessar a mão no ar raspando-a pela cara atordoada e, indefesa pela surpresa e rapidez da aparição, mal pôde balbuciar “queres que vá fazer queixa à polícia?”

A voz baixou, a mão caiu e contrafeito foi meter-se na cama.

Ainda bem que se assumiu e legislou a violência doméstica como crime público. Isto é, feita a queixa, não há forma de a retirar.

O medo é uma punição e faz pensar duas vezes.

Não poderia acontecer o mesmo se fosse estipulada a pena de morte para quem mata? Será que o criminoso não pensaria também duas vezes antes de o fazer? Será que a vítima poderia ter tempo de lho lembrar e salvar a sua e a vida dele?

Talvez até a lei pudesse explicitar que apenas seria aplicada depois de dois ou três pedidos de clemência e uma dúzia de recursos… e nunca vir a ser usada, mas a ameaça de castigo estava, de facto, lá.

Para quando o apoio e respeito pelo ser humano que é e poderá vir a ser vítima?

Maria de Portugal

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